“KEEPER OF DARKNESS” (“Tor dei gui mou yan”) Nick Cheung (2015) China


Este será mais um post em paralelo com o meu blog sobre cinema esquecido porque é inevitável visto estarmos a falar de um filme que irá passar ao lado de practicamente toda a gente.
É também o título perfeito para começarmos em grande este ano de 2017 aqui no blog.
Enquanto meio mundo há algum tempo atrás andava horrorizado a discutir quão mau era, ou iria ser o novo filme “Ghostbusters” eu descobria um dos filmes sobrenaturais mais surpreendentes dos últimos tempos, [“KEEPER OF DARKNESS”].

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E o que tem uma coisa a ver com a outra ? Bem…
Pessoalmente nunca hei de entender a fama de “Ghostbusters” e só encontro explicação para o sucesso por ter sido um dos filmes mais carregados de efeitos especiais a aparecer numa época em que os efeitos eram uma novidade nunca vista naqueles moldes e levavam muita gente ás salas só para verem raios e explosões animadas quanto baste pois os blockbusters modernos ainda estavam na sua infância e eram por isso uma novidade.
Nunca fui minimamente fascinado pelo franchise “Ghostbusters”, em 1984 não me disse grande coisa (mesmo tendo-o visto no cinema aos 14 anos) e para lá de achar o conceito muito original sempre detestei aqueles personagens.
O facto de hoje o filme tresandar ao pior dos anos 80 em termos de Hollywood ainda agravou mais o meu desprezo actual de todas as vezes que ao longo dos anos o tentei rever. Para mim “Ghostbusters” para mim sempre foi um franchising frustrante, pois sempre achei que haveria por ali algures uma boa história bem mais criativa para ser contada e há muito tempo que eu pensava que aquele conceito sobrenatural com fantasmas e caçadores de espíritos poderia ser algo divertido.
Por isso gostei agora tanto de [“KEEPER OF DARKNESS”]

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[“KEEPER OF DARKNESS”] é o “Ghostbusters” sério ( e a sério ) que eu sempre achei que deveria ter sido feito.
Não porque [“KEEPER OF DARKNESS”] envolva um grupo de “super-heróis” quotidianos que cacem fantasmas mas porque esta aventura Chinesa também é toda construída à volta da ideia de que partilhamos o nosso quotidiano com almas penadas; apenas não as conseguimos ver.
Nós não, mas algumas pessoas sim.
E [“KEEPER OF DARKNESS”] gira precisamente à volta de uma dessas pessoas; um tipo com capacidades –mediúnicas– que volta e meia vê-se envolvido em confrontos e exorcismos com todo o tipo de ectoplasmas chatos como o caraças que insistem em possuir ou assombrar o cidadão comum.

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Mas não pensem que o nosso herói aqui é uma espécie de versão masculina da personagem “Melinda Gordon” na série “Ghost Whisperers” empenhada em ajudar alminhas perdidas. Aqui o nosso exorcista de serviço – Fatt – tem conecções à máfia de rua de Hong-Kong, é amigo de um bando de vândalos mafiosos que percorrem as ruas “mafiando” ao mesmo tempo que tentam praticar algumas boas acções pelo caminho também; ( porque é bom para o Karma ) e vive com o fantasma de uma miúda que não quer partir “para o Outro-Lado” porque está apaixonada por ele e não quer ainda reencarnar.

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Tudo isto quando pelo meio de um par de exorcismos que correm de forma irregular Fatt detecta que apareceu nas ruas um novo espírito sedento de vingança e que pretende eliminar um por um todos os exorcistas das redondezas até chegar à pessoa responsável pela sua morte anos atrás num incêndio.
Para ajudar à festa, temos ainda o ajudante de Fatt, uma espécie de mafioso de quinta categoria em estilo-fashion-mete-nojo-hilariante mas que quer desesperadamente conseguir tornar-se também num exorcista e uma jornalista, que ao tentar desmascarar Fatt como impostor acaba por descobrir um mundo com que nunca sonhou e pelo meio apaixonar-se sem esperar. 
Mas há mais !

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Há mais, mas até já falei demais. Como sabem não gosto nada de contar as histórias dos filmes por aqui pois para mim um filme deverá ser visto sem saberem nada ou o mínimo sobre ele, mas desta vez precisava colocar a minha opinião dentro de um contexto concreto.
A verdade é que [“KEEPER OF DARKNESS”] tem mesmo um certo sabor a “Ghostbusters”, tanto nas cenas divertidas de exorcismo com os fantasmas, como na forma como usa a comédia com bom efeito até para fazer a narrativa avançar de um ponto a outro.

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Mas se [“KEEPER OF DARKNESS”] tem uma coisa absolutamente fascinante é o facto de conseguir equilibrar um monte de géneros dentro de uma só história e fazer tudo combinar sabe-se lá como !
Este filme numa questão de segundos consegue passar de uma comédia de efeitos especiais a drama pesado, consegue passar de cinema de aventura a cinema de terror ( com um par de bons arrepios pelo meio ), passa por um estilo blockbuster misturado com o cinema-de-Crime quando navega por ambientes com marginais mafiosos e ainda tem tempo para nos dar uma das melhores histórias de amor saídas do cinema chinês dos últimos anos.

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Aliás, se [“KEEPER OF DARKNESS”] funciona tão bem a todos os níveis e em todos os géneros que inclui no seu argumento desde o início é porque no seu coração está uma história de amor absolutamente divertida em modo fofinho oriental com dois protagonistas únicos.
Boas histórias de amor saídas do oriente normalmente partem do Japão ou da Coreia do Sul que tornaram o género quase numa forma de arte mas a China nunca conseguiu criar grande empatia quando tenta entrar por uma atmosfera de romance no seu cinema. 
Embora já tenha havido algumas excepções quando procuramos por cinema Chinês normalmente esperamos mais encontrar bons épicos históricos ou cinema de acção.

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Ora desta vez e tal como já aconteceu com “A TIME TO LOVE” ou “LOVE IN SPACE”, [“KEEPER OF DARKNESS”] acerta em cheio no coração emocional do filme. 
A história de amor entre Fatt e a fantasminha apaixonada que assombra o seu apartamento vai buscar o melhor do drama de “A time to Love” com a comédia contida mas romanticamente divertida de “Love in Space” e consegue momentos verdadeiramente atmosféricos que criam uma grande empatia com espectador e centralizam também todos os outros aspectos que compõem o filme.

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A fantasma pode ser fofinha mas ainda nos prega um susto valente ou dois bem colocados e o seu registo varia também entre a comédia e o drama algo angustiante por vezes numa questão de segundos, o que demonstra claramente que o realizador de [“KEEPER OF DARKNESS”] sabe muito bem o que está a fazer conseguido transportar o espectador ao longo da história numa verdadeira montanha russa de emoções inesperadas nos momentos mais inesperados também.

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[“KEEPER OF DARKNESS”] tem também um certo sabor ao cinema de Wong Kar Wai, o que só lhe fica bem neste caso. Não que a tentativa de homenagem a um certo estilo bem reconhecível seja por demais persistente mas nota-se aqui e ali a influencia do realizador de “In the Mood for Love” e isto sempre no melhor dos sentidos.
Quem gosta do cinema de Wong Kar Wai vai gostar deste filme por razões estéticas também. Aliás nem falta aqui Karina Lau, uma das actrizes recorrentes do cinema de Wai.
Se Wong Kar Wai um destes dias decidisse filmar algo bem mais comercial poderia inclusivamente criar a sequela para este filme pois o seu estilo iria enquadrar-se bastante bem.

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Acima de tudo estamos na presença de mais um filme com cenas espectaculares e montes de efeitos digitais que não se esquece do principal.
Os personagens e a humanização dos mesmos.
Se falha em alguma coisa será apenas no vilão pois a sua história ( e motivações ) no final acabam por parecer que não se integram tão bem quanto todo o resto do filme até ao desenlace final da aventura…

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Talvez por isso [“KEEPER OF DARKNESS”] seja um daqueles filmes com múltiplos finais, como se o realizador tivesse consciência de que parte de aventura nem sequer fosse o mais importante e resolvesse acabar a história do filme de uma forma mais humana.
A gente agradece.
 E o final “final” também é fixe.
Agora o que eu quero mesmo é uma sequela.

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CLASSIFICAÇÃO

Se procuram por cinema sobrenatural com almas penadas e um sabor a aventura urbana com um toque de terror, drama, comédia e uma excelente love story para rematar não vão mais longe.
 Ignorem as más reviews no IMDb pois como de costume foram postadas por americanos que se trocam todos quando não percebem de que género é um filme.
[“KEEPER OF DARKNESS”] é original, divertido, assustador, espectacular, dramático e tocante.
Tudo num único filme que resulta muito bem.

Cinco Tigelas de Noodles e um Gold Award


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Se calhar nem merece o Gold Award pois tem um par de falhas que lhe retira alguns pontos na história central envolvendo o vilão sobrenatural, mas a verdade é que este foi um dos filmes Chineses que mais me divertiu nos últimos anos.

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Comprei o Bluray na China ( região zero ) e acho que ainda gostei mais dele agora que o revi do que quando o vi pela primeira vez; pois da primeira vez a mistura de géneros pode deixar-nos um bocado aturdidos e impedir-nos de notarmos como [“KEEPER OF DARKNESS”] é realmente bom; por ser também algo único dentro do género.

A favor: a mistura entre géneros que funciona perfeitamente sabe-se lá como, o sentido de humor negro, a historia de amor, a química romantica dos protagonistas, as cenas assustadoras , a atmosfera sobrenatural, os personagens, a carga dramática , as cenas de acção, os efeitos especiais, mais uma vez a humanização dos personagens.

Contra: algum CGI podia ser melhor, a parte dramática ao redor do vilão parece algo deslocada do resto do filme e sente-se que está um bocadinho forçada para poder encaixar.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER
Nota:
o filme não é o blockbuster de acção que aparenta no trailer. É bem mais contido e intimista contrariamente ao espectáculo de efeitos que o trailer aparenta mostrar.

IMDb
http://www.imdb.com/title/tt5157030/

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“Feng shen bang” ( “League of Gods” ) Koan Hui (2016) China


O cinema de fantasia Chinês como [“LEAGUE OF GODS”] tem dois grandes problemas para conseguir vingar no ocidente; o primeiro problema está no total desconhecimento do público ocidental do que são os contos populares chineses de pura fantasia e da sua própria importância na história deste género. Isto porque quem conhece a literatura de fantasia chinesa que chegou cá ao longo dos anos essencialmente na forma de livros de contos sabe o quanto esta é incrivelmente rica em detalhes, ambientes, acontecimentos, acção e até bastante aventura onde não faltam “quests” variadas ao melhor estilo moderno.
[“LEAGUE OF GODS”] apesar de estar longe de ser um exemplo perfeito de uma certa maneira de ver o género da Fantasia, tem no entanto alguns pontos positivos dentro do cinema imaginativo Chinês.

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[“LEAGUE OF GODS”] o filme é novamente , ( tal como “A CHINESE TALL STORY” ou “THE MONKEY KING II” já tinham sido ) mais uma representação visual de outra narrativa épica da literatura clássica Chinesa e encontrará o seu público por cá no ocidente principalmente nos espectadores que tiveram a sorte de crescer lendo algumas boas lendas naqueles objectos que costumavamos chamar de livros e que as crianças dantes tinham nas mãos antes dos tablets.
Esse público não estranhará o facto do moderno cinema de Fantasia Chinês parecer andar sempre em modo histérico no que toca ao seu visual e á sua estrutura narrativa, pois só agora com a democratização do CGI é possível tornar “reais” muitas daquelas coisas que dantes só podíamos imaginar lendo as descrições nos contos populares porque estes eram tão detalhados que até há bem pouco tempo nem Hollywood se quisesse os conseguiria reproduzir fielmente. Foi preciso mesmo o digital ter surgido pois isto com matte paintings tradicionais e cenários de madeira nunca iria lá.
Mas este é também o segundo problema…

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O segundo problema está precisamente na estrutura deste tipo de versões cinematográficas que aos olhos do público ocidental parecerão sempre exageradas e totalmente sem nexo porque assentam numa narrativa levada ao extremo por cenas de acção e efeitos digitais num modo incrivelmente histérico que se tornará verdadeiramente insuportável numa questão de segundos para quem não estiver de todo habituado ao género.
E sim, o género da Fantasia Chinesa tem regras muito próprias.
Totalmente diferentes das da Fantasia ocidental bem mais contida mas também muito mais formulática em termos de conceitos visuais e por isso bem menos imaginativa.
No entanto pode até dizer-se que o cinema de Fantasia Chinês actualmente é tão rápido que faz coisas como a série “Transformers” do Michael Bay ( verdadeiramente um dos meus ódios de estimação ) parecerem cinema de autor para intelectuais de café.
[“LEAGUE OF GODS”] é no entanto um festival ( de “fake” )  CGI apresentado á velocidade da luz que poderá assustar muita gente que tentar ver este filme sem preparação contextual prévia.

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Curiosamente recentemente também o americano “GODS OF EGYPT”, um ( excelente ) filme de fantasia ocidental (neste género ) mas totalmente Hollywoodesco foi trucidado na crítica e na maior parte da opinião pública ( que como carneiros se limitaram a seguir a moda de ódio do momento na internet )  precisamente por apresentar um estilo bem longe daquele encontrado na Fantasia ocidental e muito, muito semelhante ao estilo Chinês; coisa que poucos compreenderam e muitos menos ainda conseguiram apreciar.
“GODS OF EGYPT” com aquele argumento só podia ter sido mesmo adaptado como se fosse um verdadeiro livro ilustrado oriental, mas muito pouca gente percebeu isso.
Na realidade “GODS OF EGYPT” na sua essência foi precisamente uma tentativa uma tentativa de descolar o género – Fantasia – produzido no ocidente da já muito cansada e estereotipada fórmula americana Dungeons & Dragons. Uma fórmula que há décadas não passa de uma cópia muito simplificada das estruturas narrativas originais que Tolkien popularizou nos seus livros; grupo de heróis, anão, feiticeiro, hobbits ou semelhantes, elfos e afins, rapariga mercenária, etc, etc, etc…
“GODS OF EGYPT” em vez disso optou por uma estrutura bem típica do conto de fadas oriental , longe de todos os clichés ocidentais e bem próximo da representação visual das Mil-e-Uma-Noites  numa representação moderna. Uma estrutura onde a acção é por demais acelerada a todo o instante porque só podia ser assim para resultar enquanto livro ilustrado cinematográfico no estilo oriental.
Não resultou, pois nem os críticos perceberam a origem da inspiração do realizador Alex Proyas, nem o público tinha qualquer referência que lhe permitisse perceber que um caos visual não tem necessariamente que ser um caos mal controlado, tal como se demonstra de certa forma até mesmo agora em [“LEAGUE OF GODS”] e já tinha ficado bem claro em “THE MONKEY KING II” ou “THE PROMISE”; ambos exemplos fabulosos de como o conto de fadas oriental pode também traduzir-se em excelentes propostas dentro da aventura de Fantasia.

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E ninguém controla melhor o caos cinematográfico actualmente dentro do cinema de Fantasia do que os Chineses que já se estão a tornar verdadeiros mestres num estilo de Fantasia ultra plástica ( em total modo “fake” verdadeiramente assumido ) mas com grande inventividade visual. Um estilo que não faz mais do que reproduzir finalmente todos aqueles ambientes esplendorosos e extravagantes que habitaram as páginas dos seus contos durante séculos sem fim e só agora finalmente graças ao ( excessivo ) uso de CGI podem finalmente ver a luz do dia em toda a sua glória.

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Os mesmos contos que, curiosamente inventaram o conceito que temos hoje dos super-heróis modernos.
Os “X-Men” podem ter aparecido nos Estados Unidos , mas a sua fórmula estava presente da forma moderna que conhecemos hoje em dia já nos contos populares da China de há muitos séculos atrás, mais precisamente no seu épico de fantasia “Journey to the West” que é assim uma espécie de “Lusíadas” Chinês e que engloba não só a narrativa central como também muitos contos paralelos dos quais [“LEAGUE OF GODS”] faz inclusivamente parte como se fosse uma lua orbitando um planeta.
Não é [“LEAGUE OF GODS”] que se parece com um filme dos X-MEN, são os X-MEN que muito provavelmente sem querer foram imaginados segundo arquétipos heróicos pertencentes a lendas tradicionais que inclusivamente já contam com muitas e muitas centenas de anos. Milhares até, no caso oriental.

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Uma das características mais fascinantes na literatura de Fantasia Chinesa, especialmente evidenciada nos seus contos, é o facto de em muitos momentos se parecer verdadeiramente com uma space-opera totalmente moderna ao melhor estilo Star Wars.
Por exemplo o clássico da literatura chinesa, “Journey to the West” está carregado de aventuras no espaço, naves espaciais que combatem com raios laser, criaturas mecânicas, “Vimanas” que percorrem os céus, cidades flutuantes que desafiam a gravidade e tudo o que vocês possam imaginar de mais tecnológico hoje em dia.
Tudo escrito há muito tempo atrás numa China totalmente distante.

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Muito público ocidental quando olha para um título como [“LEAGUE OF GODS”] não consegue mesmo passar para além do ataque sensorial que este provoca com visuais que não dão descanso aos olhos e sequências de acção que não dão descanso ao cérebro; tudo acompanhado com efeitos digitais que vão do pior ao melhor do que se faz hoje em dia numa questão de décimos de segundo não dando sequer tempo ao cérebro para processar o que está a ver.
Mas será isto um ponto negativo do cinema de Fantasia Chinês actual ?…
Porque é que o mesmo público que aguenta o pior de filmes como “Transformers” ou vazios absolutos e formuláticos como “X-Men” e pimbalhadas da Marvel ( até mesmo em Comics ) depois é o primeiro a acusar filmes como [“LEAGUE OF GODS”] de serem maus filmes ?
Apenas porque aparentam fazer o mesmo… mas com o triplo da velocidade, já são insuportáveis ?…
Ou será porque não são falados em inglês ?…

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Pode parecer insuportável mas contrariamente ao que acontece no cinema americano onde se encenam intermináveis cenas de lutas com robots gigantes em cenários quotidianos e desinspirados onde não há mais nada para ver a não ser porrada, filmes como [“LEAGUE OF GODS”] compensam plenamente a sua histérica estrutura com uma criatividade visual absolutamente excepcional.
[“LEAGUE OF GODS”] não é de todo tão bom quanto “THE MONKEY KING II” ou “THE PROMISE” foram e pede realmente que o espectador perceba as regras deste tipo de cinema ou chegue até ele sem ideias pré-concebidas para poder ser devidamente apreciado; mas pelo meio do seu “vazio” narrativo estão um conjunto de excelentes ideias que irão agradar a quem procura uma aventura de Fantasia com ambientes absolutamente inéditos. O que hoje em dia não é tão comum quanto isso.
[“LEAGUE OF GODS”] acima de tudo consegue uma coisa que o torna vencedor logo á partida.Consegue transportar-nos verdadeiramente para um outro mundo.

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Um mundo de Fantasia tão diferente do que estamos habituados e que irá fazer as delícias de quem procura uma aventura que se passe em geografias imaginárias onde cada cenário é uma surpresa e onde cada surpresa está carregada de tantos detalhes que só a uma segunda visão conseguirão saborear tudo o que a produção imaginou e colocou no écran.
Visualmente [“LEAGUE OF GODS”] é absolutamente um espanto e só por isso vale a pena espreitarem. Tem também um certo sabor a “THE NEVERENDING STORY” pois algumas paisagens poderiam pertencer ao mundo de “Fantasia” onde Bastian mergulhou, sem destoar de todo, o que só lhe fica bem. Será verdadeiramente um dos melhores “livros ilustrados” que já vi no cinema oriental.

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Está carregado de paisagens fabulosas, é muito variado nos cenários e inclusivamente tem uma das melhores fortalezas que alguma vez vi onde no segundo acto acontece uma das batalhas mais originais entre uma armada de naves espaciais invasoras e os defensores do castelo pela forma como as defesas da fortaleza actuam para destruir os invasores. Será talvez até a melhor parte da história e só é pena não durar mais.
É uma ideia fantástica carregada de imaginação na forma como está executada mas não posso revelar nada aqui para não estragar o filme a quem consiga chegar até essa parte sem desistir a meio.
Isto porque [“LEAGUE OF GODS”] pode ter muitas mais valias em termos criativos, mas é um filme que cansa !
Cansa mesmo !

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Até eu que adoro este estilo oriental de filmar Fantasia fiquei exausto de olhar para isto só na primeira hora.
Aliás, há muito tempo que isto não acontecia mas quando eu julgava que já tinham passado pelo menos duas horas de filme, descobri que [“LEAGUE OF GODS”] ainda nem sequer tinha chegado a meio !!
Neste aspecto faz lembrar tanto o primeiro “THE MONKEY KING” quanto o original “A CHINESE TALL STORY” que sofrem exactamente do mesmo mal.
É que acontece tanta coisa, mas tanta coisa , mas tanta, tanta coisa só na primeira hora que dava para encher toda a trilogia do THE HOBBIT e ainda sobrava.
O que cria uma estranha sensação no espectador pois parece que já estamos a ver o filme há séculos quando ainda nem sequer passaram 60 minutos desde que tudo começou.
Filmes como [“LEAGUE OF GODS”] são definitivamente a prova de que o tempo é mesmo relativo e quase que se podem realizar experiências de física quântica com eles.

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Portanto para mim é muito difícil classificar este filme.
Por um lado divertiu-me por completo em muitos aspectos, por outro é um filme dificil de recomendar a toda a gente pois muito público irá ficar bastante chocado ou extremamente exausto só nos primeiros dez minutos quando a aventura abre com uma cena de invasão e batalha a trezentos à hora e nos baralha por completo. Tudo se passa á velocidade da luz e o espectador não tem qualquer contexto para perceber bem onde raio está a história daquilo !! É como se tivessemos entrado a meio de um filme de Star Wars sem conhecer absolutamente nada sobre aquele universo e levar com sequências intermináveis de efeitos visuais sem contexto.
Habituem-se, pois o resto de [“LEAGUE OF GODS”] é ainda muito, muito pior neste campo. Se procuram por uma narrativa que lhes dá momentos para respirar e absorverem o que estão a ver, esqueçam. Não está nisto.
Se me perguntarem qual é  a história do filme neste momento não sei responder. Não me lembro absolutamente nada do que vi. Mete uma feiticeira e um tipo que voa, uns monstros e é isso…

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[“LEAGUE OF GODS”] sofre de uma gritante falta de ritmo narrativo porque se calhar tem ritmo a mais. Terá porrada a mais e exposição a menos. Bem que eles tentam explicar coisas ao mesmo tempo que entram por desenfreadas sequências de acção mas tudo é tão caótico que nem conseguimos prestar atenção nem á acção, nem á história, nem aos detalhes. A nada.
Por exemplo “GARM WARS: THE LAST DRUID” também recorreu à ideia de usar as cenas de porrada para contar bocados da história, mas ao menos nesse filme a coisa até resultou mais ou menos.  [“LEAGUE OF GODS”] bem tenta, mas não chega lá. São coisas a mais a acontecerem, ao mesmo tempo que o filme tenta contar uma história pelo meio de intermináveis efeitos CGI.
É aqui que [“LEAGUE OF GODS”] falha redondamente.
Está bem que isto tem a ver com o estilo Chinês de filmar Fantasia mas desta vez é por demais, pois até eu achei que esticaram a corda ao máximo. Se vocês não gostaram de “GODS OF EGYPT” por o considerar vazio, plástico e rápido demais é melhor nem sequer tentarem ver [“LEAGUE OF GODS”].
Mesmo.
Em certas alturas faz lembrar o pior de “WARRIORS OF ZU MOUNTAIN“, um dos primeiros filmes de Fantasia que modernizou o género, anos atrás.

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[“LEAGUE OF GODS”] tem outro problema…
Há por ali um dos personagens mais enervantes desde Jar-Jar-Binks… o bébé.
Este boneco é absolutamente insuportável e praticamente não serve para nada a não ser para depois “quando cresce”,  representar mais um “dos X-Men” nas sequências de acção.
Ainda por cima é protagonista de uma das cenas de porradaria digital mais inúteis alguma vez filmadas.
Trata-se de uma sequência de pancadaria passada no fundo do mar em que o bébé luta , usando peidos e bufas contra um exército de homens-sereia e caranguejos gigantes.
Eu disse, luta usando peidos e bufas.
A sério.

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É este o grande problema de [“LEAGUE OF GODS”].
Não está no facto de ser mau porque é um filme a duzentos á hora dentro do estilo do cinema de Fantasia Chinês. É mau porque apesar de controlar bem o caos no que toca ás partes de acção ( algumas são mesmo um espectáculo de adrenalina ), depois não sabe o que fazer com a história e com as cenas que deveriam ter servido para nos fazer interessar pelos personagens mas que na verdade não servem para nada.
Não há um único personagem interessante nesta história a não ser a feiticeira vilã que é um espectáculo !

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O resto são bonecos com tanto carisma quanto um gráfico da PS2 num daqueles jogos que mais ninguém joga.
Ou são inúteis e não servem para nada ou são simplesmente irritantes e não servem para nada; ( os dois bébés digitais… só á estalada por exemplo )…
Excepção para a planta faladora que é engraçada e poderia ter salvo o filme mas não lhe dão suficiente destaque.

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Outra coisa curiosa nesta aventura é a constante mudança de tom. Ora estamos a ver um filme de acção e Fantasia em modo -sério- ora entra por um estilo de desenho animado que mais parece saído de um cartoon Warner Bros com o Road Runner.E quando o melhor personagem de [“LEAGUE OF GODS”] é a centopeia do deserto que aparece a meio da história tentando mastigar os herois quando estes cruzam um deserto, algo está realmente errado com este argumento.

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Essencialmente estamos na presença de uma aventura que até dentro do próprio género a que pertence poderia ter saído melhor.
Tem muita coisa excelente mas depois o resto complica um bocado o resultado e como tal não é mesmo tão bom quanto deveria ter sido. Ou se calhar é… estou totalmente confuso.
Ainda por cima o filme termina com a história a meio e vamos ter sequela para completar a aventura que fica completamente pendurada precisamente no melhor.

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CLASSIFICAÇÃO



[“LEAGUE OF GODS”] por um lado é divertido e se vocês gostam do estilo Chinês de filmar Fantasia é imperdível; por outro se não gostam, ou não conhecem, se calhar eu começaria antes por “THE MONKEY KING II” ou “THE PROMISE” antes de passarem a este…
Pessoal com epilepsia é melhor nem tentarem ver isto…
ou qualquer filme de Fantasia Chinês…

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Parece-se bastante com uma versão moderna de “A CHINESE TALL STORY”; o estilo é semelhante, o caos também; apenas tem efeitos digitais superiores.
Quem detestou “GODS OF EGYPT” abstenha-se por completo.
Não irá encontrar qualquer coisa positiva neste título e muito menos irá compreender porquê precisa deste estilo para se enquadrar bem no género que representa.

Três tigelas de noodles.

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Provavelmente até merece quatro apesar de tudo ( e dentro de um certo contexto ), mas para já fico por aqui, até porque isto vai ter uma sequela e portanto quando eu tiver oportunidade de conseguir ver a história completa logo repensarei a minha classificação.
Para já se procuram cinema de Fantasia diferente [“LEAGUE OF GODS”] é um bom filme e apesar das suas muitas falhas irá divertir quem procura entrar verdadeiramente num mundo que nunca visitou.

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Tem alguns momentos de acção excelentes. Outros nem por isso.
Mas visualmente é realmente um espectáculo.
Quem também julga o cinema pela qualidade dos efeitos especiais não irá gostar disto, pois varia entre o espantoso e o atroz numa questão de segundos e pode baralhar muita gente que não compreenderá que [“LEAGUE OF GODS”] é supostamente um livro ilustrado digitalmente e precisa dessa artificialidade para resultar.

A Favor: transporta-nos mesmo para um mundo que nunca vimos, as geografias imaginárias são fabulosas a fazer lembrar o melhor de “THE NEVERENDING STORY”, algumas sequências de acção e efeitos são geniais, a realização tem alguns momentos fantásticos na forma como gere todo o caos digital e consegue manter um bom espírito de aventura clássica, o design do filme é absolutamente do outro mundo desde o guarda roupa ao adereços tudo é incrível e muito imaginativo, boa banda sonora também, as naves, os palácios, os montes, os vales, tudo o que aparece no écran a todo o instante.

Contra: os personagens são um vazio absoluto, tenta contar uma história com demasiado caos pelo meio e em muitas partes do filme a coisa não funciona de todo, parece três vezes maior do que é porque mete tanta coisa a acontecer que quase nem queremos acreditar no que vemos quando ainda nem passou uma hora de filme, tem personagens absolutamente irritantes como os bebés que não servem para nada, tem pelo menos uma sequência de porrada digital totalmente inútil debaixo de água, o bébé vence um exército utilizando peidos e bufas debaixo de água, fica a meio quando acaba e não conclui absolutamente nada. Sinceramente acho que nem conseguiria resumir a história se me lembrasse dela…

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER CHINES

TRAILER OCIDENTAL

COMPRAR BLURAY
Não o compram pois não está ainda á venda, mas podem encontrá-lo aqui.

IMDb
http://www.imdb.com/title/tt5481184

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“Busanhaeng” (“Train To Busan”) Sang-ho Yeon (2016) Coreia do Sul


O que se pode dizer de mais um filme de zombies que ainda não tenha sido dito sobre o género ?…
Bem para começar, [“TRAIN TO BUSAN”] terá sido o primeiro filme com mortos-vivos a sair de Cannes com uma reputação melhor do que a que tinha quando chegou ao festival e agora que Hollywood vai fazer um remake disto; ( para quê ?!!! ), recomendo vivamente que o procurem e vejam-no quanto antes.
E sim, é tão bom quanto parece no trailer.
Aliás, é melhor.

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É verdade, o que se pode dizer de mais um filme de zombies que ainda não tenha sido dito sobre o género ?…
Bem sobre [“TRAIN TO BUSAN”] pode dizer-se que não tem um pingo de originalidade no conceito, pois obviamente que todos nós já vimos isto milhões de vezes antes mas conta logo á partida com uma coisa que o cinema oriental sabe fazer muito bem e que o difere de todos os plásticos que Hollywood poderá produzir quando aparecer o inevitável remake
[“TRAIN TO BUSAN”] tem personagens verdadeiramente cativantes.

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Como habitualmente no cinema oriental, nem o caos de uma história como esta, nem o monte de efeitos especiais que isto mete faz com que a pirotecnia se sobreponha aquilo que importa. Os personagens.
Contrariamente ao que acontece normalmente no cinema espectáculo de Hollywood onde os bonecos estão lá apenas para enquadrar as cenas de porrada, efeitos e acção, em [“TRAIN TO BUSAN”] são as cenas de porrada, os efeitos e a acção que enquadram um grupo de pessoas.
Pessoas com que começamos por nem ter grande empatia, mas que sabe-se lá como a meio do filme já estamos realmente a torcer pelas suas histórias pessoais.
Em alguns momentos isto faz lembrar inclusivamente outro grande filme de monstros Sul Coreano, o excelente “THE HOST” de que já falei por aqui há alguns anos.

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[“TRAIN TO BUSAN”] não tem absolutamente nada de original a não ser o facto de ser cinema puramente oriental precisamente na forma como consegue humanizar cada uma daquelas pessoas que acompanhamos e talvez tenha sido por isso que causou tanto impacto em Cannes, pois o público ocidental não está habituado a acompanhar personagens bem construídos neste tipo de cinema saído de Hollywood e por isso terá ficado bastante surpreendido.
[“TRAIN TO BUSAN”] é um daqueles filmes que quando acaba nos deixa completamente exaustos psicológicamente e mais do que torcermos pelos heróis da história , torcemos pela história daquelas pessoas que a meio do filme esquecemos por completo que são ficção.

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Estranhamente [“TRAIN TO BUSAN”] irá agradar até a quem se calhar não gosta de filmes com zombies, especialmente se essas pessoas tiverem visto e adorado outro filme Sul Coreano fabuloso, o drama “HOPE”. Quem gostou de “HOPE” irá gostar deste; apenas este mete mortos vivos pelo meio.
Á primeira vista podem não ter nada a ver mas [“TRAIN TO BUSAN”] cria exactamente o mesmo tipo de empatia que aquela outra história também sobre pai e filha conseguiu criar em toda a gente que apanhou com ela de surpresa quando saiu e a tornou já no filme de culto oriental que é.
Portanto meus amigos, mesmo que os mortos vivos não sejam a vossa coisa favorita, se calhar eu espreitava quanto antes [“TRAIN TO BUSAN”].
Especialmente antes de Hollywood vomitar cá para fora mais um remake atroz de outro filme oriental e os trailers gringos lhes estragarem o suspense todo.
Não percam [“TRAIN TO BUSAN”] enquanto este ainda é único.

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Consta que este filme já se tornou no maior êxito comercial de todos os tempos por aquelas bandas da Coreia do Sul o que só demonstra que para algo assim ter acontecido, [“TRAIN TO BUSAN”] tem mesmo que ter muito mais conteúdo e conseguir criar mais empatia do que se apenas fosse o típico filme de zombies em que toda a gente passa o tempo todo a correr de mortos vivos.
E mais uma vez, [“TRAIN TO BUSAN”] não tem nada de original. 
A sua originalidade está na empatia que cria pois ficamos mesmo a gostar dos personagens.

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[“TRAIN TO BUSAN”] é capaz de ter sido dos filmes com mais adrenalina que vi pelo menos nos últimos dois anos dentro de um certo tipo de thriller.
É o tipo de filme que nos deixa a tremer por todos os lados com cada situação que apresenta. Não só pela forma como a montagem cria uma sensação de claustrofobia fantástica mesmo em espaços abertos como principalmente na forma variada como apresenta e inventa situações de nos fazer roer o sofá de uma ponta á outra pois nunca temos bem a certeza se alguém irá morrer a seguir.

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Até porque depois [“TRAIN TO BUSAN”] também não é propriamente politicamente correcto.
Aposto tudo o que vocês quiserem em como Hollywood quando refizer isto, irá sem qualquer sombra de dúvida mudar o final, porque os americanos não irão aguentar o contexto dramático verdadeiramente intenso desta história e que mais uma vez a distingue do habitual.

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[“TRAIN TO BUSAN”] é um excelente cruzamento entre, a adrenalina de “SNOWPIERCER” ou de “THE TERROR LIVE“, o contexto de “THE HOST” ( curiosamente ambos do mesmo realizador ), o suspense de “MIDNIGHT FM” , a tensão de “FLU” e a empatia de “HOPE”; apenas mete mortos vivos á mistura.
Se gostaram de qualquer um dos filmes que mencionei atrás, irão gostar de [“TRAIN TO BUSAN”] porque tal como em todos esses filmes também o espectador nunca tem bem a certeza do que irá ver a seguir.
É essa a grande mais valia de [“TRAIN TO BUSAN”].
Numa história já vista mil vezes consegue ser imprevisível em muitos aspectos, especialmente a nível de destino de personagens.
Não se livra dos clichés é certo, mas esses vêem inevitavelmente por arrasto com a fórmula deste tipo de filmes com mortos vivos e se fossem evitados [“TRAIN TO BUSAN”] já não seria um verdadeiro filme de zombies.

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Tal como aconteceu quando o muito intenso “28 Days Later” de Danny Boyle estreou anos atrás, irá haver gente que acusará [“TRAIN TO BUSAN”] de não ser um verdadeiro filme de mortos vivos porque também aqui estes mortos correm como o raio e não andam feitos estúpidos em modo … ehm, zombie em câmera lenta pelos cenários.
Estes mortos estão muito vivos, extremamente activos e incrivelmente raivosos o que dá a [“TRAIN TO BUSAN”] uma adrenalina raramente encontrada no género.

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Não só a realização é fantástica pois todo o ritmo narrativo está excepcionalmente bem cozinhado para nos ir perturbando apenas quanto baste antes de nos jogar com baldes de adrenalina em cima, como [“TRAIN TO BUSAN”] nem precisa de pregar sustos com SOM ALTO para meter medo.
Aliás, este filme não recorre a nenhum desses truques baratos, porque nem precisa.
A meio da história já estamos tão arrepiados com o sobe e desce dos níveis de adrenalina que qualquer coisa nos assusta.
Nem o filme precisa de ser particularmente gore embora não fuja dele.

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Curiosamente [“TRAIN TO BUSAN”] não é mesmo muito gore.
Consegue assustar e meter impressão sem precisar de meter propriamente nojo e por isso nunca abusa dos efeitos prostéticos ao contrário do que costumamos ver neste tipo de cinema hoje em dia.
 Não precisa.
[“TRAIN TO BUSAN”] tem uma coisa diferente. Não sei se terão contratado contorcionistas para alguns papeis de zombies mas a expressão corporal destes mortos vivos é não só completamente original como extraordinariamente expressiva.
Muitos deles arrepiam-nos só com os movimentos que fazem.
[“TRAIN TO BUSAN”] tem definitivamente uma das melhores coreografias no que toca a movimento de multidões que vi ultimamente neste tipo de cinema.

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É também o filme perfeito para quem ficou muito decepcionado com aquele vazio chamado “World War – Z” ( talvez uma das piores adaptações de um bom livro de sempre também ).
Brad Pitt não entra nisto, nem precisa.
Um bom filme de mortos vivos só precisa de criatividade nas situações e de saber como provocar grande adrenalina no espectador. Nesse campo mais do que meter medo [“TRAIN TO BUSAN”] mete-nos os nervos em franja até mais com o que imaginamos do que com aquilo que vemos e essa subjectividade é aquilo que fará sempre um bom filme de terror.

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CLASSIFICAÇÃO

[“TRAIN TO BUSAN”] é obrigatório se gostam de filmes com zombies.
Já viram isto mil vezes mas se calhar ainda tem muita coisa que não viram.
Se para vocês o cinema de terror tem que ter mais coisas para mostrar do que apenas coisas que metem medo então vão adorar a empatia que cria com os personagens ao melhor estilo que só o cinema oriental é capaz de nos dar.

Cinco Tigelas de Noodles e um Gold Award


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Pode não ser um daqueles filmes para rever muitas vezes, pode já nem ter suspense á segunda vez que o virmos, mas da primeira é uma verdadeira montanha-russa emocional e de adrenalina que diverte do princípio ao fim e não precisa mais do que isso para ser excelente.

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A Favor: a adrenalina que provoca, o suspense, não é politicamente correcto, as cenas de acção, a humanização dos personagens, a criancinha actriz é fantástica, intercala de forma excelente o drama com o thriller de zombies.

Contra: já viram isto mil vezes em termos de conceito. Vai ter remake americano sabe-se lá para quê…

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

COMPRAR
Está em pre-order na amazon uk. Sai em bluray no mês de Fevereiro.
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IMDb

http://www.imdb.com/title/tt5700672

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E se gostaram deste não vão querer perder:
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“CITY OF LIFE AND DEATH” ( “Nanjing! Nanjing!”) Chan Lu (2010) CHINA


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“Warning: This film hurts”

Começa assim uma review no IMDb para [“City of Life and Death”] e provavelmente deveria ter sido esta a tagline oficial do filme, pois essencialmente a frase resume tudo.
Não podia ter havido melhor filme para eu regressar aqui ao blog depois de alguns meses de pausa e também para comemorar ter ultrapassado as 400.000 leituras; mas [“City of Life and Death”] está a revelar-se ser uma das reviews mais difíceis de escrever que já coloquei aqui nestes anos todos, pois é realmente um daqueles filmes que tem que ser visto.

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Se espreitarem abaixo a minha classificação final para este título vão encontrar uma nota máxima excedida com mais um Gold Award do que costumo atribuir quando um filme para mim rebenta a escala.
Tenho a certeza que não irão voltar a encontrar uma nota assim por aqui tão cedo pois não me deparo todos os dias com filmes assim.
Na verdade acho que nunca tinha visto nada como isto e já perdi a conta aos dramas sobre guerra que me passaram pela frente. Aliás tendo em conta que isto é um filme de 2010 ainda me pergunto como raio [“City of Life and Death”] me passou completamente ao lado. Só o vi agora porque encontrei o bluray na amazon Uk bem baratinho e resolvi espreitar sem saber nada sobre o filme. Mal sabia eu o que me ia cair em cima.

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[“City of Life and Death”] é para mim o melhor filme que até hoje recomendei neste blog sem qualquer sombra de dúvida. Se eu medir a minha admiração pelo cinema através do impacto que um título me provoca, (seja pela parte técnica, pela história e tudo mais), então este terá sido o filme que mais me marcou talvez nas últimas décadas e não estava nada á espera disto.
Não me lembro da última vez que vi um filme que tivesse transmitido uma empatia tão grande e criado uma tensão tal, a ponto de a meio eu ter que fazer uma pausa para poder respirar e aconteceu agora com [“City of Life and Death”].

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O filme narra os acontecimentos que levaram á devastação da cidade de Nanking em 1937 quando o sul da China foi invadido por tropas Japonesas com intenções expansionistas e é apenas baseado em relatos de sobreviventes, nos diários deixados pelos protagonistas da verdadeira história e na recriação das imagens documentais mais importantes que se conhece dos filmes contrabandeados na época para fora da região por membros do partido Nazi chocados com o massacre que ocorreu. Sim, Nazis chocados com o que viram.
Se nunca ouviram falar no tema, aposto que só com esta, ficaram curiosos.

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[“City of Life and Death”] recria umas boas dezenas de momentos dramáticos e de horror que se sucediam em Nanking quando um par de comandantes Japoneses decidiram exterminar toda a população com requintes de tortura que, dizem os Historiadores nem os próprios Nazis conseguiram igualar; isto porque os Alemães criaram um sistema de extermínio sistematizado enquanto que os Japoneses mataram tudo o que lhes aparecia pela frente sem qualquer critério e com requintes de tortura inimagináveis até para o III Reich na altura.

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Curiosamente a história do massacre de Nanking não é de perto nem de longe tão conhecido como tudo o que envolveu os campos de concentração Alemães, talvez porque a realidade inacreditável do que por lá se passou tenha chegado primeiro aos olhos de Hitler; mas isto são pormenores que recomendo vivamente que se interessem por conhecer vendo pelo os bons documentários que existem sobre o assunto ( e mais um par de filmes de que irei falar em breve também por aqui).

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[“City of Life and Death”] tem a intenção de recriar apenas os relatos dos sobreviventes (vítimas e agressores) concentrando a narrativa num grupo de personagens baseados em pessoas reais sempre que possível embora juntando também alguns testemunhos compostos noutros mais secundários de forma a poder reproduzir o mais fielmente possível visualmente toda a tragédia absolutamente inacreditável que se passou em seis semanas de terror que tenho a certeza fará até muito adepto de cinema de horror se afundar na cadeira quando vir o que foi conseguido neste filme em termos de crueldade. Especialmente se depois compararem algumas das imagens recriadas em [“City of Life and Death”] com as imagens filmadas na altura; isto porque inclusivamente os Japoneses tinham por hábito filmar tudo o que faziam e portanto filme da época para recriar é coisa que nunca faltou. O problema foi mesmo decidir o que incluir no filme.

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Por causa disso [“City of Life and Death”] é uma história com uma narrativa que inicialmente se estranha mas depois já não conseguimos largar. [“City of Life and Death”] é essencialmente contado sempre que possível por imagens, pela recriação dos eventos e só quando mesmo necessário é que os diálogos são usados.
Desenganem-se quem pensar que isto é um qualquer exercício estilístico de cinema de autor armado em inteligente. [“City of Life and Death”] apenas não segue uma estrutura comum para uma história de cinema porque não se quer parecer com uma história de cinema. Muito menos quer ser cinema americano.

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[“City of Life and Death”] quer parecer-se com uma máquina do tempo.
Quer chocar o espectador até à medula.
Não pelo choque gratuito apenas porque sim mas para nos fazer prestar uma atenção diferente daquela que teríamos prestado se estivéssemos apenas a ver um dos bons documentários que há sobre o tema e distanciados no conforto do sofá de algo que aconteceu há mais de meio século.
[“City of Life and Death”] quer quebrar a distância que há entre o espectador e um produto visual.

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[“City of Life and Death”] quis transformar-nos a todos em testemunhas.
Como se tivéssemos viajado no tempo e estivéssemos lá presentes em Nanking quando o Japão cometeu atrocidades que fazem um filme do SAW parecer um conto da Disney, mas sem podermos fazer nada para mudar a história.
Se o cinema é uma máquina do tempo provavelmente [“City of Life and Death”] será uma das mais incríveis viagens que realizou em muitos anos no que toca a colocar o espectador no local do acontecimento.

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E consegue. Nas suas duas horas e meia faz-nos esquecer por completo que estamos a ver cinema. Para começar foi todo filmado a preto e branco com vários níveis de grão e tratamento de imagem dependendo do que pretendia mostrar para de uma forma subliminar criar no espectador todo o tipo de reacções viscerais aquilo que mostra sem pudores.
Depois apesar de ter uma estrutura aparentemente episódica consegue ligar cada personagem de uma forma absolutamente notável o que nos transmite uma perspectiva global sobre tudo o que aconteceu sempre com a intenção de ser o mais fiel aos documentos e testemunhos em que se baseia, mesmo quando usa um par de personagens “fíciticios” para poder condensar os acontecimentos num momento ou dois.

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Talvez por isso [“City of Life and Death”] ao contrário do que muita gente na China esperava e apesar do horror inacreditável que os personagens Japoneses infligem em toda a cidade, estes não são apresentados apenas como monstros. Os Japoneses aqui não são vilões de um filme de guerra ou tortura; [“City of Life and Death”] apresenta os monstros que há na humanidade mas também joga com a humanidade que pode haver num monstro. O que não caiu nada bem, tendo inclusivamente o realizador e família sido alvo de ameaças de morte na China por ter tido a coragem de mostrar todos os personagens como seres humanos e não apenas como heróis ou vilões.
O filme quase que foi impedido de estrear mas foi salvo por um próprio membro do Partido Comunista que o apoiou dentro do Governo.
O filme saiu e segundo li foi um sucesso incrível de bilheteira por todo o lado.
Todo o lado excepto no ocidente claro, pois não foi distribuído por Hollywood, então não existiu claro. Muito menos em Portugal.
Muita gente na China ficou chocada pelo filme mostrar Japoneses com sentimentos quando a ferida Nanking ainda é algo totalmente contemporâneo no país.

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Não só o realizador na China, como os actores Japoneses foram alvo de ameaças de morte. Isto porque no Japão existe ainda hoje em dia uma corrente ultra-nacionalista que venera os assassinos de Nanking como heróis nacionais e semi-deuses e não gostaram nada de ver um filme como [“City of Life and Death”] ser o sucesso que parece ter sido por toda a ásia, excepto no Japão onde continua ainda proibido, porque oficialmente o massacre de Nanking pelos Japoneses nunca aconteceu e inclusivamente está totalmente banido dos livros de história. Nenhum aluno liceal no Japão alguma vez conhecerá de forma oficial o que o seu país fez décadas atrás porque tudo o que se refere a Nanking está simplesmente apagado da memória popular desde á décadas, excepto nos templos que foram eregidos aos comandantes – herois – que foram elevados a estatuto de semi-deuses no Japão apesar de tudo o que se passou.

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[“City of Life and Death”] levou 4 anos a ser filmado e foi uma verdadeira odisseia em termos de produção. Para começar os actores Japoneses que aceitaram participar no projecto tiveram a sua vida complicada , quase ao ponto de terem sido proibidos de sair do país para trabalharem no filme. A coisa só não se complicou mais porque o governo Japonês teve a inteligência de não agitar muito o assunto publicamente para que o tema Nanking não fosse de repente alvo de atenção dos media locais.
Nenhum actor Japonês de topo aceitou participar no filme; uns porque tiveram medo, outros porque foram proibidos de o fazer pelos próprios agentes.
Todos os actores Japoneses em [“City of Life and Death”] eram até este filme sair, actores de segunda linha, principiantes ou figuras televisivas mais ou menos anónimas. O que não se nota, pois as suas prestações são absolutamente geniais.

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Do lado Chinês, [“City of Life and Death”] tem a particularidade de ter contado com 20.000 voluntários que se prontificaram a entrar no filme. Sim, leram bem.
20.000 voluntários entre estudantes universitários e população anónima que quis entrar na produção em homenagem a tudo o que se passou décadas atrás; o que como imaginam deu ao realizador material humano mais que suficiente para encenar cenas de massacres que não lhes irão sair tão cedo da memória.
Quando em [“City of Life and Death”] virem cenas com milhares de pessoas no écran, não são efeitos especiais, nem é CGI.
É simplesmente incrível e assustador quando nos lembramos que [“City of Life and Death”] recria factos reais que podemos depois comparar nos documentários.
Como por exemplo os três dias em que os Japoneses assassinaram 300.000 pessoas de seguida, fuzilando, decapitando, queimando e enterrando vivos todos os soldados Chineses capturados a quando da invasão inicial da cidade.
E isto foi apenas o começo.
O pior veio mesmo depois. Não em número mas em horror.

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Já vi muito cinema pesado, mas acho que nunca tinha visto cenas de violação como [“City of Life and Death”] nos mostra.
Eu pensava que as cenas de violação em “Ensaio sobre a Cegueira” baseado no livro de Saramago eram potentes até ver isto há dois dias.
Eu que sou essencialmente imune a filmes de terror ultra violentos, tive que fazer uma pausa a meio do filme para tentar assimilar o que via e dizer a mim próprio que isto era apenas cinema. Mesmo baseado numa realidade… apenas cinema…

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Sinceramente não sei se muitas espectadoras aguentarão passar do meio de um filme como  [“City of Life and Death”] a partir do momento em que se foca nas cenas de violações com mulheres e crianças. Não é pela forma explícita do que mostra, mas pelo incrível aspecto psicológico do que envolve essas sequências que são tudo menos cenas politicamente correctas e principalmente porque a história vai construíndo subliminarmente o suspense até rebentar de uma forma ainda mais grotesca do que poderiamos estar á espera.
Não posso explicar isto melhor sem estragar o impacto dessa parte da história, mas quero deixar aqui o aviso ao público feminino pois duvido que alguma vez tenham visto algo no contexto em que [“City of Life and Death”] encena todas as incríveis cenas de violação. Não mostra as 20.000 mulheres que a História registou como vítimas mas também não mostra apenas uma ou duas…
Quem se impressione facilmente, avance com cuidado seja de que género for.

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Aliás quase parece mentira mas [“City of Life and Death”] está censurado.
O Governo Chinês até mais do que proibir , pediu ao realizador que não incluísse tudo o que estava nas filmagens originais da época, pois acharam que se o filme fosse demasiado minucioso politicamente ainda hoje em dia a coisa podia dar para o torto.
Por essa razão [“City of Life and Death”] não inclui o duelo de decapitações que dois comandantes Japoneses fizeram durante dois dias onde decapitaram cada um mais de 100 pessoas; homens, mulheres e crianças  para ver quem matava mais Chineses num curto espaço de tempo.
Essas cenas foram filmadas mas não foram incluídas na montagem final.

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E [“City of Life and Death”] também não inclui as partes de violação das mulheres grávidas que depois foram esquartejadas e cujo as barrigas foram abertas para que os bebés fossem retirados e decepados na hora como se fossem carne para um talho pelos soldados Japoneses.
Essas nem sequer foram filmadas, porque o próprio elenco não aguentava.
Mas não pensem que [“City of Life and Death”] é um filme mais suave por não incluir essas partes.
As sequências em que os soldados vagueiam pelas ruas e invadem as casas à procura de sexo constante sem olhar a meios e ao que fazem ás mulheres e crianças , são suficientes para que muita gente desista pura e simplesmente de acompanhar a história até ao final. [“City of Life and Death”] volto a dizer, acredito ser um filme particularmente duro para o público feminino.

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“Warning: This film hurts” – Acreditem que sim.
[“City of Life and Death”] é duro. Tão duro que mais provavelmente irão estar tão chocados com o que testemunham que mal se lembrarão de respirar; quanto mais ainda ter tempo para derramar lágrimas. Não é um daqueles para chorar baba-e-ranho pela simples razão de que para ter vontade de chorar precisamos de estar a respirar em condições…
O filma magoa de formas como eu não me lembro de ter visto… talvez nunca numa produção de cinema. Precisamente porque não se sente como sendo um filme.
A tal ponto que alguns actores tiveram acompanhamento de psiquiatras no set,  durante as filmagens e tudo teve de ser espaçado a intervalos que permitissem uma descompressão para que os intervenientes na produção pudessem respirar o mundo real por momentos. Inclusivamente houve pessoas que desistiram pois não aguentaram e precisaram simplesmente de se afastar definitivamente.

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Mas se [“City of Life and Death”] é algo tão dificil assim, porque razão deve o leitor querer ver este título ?
Para além do que representa em termos históricos todo o acontecimento, [“City of Life and Death”] visualmente é um filme incrível. Até mesmo representando um horror inimaginável consegue estar cheio de imagens lindíssimas do ponto de vista cinematográfico.
Terá talvez a melhor fotografia a preto-e-branco desde Casablanca ou Manhattan , se não for até melhor e um estilo narrativo que torna o filme numa verdadeira experiência emocional interactiva.
Está cheio de personagens inesquecíveis, momentos humanos fabulosos e ainda um par de histórias de amor a sério sem Hollywoodices à mistura. Além disso tem um final que posso dizer aqui sem spoilers, é positivo e portanto não irão sair de [“City of Life and Death”] chocados apenas porque sim. O filme pode ser negro mas tudo aponta para uma luz ao fundo do túnel que irão sentir plenamente satisfatória quando lerem nos créditos finais sobre o que aconteceu a cada uma das pessoas.

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Irão sair de [“City of Life and Death”] a pensar e irão pensar neste filme e em tudo o que representa por dias e dias a fio. Até porque tendo em conta o que se passa hoje em dia no nosso próprio mundo , isto é tudo menos ficção em muitos aspectos.
Além disso como eu já disse, [“City of Life and Death”] não é um torture-porn de forma alguma. Tudo tem um propósito.
É mil vezes mais assustador do que praticamente tudo o que vocês viram até hoje no suposto cinema de terror gringo sem sombra de dúvida, vão torcer-se todos nas cadeiras mas duvido que consigam tirar os olhos do écran.
Especialmente se já conhecem os documentários ou já leram algo sobre o assunto.

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Está cheio de actores orientais com prestações incríveis, figurantes absolutamente perfeitos e conta ainda com um pequeno grupo de actores ocidentais que interpretam os médicos, jornalistas, diplomatas e pessoal que rodeava o empresário Nazi que no meio de todo o caos acabou por salvar também a vida a mais de 200.000 chineses; embora  [“City of Life and Death”] não seja exactamente sobre este pormenor pois é algo já bastante focado noutras produções mas nem por isso limita as interpretações daquele pequeno grupo de actores com personagens ocidentais simples mas totalmente carismáticos, com destaque para quem interpreta o empresário Nazi – John Rabe.
Quanto a mim [“City of Life and Death”] deveria ser daqueles filmes obrigatórios desde logo nas escolas pois se o cinema tem o poder de influenciar tudo ao seu redor, este é um título para moldar consciências desde cedo; especialmente na era da informação onde anda tanta gente desenformada. É um daqueles filmes que deveriam ser mostrados aos putos, fechar toda a gente numa sala e á chave e só abrir a porta para levar algum desmaiado para o Hospital ou quando o filme acabasse. Tratamento de choque em termos moldar consciências não deve haver melhor que isto.
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CLASSIFICAÇÃO

Apesar do que procurei descrever acima [“City of Life and Death”] foi um dos raros filmes que na minha vida me deixou sem palavras. Nem ar.
Por isso é para mim o melhor título oriental que já recomendei neste blog e não poderia ter aparecido filme melhor para eu comemorar aqui as 400.000 visitas de Cinema ao Sol Nascente.

Cinco Tijelas de Noodles + um Gold Award + um Gold Award EXTRA como excepção.

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Recomendo vivamente que explorem depois , ou até antes os documentários que existem sobre o tema. Estão cheios de imagens que depois verão recriadas no filme o que ainda lhes causará mais impacto.
É que por incrível que pareça, o filme foi alvo de censura e parece que está bastante suave comparado com o que aconteceu na realidade. Na China foi bastante atacado por ter suavizado demais o que se passou realmente.
Links abaixo.
A favor: a fotografia a preto-e-branco é incrível, a realização não podia ser melhor, os actores idem, as cenas de guerra são espectaculares como habitualmente no cinema de guerra oriental, as cenas de horror vão muito para lá de assustar ou impressionar, a escala épica de tudo o que aparece no écran, a quantidade de figurantes, o final positivo, não tem maus nem bons, poderia ter sido um filme-propaganda muito facilmente e nunca entra por aí, a importância do cinema enquanto guardião de uma memória colectiva em filmes como este.

Contra: haverá cínicos por aí e muito homem de barba rija que irá achar que a exposição dos horrores recriados neste filme são apenas manipulação e exploração de emotividade com toda a certeza. Os nerds picuinhas da História irão apontar este ou aquele detalhe que teve de ser comprimido no filme por questões dramáticas embora a crítica especializada tenha sido unânime no que toca à atmosfera geral e á qualidade da recriação histórica de todo o acontecimento.
O Japão continua oficialmente a negar que tais eventos tenham acontecido.
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NOTAS ADICIONAIS

DOCUMENTÁRIO

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COMPRAR DVD – REGIÃO 2 – EDIÇÃO UK
Apenas a 2 libras neste momento (3-11-2016) !!!
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IMDb
http://www.imdb.com/title/tt1124052

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Artigo sobre o filme.

http://english.cri.cn/6666/2009/04/21/1461s477172_1.htm

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Se gostou deste poderá gostar de:

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Still the water (Futatsume no mado) Naomi Kawase (2014) Japão/França


Imaginem… … … que… … … … … eu … … … escrevia… … … … … cada … … … … … uma das minhas… … … … … … … … sugestões … … … … … … de … … … … … … … … … … … … cinema … … … … … … … oriental… … … … … … deste … … … blog … assim … … … … desta … … … … … forma … … … … … … onde … … … … … … pau … sa … da … men … t … e… … … … … … descrevia … a … … … … minha … … opini … ão … … … … sobre … … … … os … … filmes … que … … … aqui … apresento… muito… … … … devagarinho…

Pois…

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Não se deixem enganar pela beleza do poster. Isto pode parecer imediatamente apelativo especialmente para quem adora filmes como The Big Blue mas as aparências iludem.
Para começar ainda bem que me apareceu [“Still the Water”] na frente precisamente  a  seguir a eu lhes ter recomendado o excelente “Bread of Happiness“.
Dois filmes japoneses, dois filmes dentro do chamado cinema de autor, dois filmes bem calmos e sem pressa de ir qualquer lado.
Um é bonito, cheio de poesia e deixa-nos a pensar no final. Outro é chato como o raio e pretencioso a um nível que já há muito tempo não encontrava.
Adivinhem qual.

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[“Still the Water”] além de ter um dos trailers mais enganadores dos últimos tempos, teve o condão de me conseguir irritar profundamente e há muito que um filme não me provocava tamanha reacção a um ponto de decidir esperar um dia para descomprimir depois de ter visto tamanha –obra prima– antes de vir aqui falar sobre ela.
Dentro do cinema oriental, a última “obra de génio” que me tinha aparecido pela frente antes tinha sido o inenarrável “Visage“; curiosamente outra co-produção com o ministério da Cultura de França, portanto há por aqui um padrão que se começa a adivinhar no que toca a cinema com pretenções a –instalação artística– inteligente. Nota mental: começar a evitar cinema oriental produzido com dinheiro “cultural” francês…porque provavelmente são os únicos a patrocinar estas … obras …

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O que se pode dizer de uma –obra- que abre com um grande plano de vários minutos em câmera fixa em que se vê um senhor a cortar a garganta a uma cabra com uma navalha de fazer a barba ? E não, não é um efeito especial.
Depois ainda temos o prazer de assistir ao sangramento do bicho para um balde durante um bom bocado, até que depois a “história” avança… para a … história … própriamente … dita.
E querem saber o mais cómico ? [“Still the Water”] Está censurado !!
Deixam-nos assistir por duas vezes à degolação de um animal e ao seu sangramento; (sim aparece novamente a meio … “da história” … porque sim); em grande plano, mas depois [“Still the Water”] censura a sequência final onde os protagonistas nadam nús no oceano , colocando estratégicamente “zonas de névoa” no corpo dos actores para disfarçar as zonas genitais !!

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O que retira logo por completo qualquer suposta atmosfera da sequência, pois é tão evidente aquela censura gráfica que como espectadores nem conseguimos prestar atenção a mais nada.
Portanto, para [“Still the Water”], – degolar cabras com navalhas de barbear – (para efeitos “artísticos” (vou fazer de ti uma estrela, cabra); tudo bem ! Adolescentes a nadarem sem roupa debaixo de água é melhor censurar pois não queremos cá chocar a sensibilidade das audiências.
Ehm ?!!

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E não meus amigos, contrariamente a algumas opiniões extasiadas que poderão encontrar no imdb sobre esta obra que atacam quem detestou o filme, desta vez não se trata aqui da eterna guerra entre o estilo comercial de Hollywood em modo socos e pontapés nas trombas a cem explosões por segundo versus a realização de cinema com qualidade.

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O facto deste [“Still the Water”] estar a ser apontado como uma seca absoluta no que toca à escolha do estilo narrativo, (vão por mim), não tem nada a ver com isso, porque acima de tudo o que irrita não é o ritmo ultra pausado dos diálogos no filme por si só, mas principalmente a extensão dos takes onde se filmam cenas absolutamente vazias; pior ainda, sem qualquer importância para a história principal em sequências de nada absoluto onde parece que alguém se esqueceu de dizer, corta !
E olhem que um dos meus filmes favoritos de todos os tempos é o clássico soviético “Solaris” de Tarkosvky (um dos meus filmes favoritos de ficção-científica); portanto quem sabe do que estou a falar, já perceberam que não ia ser um filme -parado- como agora este vazio absoluto japonês avec dinheiro francês que me iria intimidar.

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[“Still the Water”] tem duas horas mas poderia perfeitamente funcionar como curta metragem. Se isto tivesse menos uma hora muito provavelmente seria um bom titulo.
Na verdade sente-se que há por aqui um bom filme a querer reaparecer à superfície mas as pretenções a “auteur” da realizadora parecem insistir em fazer com que esta história seja forçada a ser obrigatoriamente a instalação artística que não precisava de ter sido de todo.
Há aqui alguns pontos bons. Os actores parecem excelentes, a história poderia ter sido muito bem usada para fazer aquela ligação com a espiritualidade do oceano e a cinematografia é excelente , contando o filme até com algumas imagens particularmente inspiradas. Mas tudo vai literalmente … por agua abaixo.

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E não é pelo ritmo calmo da história ou por ser algo dentro do cinema de autor. Meus amigos, o facto de ser classificado pela crítica inteligente como –cinema de autor– não significa que seja garantia de qualidade, como este título bem prova. Isto é tão mau quando o mais desinspirado filme de porrada do Michael Bay. Se o blockbuster hollywoodesco sem cérebro abusa da velocidade e do vazio absoluto a todos os níveis, uma obra com pretenções a cinema de autor ao nível de [“Still the Water”] tem precisamente o mesmo efeito; apenas em vez de pipocas tem pretenções a obra muito profunda quando é simplesmente um vazio narrativo.

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O filme “Bread of happiness” também tem um ritmo narrativo semelhante, também é uma reflexão profunda sobre a vida, a morte e o sentido de tudo o que nos rodeia, mas nem por um instante atira qualquer coisa à cara do espectador. E também é um filme bem calminho, por isso não me venham dizer que [“Still the Water”] tem sido apontado por ser tão irritante apenas porque as pessoas que o viram apenas queriam ver um filme pipoca nos moldes blockbuster de Hollywood. Desta vez não têm razão.

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O facto de se armar em cinema-de-autor em jeito de contrariar o pior de Hollywood não significa que tenha resultado; [“Still the Water”] é simplesmente mau e acima de tudo torna-se insuportável a límites que testam verdadeiramente a nossa paciência, o que como nem podia deixar de ser culmina num final que se alonga também por demais e totalmente inconsequente para a história que supostamente acabou de ser contada.

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O filme é pretencioso como tudo, está cheio de takes extendidos de conteúdo totalmente irrelevante e como resultado não cria qualquer empatia com o espectador.
Pelo menos, pessoalmente custa-me bastante sentir qualquer emoção pelo que quer que seja quando de vez em quando alguém se lembra de abrir a goela a um bicho em grande plano só porque sim e durante o resto do tempo os … personagens … falam … muito … pausadamente … em … longos … takes … completamente … irrelevantes… numa … história … que … poderia …. ter … resultado … não … fosse … esse … pequeno … detalhe.
E a censura é mesmo irritante. Até a cena romântica de sexo parece decalcada do velho “A Lagoa Azul” na forma como os personagens são enquadrados.

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Ao ver o trailer de [“Still the Water”] fiquei plenamente convencido que isto ia ser o meu tipo de filme. Um dos filmes da minha vida, é o “The Big Blue / Le Grande Bleu” de Luc Besson com Jean Marc Barr e Jean Reno e pelo trailer de [“Still the Water”] parecia que iamos estar na presença de algo semelhante.
Um filme espiritual, sobre a própria vida e morte tendo por base o misticismo do próprio oceano com uma história simples mas de personagens humanos complexos com uma atmosfera muito própria.
Com um trailer assim (e tanta aclamação europeia em Cannes) o que poderia falhar ?
Bem … … …



TUDO !

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CLASSIFICAÇÃO:

Um dos filmes mais irritantes que alguma vez vi dentro do cinema oriental (e não só); ao pior nível de “Visage” ou tão inconsequente quanto “Himalaya: Where the wind dwells“.
Tão pretenciosamente mau, que podia ser na boa Cinema Português.

Não leva zero só porque as cinematografia das cenas debaixo de água é absolutamente fantástica.
Meia tigela de noodles.

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A favor: excelente cinematografia, algumas imagens muito atmosféricas ao longo de todo o filme, bom par protagonista.
Contra: o trailer engana por completo (o trailer tem o ambiente e o ritmo narrativo que o filme deveria ter tido mas não tem; não se deixem eganar), a história dramática perde-se pelo meio de tanta pausa narrativa no ritmo dos diálogos, torna-se um filme insuportávelmente irritante e só apetece enfiar um estalo nos personagens a ver se acordam, a violência gráfica com degolações de animais em grande plano é absolutamente inaceitável porque não serve em absoluto para a história e se a ideia era servir de metáfora sobre a inevitabilidade da morte e coisa e tal lamento muito mas é simplesmente estúpido, mostra degolações e sangramentos em grande plano mas depois censura todas as cenas com nudez de uma forma absolutamente inacreditável, o final não serve para nada mas também a história não tem qualquer carísma por isso tudo o que seria supostamente metafórico já se foi há muito antes do filme chegar ao fim, tem duas horas e poderia ter uma hora a menos que certamente só lhe faria bem.

Se procuram por cinema de autor oriental hà muito melhor (e muito menos pretencioso) à escolha até mesmo neste blog: “In the mood for love” ; “2046” ;  “Days of being wild” ; “My Blueberry Nights” ; “The Place Promised on our early days” ; “Goodbye Dragon Inn” ; “Rent a Cat” ; “Bread of hapiness” ; “5 Cm per second” ; “Bedevilled” ; “Citizen Dog” ; “Confessions” ; “Failan” ; “The Floating Landscape”  ; “The Grandmasters” ; “Kamome Dinner” ; “Sweet Rain” ; “Tears of the Black Tiger” ; “Ashes of Eden” ; “All about Lily Chou Chou” ; “Black coal thin ice” ; “The furthest end awaits” ; “A girl at my door” ; “Il Mare”  … por exemplo. 😉

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TRAILER

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt3230162

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