“KEEPER OF DARKNESS” (“Tor dei gui mou yan”) Nick Cheung (2015) China


Este será mais um post em paralelo com o meu blog sobre cinema esquecido porque é inevitável visto estarmos a falar de um filme que irá passar ao lado de practicamente toda a gente.
É também o título perfeito para começarmos em grande este ano de 2017 aqui no blog.
Enquanto meio mundo há algum tempo atrás andava horrorizado a discutir quão mau era, ou iria ser o novo filme “Ghostbusters” eu descobria um dos filmes sobrenaturais mais surpreendentes dos últimos tempos, [“KEEPER OF DARKNESS”].

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E o que tem uma coisa a ver com a outra ? Bem…
Pessoalmente nunca hei de entender a fama de “Ghostbusters” e só encontro explicação para o sucesso por ter sido um dos filmes mais carregados de efeitos especiais a aparecer numa época em que os efeitos eram uma novidade nunca vista naqueles moldes e levavam muita gente ás salas só para verem raios e explosões animadas quanto baste pois os blockbusters modernos ainda estavam na sua infância e eram por isso uma novidade.
Nunca fui minimamente fascinado pelo franchise “Ghostbusters”, em 1984 não me disse grande coisa (mesmo tendo-o visto no cinema aos 14 anos) e para lá de achar o conceito muito original sempre detestei aqueles personagens.
O facto de hoje o filme tresandar ao pior dos anos 80 em termos de Hollywood ainda agravou mais o meu desprezo actual de todas as vezes que ao longo dos anos o tentei rever. Para mim “Ghostbusters” para mim sempre foi um franchising frustrante, pois sempre achei que haveria por ali algures uma boa história bem mais criativa para ser contada e há muito tempo que eu pensava que aquele conceito sobrenatural com fantasmas e caçadores de espíritos poderia ser algo divertido.
Por isso gostei agora tanto de [“KEEPER OF DARKNESS”]

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[“KEEPER OF DARKNESS”] é o “Ghostbusters” sério ( e a sério ) que eu sempre achei que deveria ter sido feito.
Não porque [“KEEPER OF DARKNESS”] envolva um grupo de “super-heróis” quotidianos que cacem fantasmas mas porque esta aventura Chinesa também é toda construída à volta da ideia de que partilhamos o nosso quotidiano com almas penadas; apenas não as conseguimos ver.
Nós não, mas algumas pessoas sim.
E [“KEEPER OF DARKNESS”] gira precisamente à volta de uma dessas pessoas; um tipo com capacidades –mediúnicas– que volta e meia vê-se envolvido em confrontos e exorcismos com todo o tipo de ectoplasmas chatos como o caraças que insistem em possuir ou assombrar o cidadão comum.

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Mas não pensem que o nosso herói aqui é uma espécie de versão masculina da personagem “Melinda Gordon” na série “Ghost Whisperers” empenhada em ajudar alminhas perdidas. Aqui o nosso exorcista de serviço – Fatt – tem conecções à máfia de rua de Hong-Kong, é amigo de um bando de vândalos mafiosos que percorrem as ruas “mafiando” ao mesmo tempo que tentam praticar algumas boas acções pelo caminho também; ( porque é bom para o Karma ) e vive com o fantasma de uma miúda que não quer partir “para o Outro-Lado” porque está apaixonada por ele e não quer ainda reencarnar.

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Tudo isto quando pelo meio de um par de exorcismos que correm de forma irregular Fatt detecta que apareceu nas ruas um novo espírito sedento de vingança e que pretende eliminar um por um todos os exorcistas das redondezas até chegar à pessoa responsável pela sua morte anos atrás num incêndio.
Para ajudar à festa, temos ainda o ajudante de Fatt, uma espécie de mafioso de quinta categoria em estilo-fashion-mete-nojo-hilariante mas que quer desesperadamente conseguir tornar-se também num exorcista e uma jornalista, que ao tentar desmascarar Fatt como impostor acaba por descobrir um mundo com que nunca sonhou e pelo meio apaixonar-se sem esperar. 
Mas há mais !

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Há mais, mas até já falei demais. Como sabem não gosto nada de contar as histórias dos filmes por aqui pois para mim um filme deverá ser visto sem saberem nada ou o mínimo sobre ele, mas desta vez precisava colocar a minha opinião dentro de um contexto concreto.
A verdade é que [“KEEPER OF DARKNESS”] tem mesmo um certo sabor a “Ghostbusters”, tanto nas cenas divertidas de exorcismo com os fantasmas, como na forma como usa a comédia com bom efeito até para fazer a narrativa avançar de um ponto a outro.

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Mas se [“KEEPER OF DARKNESS”] tem uma coisa absolutamente fascinante é o facto de conseguir equilibrar um monte de géneros dentro de uma só história e fazer tudo combinar sabe-se lá como !
Este filme numa questão de segundos consegue passar de uma comédia de efeitos especiais a drama pesado, consegue passar de cinema de aventura a cinema de terror ( com um par de bons arrepios pelo meio ), passa por um estilo blockbuster misturado com o cinema-de-Crime quando navega por ambientes com marginais mafiosos e ainda tem tempo para nos dar uma das melhores histórias de amor saídas do cinema chinês dos últimos anos.

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Aliás, se [“KEEPER OF DARKNESS”] funciona tão bem a todos os níveis e em todos os géneros que inclui no seu argumento desde o início é porque no seu coração está uma história de amor absolutamente divertida em modo fofinho oriental com dois protagonistas únicos.
Boas histórias de amor saídas do oriente normalmente partem do Japão ou da Coreia do Sul que tornaram o género quase numa forma de arte mas a China nunca conseguiu criar grande empatia quando tenta entrar por uma atmosfera de romance no seu cinema. 
Embora já tenha havido algumas excepções quando procuramos por cinema Chinês normalmente esperamos mais encontrar bons épicos históricos ou cinema de acção.

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Ora desta vez e tal como já aconteceu com “A TIME TO LOVE” ou “LOVE IN SPACE”, [“KEEPER OF DARKNESS”] acerta em cheio no coração emocional do filme. 
A história de amor entre Fatt e a fantasminha apaixonada que assombra o seu apartamento vai buscar o melhor do drama de “A time to Love” com a comédia contida mas romanticamente divertida de “Love in Space” e consegue momentos verdadeiramente atmosféricos que criam uma grande empatia com espectador e centralizam também todos os outros aspectos que compõem o filme.

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A fantasma pode ser fofinha mas ainda nos prega um susto valente ou dois bem colocados e o seu registo varia também entre a comédia e o drama algo angustiante por vezes numa questão de segundos, o que demonstra claramente que o realizador de [“KEEPER OF DARKNESS”] sabe muito bem o que está a fazer conseguido transportar o espectador ao longo da história numa verdadeira montanha russa de emoções inesperadas nos momentos mais inesperados também.

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[“KEEPER OF DARKNESS”] tem também um certo sabor ao cinema de Wong Kar Wai, o que só lhe fica bem neste caso. Não que a tentativa de homenagem a um certo estilo bem reconhecível seja por demais persistente mas nota-se aqui e ali a influencia do realizador de “In the Mood for Love” e isto sempre no melhor dos sentidos.
Quem gosta do cinema de Wong Kar Wai vai gostar deste filme por razões estéticas também. Aliás nem falta aqui Karina Lau, uma das actrizes recorrentes do cinema de Wai.
Se Wong Kar Wai um destes dias decidisse filmar algo bem mais comercial poderia inclusivamente criar a sequela para este filme pois o seu estilo iria enquadrar-se bastante bem.

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Acima de tudo estamos na presença de mais um filme com cenas espectaculares e montes de efeitos digitais que não se esquece do principal.
Os personagens e a humanização dos mesmos.
Se falha em alguma coisa será apenas no vilão pois a sua história ( e motivações ) no final acabam por parecer que não se integram tão bem quanto todo o resto do filme até ao desenlace final da aventura…

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Talvez por isso [“KEEPER OF DARKNESS”] seja um daqueles filmes com múltiplos finais, como se o realizador tivesse consciência de que parte de aventura nem sequer fosse o mais importante e resolvesse acabar a história do filme de uma forma mais humana.
A gente agradece.
 E o final “final” também é fixe.
Agora o que eu quero mesmo é uma sequela.

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CLASSIFICAÇÃO

Se procuram por cinema sobrenatural com almas penadas e um sabor a aventura urbana com um toque de terror, drama, comédia e uma excelente love story para rematar não vão mais longe.
 Ignorem as más reviews no IMDb pois como de costume foram postadas por americanos que se trocam todos quando não percebem de que género é um filme.
[“KEEPER OF DARKNESS”] é original, divertido, assustador, espectacular, dramático e tocante.
Tudo num único filme que resulta muito bem.

Cinco Tigelas de Noodles e um Gold Award


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Se calhar nem merece o Gold Award pois tem um par de falhas que lhe retira alguns pontos na história central envolvendo o vilão sobrenatural, mas a verdade é que este foi um dos filmes Chineses que mais me divertiu nos últimos anos.

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Comprei o Bluray na China ( região zero ) e acho que ainda gostei mais dele agora que o revi do que quando o vi pela primeira vez; pois da primeira vez a mistura de géneros pode deixar-nos um bocado aturdidos e impedir-nos de notarmos como [“KEEPER OF DARKNESS”] é realmente bom; por ser também algo único dentro do género.

A favor: a mistura entre géneros que funciona perfeitamente sabe-se lá como, o sentido de humor negro, a historia de amor, a química romantica dos protagonistas, as cenas assustadoras , a atmosfera sobrenatural, os personagens, a carga dramática , as cenas de acção, os efeitos especiais, mais uma vez a humanização dos personagens.

Contra: algum CGI podia ser melhor, a parte dramática ao redor do vilão parece algo deslocada do resto do filme e sente-se que está um bocadinho forçada para poder encaixar.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER
Nota:
o filme não é o blockbuster de acção que aparenta no trailer. É bem mais contido e intimista contrariamente ao espectáculo de efeitos que o trailer aparenta mostrar.

IMDb
http://www.imdb.com/title/tt5157030/

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The Forest (The Forest) Jason Zada (2016) Usa/Sérvia/Japão


Se há uma coisa que acabou de vez com o cinema de terror norte-americano foi esta tendencia dos ultimos anos em que os filmes do género saídos de Hollywood têm de ser fabricados para todos os públicos e serem obrigatóriamente PG-13 para não assustar as criancinhas.
[“The Forest“] é portanto o típico exemplo desta moda.
[“The Forest“] é assim, um filme de terror que não mete medo absolutamente nenhum.

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Por esta altura já devem estar a perguntar-se porque raio estou a falar de [“The Forest“] , neste blog. Bem, há várias razões que me levam novamente a esticar aqui o contexto da página; (tal como já aconteceu antes com por exemplo “The Messengers“, um bocado pelo mesmo motivo).
Neste caso o realizador não é oriental, a produção principal é norte americana, mas é uma história ambientada no Japão; (filmada em parte no Japão), com um elenco japonês em practicamente todos os papeis secundários (onde se fala Japonês) e é também um filme sobre a misteriosa Floresta Aokigahara localizada no sopé do monte Fuji, onde milhares de Japoneses se dirigiram para cometer suícidio ao longo de várias décadas.
[“The Forest“] enquanto filme, apesar de todas as suas falhas consegue desde logo algo que eu não esperava; tem ambiente e em alguns momentos poderia muito bem ser cinema de terror Japonês. Aliás, aí sim teria sido certamente arrepiante como o raio.

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Há outro motivo pelo qual eu achei interessante destacar o filme agora aqui, mas ficará para daqui a pouco mais à frente e já vão perceber porquê.
Ainda bem que eu não vi o trailer antes de ver [“The Forest“], pois se o tivesse feito certamente não teria tido qualquer interesse em ver o filme, especialmente depois da sucessão de banalidades que aparece na apresentação.
A julgar pelas reviews que tinha lido, [“The Forest“] não carregava propriamente grande reputação e portanto também eu fui ver isto já preparado para desancar forte e feio neste título. Principalmente por não meter medo ao menino Jesus. E isso é o pior que pode acontecer a um filme que supostamente deveria ser de terror. Ainda por cima com um tema destes.

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Agora que vi o trailer depois de ter visto o filme, constato que pelo menos umas cinco ou seis sequências que aparecem na apresentação felizmente nem sequer fazem parte da montagem final do filme. Óptimo !
Quem resolveu cortar essas cenas que se revelam imediatamente formuláticas e banais no trailer, fez muito bem pois [“The Forest“] só ganhou com isso.
Portanto, se virem o trailer, não se preocupem; não tem spoilers, até porque muito do que aparece lá não entra na versão de cinema e o filme segue uma linha algo diferente; linha essa que me surpreendeu agradavelmente.

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Em vez de criar um clima de terror, [“The Forest“] parece achar que meter medo é igual “a pregar mais um daqueles sustos” (sem tensão nenhuma) com o som MUITO ALTO de cinco em cinco minutos, como manda a cartilha das pastilhas elásticas hollywoodescas sem um pingo de inspiração.
Este filme está cheio de cenas daquelas que supostamente deveriam ter uma grande tensão mas a gente já sabe exactamente que tipo de susto vem a seguir e pior, quando é que esse susto “inesperado” vai aparecer !
Olha, mais um. Booo !
Ai que medo. Que terror.
Vários sustos que aparecem no trailer não fazem parte do filme, o que mais uma vez é positivo, pois o que sobra já é por demais infantil e desinspirado em termos de clima de pseudo-terror.
Então mas onde é que isto funciona ?

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Bem, [“The Forest“] a partir do momento em que o espectador percebe que isto é terror para crianças, baseado em saltos com SOM ALTO e máscaras de látex para mortos-vivos de plástico que aparecem “subitamente” por tudo e por nada ; há aqui uma boa história algures.
Tivesse este titulo sido apresentado como sendo um thriller de mistério e não como filme de terror e se calhar muitas das reviews que agora o arrassam por completo tinham reparado nas suas qualidades.
Porque as tem.
[“The Forest“] além de trabalhar bastante bem o enigma sobre o desaparecimento da irmã da protagonista, tem um certo sabor a filme de aventura que lhe dá uma aura especial.

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Para começar eu que pensava que ia ver mais outro daqueles filmes com gente a correr às escuras por florestas durante a noite perseguida por psicopatas, zombies ou fantasmas em geral, surpreendeu-me o facto de [“The Forest“] se passar na sua grande parte durante o dia. E é aí que funciona melhor enquanto thriller de mistério. Não quero aqui detalhar o porquê, porque se virem o filme vão gostar de perceber qual o rumo do argumento e acompanhar a forma como cria permanentes pequenas reviravoltas que nos deixam incertos sobre o destino dos personagens durante largos minutos.

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Normalmente neste tipo de cinema de “terror” para crianças PG-13 a coisa não passa de uma contagem decrescente em termos de cadáveres até que sobra uma pessoa; acontece que em [“The Forest“] essa fórmula tem alguma substância mais e eu não estava à espera que o argumento tivesse tido esse cuidado. Não só os personagens são interessantes, como ainda damos por nós a torcer por eles, o que não é mau de todo para um filme de terror que falha redondamente em assustar quem quer que seja.

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Não mete medo, mas olhem para isto como um thriller e vão perceber que a intriga funciona bem, inclusivamente até à revelação final em jeito de cinema sul-coreano, que embora simples me apanhou de surpresa, pois não me apercebi logo da coisa no momento.
Portanto [“The Forest“] recomenda-se, não como cinema de terror, mas como um bom filme de mistério com muitos “sustos” parvos à mistura, mas que nem por isso estragam o tom enigmático que funciona muito bem graças aos personagens cativantes. O que para um filme americano a tentar colar-se ao género japonês, até nem está mau de todo.

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Agora o que eu não esperava era que me apetecesse ver isto duas vezes e há uma boa razão para vocês depois também o fazerem; mesmo que não gostem por aí além do filme. E já explico mais à frente (na parte dos *spoilers*) o porquê.
Para já deixem-me recomendar isto da forma habitual.

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CLASSIFICAÇÃO:

Esqueçam que isto é suposto ser um filme de terror. Como thriller de mistério funciona bem a vários níveis e não é de todo o mau filme que muita review por aí pinta para grande surpresa minha. Gostei muito de o acompanhar, gostei de várias coisas (até) no final formulático e sendo assim recomendo que se procuram histórias de mistério espreitem esta; (já irei explicar mais à frente nos *spoilers*).

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Três tigelas e meia de noodles porque é um produto algo híbrido que funciona muito bem a um determinado nível enquanto que se afunda por completo como filme de terror que não consegue ser de todo.
No entanto é suficientemente bom para espreitarem pois acaba por estar muitos furos acima do típico cinema de “terror” para teenagers habitualmente saído de Hollywood nestes moldes.

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A favor: consegue transportar-nos para aquela floresta no Japão mesmo não tendo sido um filme totalmente filmado lá, as paisagens originais estão muito bem recriadas se compararmos com os verdadeiros locais até a nível de arquitectura, o enigma é se calhar mais complexo do que aparenta a uma primeira visão, como thriller funciona bem e até tem um certo sabor a aventura, surpreendentemente as melhores cenas são passadas durante o dia e tem poucos momentos estereotipados com gente a correr por florestas durante a noite, aliás tem menos clichés do que parece ter no trailer, os personagens são cativantes e felizmente conta com um elenco japonês para dar mais autenticidade à história e ao ambiente, o argumento é melhor do que parece e joga muito bem com um clima de incerteza, grande parte das cenas parvas e formuláticas que estão no trailer não aparecem de todo no filme e só por isso vale o destaque.
Contra: se procuram um filme de terror procurem noutro lado, é “terror” PG-13 para familias americanas irem ao cinema com baldes de pipoca “assustarem-se muito” mas sem sangue de estilo gore, tudo o que é suposto ser clima de terror não passa de momentos de SOM ALTO “repentino” quase de cinco em cinco minutos. Até podemos acertar o relógio pelos “sustos”.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER (com inúmeras cenas que não entram no filme)

Documentário sobre a verdadeira Aokigahara Forest

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ATENÇÃO: se têm alguma intenção de ver este filme não leiam ABSOLUTAMENTE NADA do que vou escrever a partir do aviso vermelho de *spoilers* a seguir.
Leiam só a partir dos titulos verdes depois desta secção.
Vão por mim, irão olhar para este filme de uma forma que se calhar nem imaginam.

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Eu próprio não me apercebi disto na história, mas há alguém no IMDB com uma interpretação do que aconteceu neste filme deveras intrigante e que os fará ficar com vontade de rever em pormenor [“The Forest“] mal leiam a sua visão do que realmente aconteceu neste enigma.
Não costumo dar muita atenção a estas re-interpretações para filmes mas tenho que concordar que depois de ler o que o Author: jarora2213″ escreveu na sua favorável review do filme, já não consigo pensar na história da mesma forma que eu tinha pensado.

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Na altura também tinha ficado com a ideia de pontas soltas, mas se calhar, jarora2213 tem razão e somos nós que pelo facto de estarmos tão decepcionados com a falta de terror deste título que acabamos por não dar grande atenção às pistas que estão espalhadas pela história e que se calhar tornam [“The Forest“] num argumento mais complexo e criativo do que nos parece à primeira vista. A interpretação de jarora2213  [“The Forest“] quase que me transporta ao “The Sixth Sense”; e de repente o filme parece bem melhor. Daí estar agora também a recomendá-lo no blog.

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Estão preparados ? Não leiam isto antes de verem o filme. MESMO !

SPOILERS * SPOILERS  * SPOILERS * SPOILERS * SPOILERS
A partir deste momento irei parafrasear muito do texto ou do sentido original descrito pelo utilizador jarora2213 na sua review de IMDB.

Ao acompanhar este filme não consegui deixar de sentir que esta história seria mais complexa do que aparentou à primeira vista. Sinto que este filme é mais uma história sobre doença mental do que será um filme de terror sobrenatural envolvendo os pretensos espiritos maléficos da floresta de  Aokigahara que na verdade nunca existem na história.

Comecemos pelos factos, temos a personagem principal, Sara e a sua irmâ gemea idêntica Jess. Uma noite quando em crianças estavam ao cuidado da avó, soam dois tiros que todas ouvem e logo procuram investigar a origem dos disparos. Quando com a sua avó descem por um lance de escadas que leva até à cave de sua casa, esta grita-lhes “tapem os olhos!”.
Isto porque o que tinha acontecido minutos antes fora o pai das miudas ter assassinado a mãe delas com um tiro de caçadeira e de seguida ter-se suicidado.

Sara fechou os olhos e nunca viu o banho de sangue, mas Jess viu tudo ao pormenor.

Portanto eis o que eu acho ser a grande revelação encoberta na história do filme.
Nunca houve uma irmã gemea. Jess (ou Sara)  nunca existiu.

Penso que devido à experiência traumática na sua infância Sara (ou Jess)  dividiu-se mentalmente em duas pessoas num típico exemplo do sindroma da dupla personalidade. Sara passou assim a ser, Sara e Jess alternadamente.
Sara afirma por várias vezes durante o filme que sente remorsos profundos por nunca ter “ajudado” Jess a carregar o fardo de ter visto os cadáveres dos pais a quando do banho de sangue naquela noite. Penso que essa convicção será apenas um lugar interior dentro de si. Um refúgio psicológico. Um trauma que carrega desde esse dia.
Esta teoria faz sentido , se vocês prestarem atenção a várias pistas que o realizador e o argumentista deixaram espalhadas pelo filme de propósito(?).
Aqui vão as 5 principais:

1. Logo no início do filme vemos uma cena em que Sara desce um lance de escadas que também conduzem a uma cave. Nessa cave está uma tenda amarela. Do exterior conseguem-se ver duas sombras de criança distintas no interior da tenda mas quando Sara a abre, só lá está uma menina.

2. Quando Sara comunica ao seu namorado que precisa de ir ao Japão em busca da irmã, este reage com uma expressão algo distante mas ao mesmo tempo preocupada. Parece algo cansado mas não está particularmente chocado com o anúncio de que uma pessoa da familia desapareceu no estrangeiro.
Pode interpretar-se isto comu sendo um sinal de que alguém sabe que a outra pessoa tem realmente um problema psicológico e de forma a tentar acalma-la, tenta não a contrariar para não criar resistência.
(Curiosamente também eu notei que havia aqui algo estranho no diálogo algo frio que inicia este filme, pois a relação destas duas pessoas não me pareceu saudável ou romântica por aí além; pensei inclusivamente que isso depois viesse a ser parte do cliché habitual quando Sara conhece “o heroi” da história, mas na verdade esse sub-plot nunca existe. Mais tarde quando o namorado vai ao Japão para a trazer de volta para casa, a partir desse momento parece já alguém realmente caloroso e preocupado com a pessoa que ama, contrariamente ao que acontece no frio diálogo inicial que estabelece a relação destes dois personagens até de uma forma algo -clínica-).

3. À noite na floresta Sara encontra a rapariga japonesa que lhe diz para não confiar em Aiden e isso torna-a totalmente paranoica durante o resto do filme sempre que estão juntos.
Quando ela lhe pede o telemóvel  para ver ser Aiden tem realmente algumas fotografias da irmã, Aiden nega alguma vez ter encontrado Jess e olha para Sara realmente perplexo com o que está a acontecer. A fotografia que Sara “vê” no telemóvel de Jess será então na realidade o rosto dela própria, apenas Sara a interpreta como sendo a da sua irmã; sua segunda personalidade.
(Daí o cabelo preto quando esta é salva; na sua verdadeira personalidade de Jess; no final da história e retirada da floresta, tendo a personalidade “ferida” de “Sara” ficado para sempre retida na floresta em jeito de expiação da sua própria dor ).

4. Perto do fim. Na cena da cabana quando Sara nas costas de Aiden comunica com Jess através da porta e trocam bilhetes por debaixo da fresta onde Jess lhe diz que Aiden a irá matar, se notarem bem, a letra de Jess é exactamente a mesma letra de Sara.
É neste momento que interiormente Sara “deixa Jess” sair e ataca Aiden que continua sem perceber a razão de tanta paranoia à sua volta.
Também nessa altura “naturalmente”, a porta da cave da cabana, (mais uma vez, outra cave), mostra-se afinal aberta sem razão aparente; Jess não se encontra em lado nenhum e embora o filme aponte para uma explicação sobrenatural , o mais certo é tudo apenas se passar na mente de Sara influenciada pelas histórias de fantasmas que envolvem as lendas locais da floresta.
Quando Sara desce as escadas para a cave encontra novamente APENAS uma única criança que está a assistir à morte dos pais. Sara grita para a miuda correr escada acima ao mesmo que o seu pai em modo morto-vivo a agarra, obrigando Sara a usar a faca e a cortar a carne para se soltar, pensando estar a cortar o pai para este a largar quando está na realidade a cortar o seu pulso no fundo de umas escadas que não levam a lado nenhum enquanto imagina toda a cena em que revive o assassinato da mãe e o suicidio dos pais.
isto confirma a teoria de que supostamente apenas “Jess” teria visto a morte dos pais, quando Sara se auto-convenceu de que ela própria nunca tinha visto nada e criou Jess para sofrer o trauma por ela própria.

5. Quando Sara consegue escapar da cabana, curiosamente o filme de repente muda para uma cena em que vemos Jess finalmente perdida na floresta (até aí nunca a tinhamos visto na história depois de se “perder”); surpreendentemente apesar de desorientada “Jess” não parece particularmente atacada por fantasmas ou qualquer coisa sobrenatural, apenas se encontra perdida, tal como ela própria refere no final quando é salva pela equipa de resgate onde está o namorado de “Sara”.
Na sequência em que ambas correm pela floresta em direcção ás luzes da equipa de resgate, a montagem do filme mostra-as em paralelo sem nunca se encontrarem, mas correndo practicamente no mesmo local.
Quando Rob o namorado a abraça trata-a por Sara embora “Sara” não responda, (pois “Sara” ficou na floresta para sempre, pois (afinal) era Sara e não Jess que sofria durante tantos anos por ter visto a morte dos pais); quando Rob, a trata por Jess, esta é a personalidade que responde. Na cabana Sara tinha enfrentado a realidade finalmente e admitido interiormente que tinha sido ela a ver a morte dos pais e não “Jess”, daí fazer sentido que “Jess” tenha saido da floresta eventualmente “curada” por ter deixado toda a sua dor presa no interior na pessoa da sua personalidade “Sara”. Por isso “Jess” diz que já não consegue ouvir a voz de “Sara”, o que fecha o circulo do inicio onde o mote da procura de Sara tem a ver com a voz que ouve constantemente no seu interior e que indica que a irmã ainda está “viva”. Ou seja, até enfrentar a realidade e perceber que só existe uma única pessoa que viu os assassinatos; para “Sara” foi “Jess” quem sofreu. A questão que fica no ar é se Sara se chama Sara ou se Jess será realmente o seu verdadeiro nome.

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FINAL DOS *SPOILERS* FINAL DOS *SPOILERS* FINAL DOS *SPOILERS*
FINAL DOS *SPOILERS* FINAL DOS *SPOILERS* FINAL DOS *SPOILERS*

Portanto meus amigos, já podem ler este bocadinho a seguir se ainda não viram o filme.
Como podem ver se calhar por detrás de um mau e banal filme de terror, estará aqui um argumento bem melhor do que aparenta à primeira vista. Não me admirava nada que os criadores desta história tivessem mesmo a intenção de apresentar um mistério assim de uma forma mais evidente, mas aposto que algum executivo de qualquer estudio em Hollywood deve ter achado tudo muito confuso e terá ordenado que se focassem mais no “terror sobrenatural” do que na história “confusa” sobre o enigma das “duas irmãs”.
Por isso, pela minha parte, já não consigo olhar para este filme da forma simplista que muito reviewer que o ataca por ser um péssimo filme de terror o está a fazer nas reviews espalhadas na net.

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Certa, ou não, a verdade é que a teoria do utilizador jarora2213 no IMDB mudou por completo a minha primeira visão desta história. Penso realmente que o argumento pode mesmo ser interpretado desta maneira, especialmente tendo em conta que tudo o que são cenas realmente parvas presentes no trailer não estão depois no filme e o facto de apesar dos sustos imbecis estarem espalhados pelo filme (se calhar mais para agradar ao estudio em hollywood do que outra coisa), a verdade é que mesmo desconhecendo toda esta interpretação eu sempre senti que havia por ali um bom thriller de mistério.
Revendo o filme, as pistas apontadas pela interpretação de jarora2213 estão realmente todas lá, por isso meus amigos, volto a dizer, [“The Forest“] não é o melhor filme do mundo, mas recomenda-se vivamente por muitos e variados motivos.
Vejam-no pelo menos uma vez.

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Pode não ser cinema oriental no sentido mais puro, mas se calhar tem mais a ver com o seu espírito e menos a ver com Hollywood do que aparenta à primeira vista.

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Filmes semelhantes e 100% orientais de que poderá gostar:

A Tale of Two Sisters

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Midnight FM (Simya-ui FM) Sang Man Kim (2010) Coreia do Sul


Este deve ser um dos meus thrillers favoritos dos últimos tempos e curiosamente não faz mais do que aquilo que é costume vermos na habitual história com psicopatas.
Então porque é que [“Midnight FM“] resulta tão bem ?

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A começar, pela simplicidade. Parte de um conceito tão simples como o facto de um psicopata obcecado por um programa de rádio, resolver invadir a casa da locutora e fazer reféns todos os seus familiares, ameaçando-os de morte caso a protagonista não conduzir a emissão da forma que este acha que deve ir para o ar.

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Conceito aparentemente simples, mas na verdade muito bem trabalhado, pois [“Midnight FM“] sem atirar nada à cara do espectador, nem tentar sequer ser um thriller politico acaba pelo meio de todo o seu suspense, por introduzir muitos temas pertinentes e tal como aconteceu em “The Terror Live” fazer também um excelente estudo sobre o poder dos media para influenciar tudo em redor; não sendo estranho o personagem do psicopata ser influenciado pelo filme Taxi Driver.

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Aliás tudo em [“Midnight FM“]  funciona em redor do filme de Martin Scorcese com Robert De Niro e é também aqui que este argumento brilha, pois a história avança na forma como faz constantes referências a esse clássico e se mantem em paralelo com Taxi Driver na forma como usa esse título para dar vida também agora a mais este psicopata urbano fascinado com o poder da radio.

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Se olharmos para a história e para a estrutura de [“Midnight FM“], à primeira vista isto não pedia mais do que ser a habitual aventura de suspense em estilo Hollywood e onde o que importaria seriam apenas mesmo as cenas de acção e pouco mais. Acontece que aqui a coisa vai um pouco mais além. O filme conta com algumas sequências de acção excelentes mas nunca esquece que por detrás de tudo estão bons personagens e é precisamente aqui que mais uma vez o cinema sul coreano brilha.

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Não só os protagonistas são excelentes, como depois todo o seu mundo é suportado por um elenco de secundários que são absolutamente importantes para o desenrolar da história num argumento onde não existem personagens supérfulos e na verdade nem herois nem vilões. Há sempre uma motivação por detrás de cada acção e por isso todo o suspense resulta, até nas parte mais intensas que poderiam retirar-nos por completo de dentro do filme mas tal nunca acontece.

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A cada minuto que passa ficamos mais agarrados a esta história e se calhar nem deveria ser, pois não vão ver aqui nada que já não tenham visto mil vezes na típica história de raptos e terroristas ameaçando vitimas inocentes. Só que lá está, a fórmula é simples, mas o conteúdo é detalhado e cheio de texturas por explorar, integrando muito bem dentro da acção principal temáticas que acabarão por ficar como tópicos de conversa muito depois do filme acabar.

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[“Midnight FM“] é por isso um thriller pensado ao mílimetro. Nada aparece por acaso, há algumas boas reviravoltas, tem conteúdo muito bem integrado nas cenas de suspanse e ainda consegue dar-nos um par de cenas porrada com muita adrenalina para compor o conjunto final. E por falar em final, este filme consegue expandir o final, por vários momentos e esticar o suspense até quase ao último segundo culminando tudo num desenlace perfeito para esta história.

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Não há muito mais que eu possa dizer sobre isto sem lhes estragar o filme todo, por isso se procuram um thriller de suspense de temática semelhante ao que podem ver em “The Terror Live” mas com uma execução particularmente diferente e que embora mais standart e mainstream não deixa de ser extraordinariamente eficaz, então não percam de todo [“Midnight FM“].

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A realização é fantástica, a montagem é absolutamente perfeita e as interpretações são excelentes por todo o elenco (até das criançinhas). Os personagens não são particularmente simpáticos (num estilo cinematográfico) o que é uma abordagem bastante natural , mas vão ganhando empatia connosco à medida que a história se desenvolve e portanto isto não é um argumento com bonecos estáticos. Toda a gente nesta história, muda, evolui e irão gostar de acompanhar cada um dos personagens envolvidos.

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Se gostam de histórias passadas no mundo da rádio, esta é uma excelente opção que não devem perder. Em alguns momentos fez-me lembrar até “Talk Radio” de Oliver Stone, o que só lhe fica bem pois esse é outro daqueles filmes imperdíveis para quem gosta da temática e em particular se gostam tanto do género da -talk radio- quanto eu, pois devoro inúmeras emissões americanas  enquanto trabalho em ilustração diáriamente.

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CLASSIFICAÇÃO:

Este é outro daqueles filmes que para mim valem a nota máxima.
[“Midnight FM“] na minha opinião tem a particularidade de conseguir desenvolver um argumento detalhado a partir de uma ideia simples. Além disso faz tudo bem para nos deixar a roer cadeiras e almofadas até ao último segundo, sendo portanto uma verdadeira montanha russa do príncipio ao fim sem nunca perder o fôlego um segundo sequer.
Se gostaram de “The Terror Live” têm aqui um excelente complemento numa vertente diferente mas não menos intensa.

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Cinco tigelas de noodles e um Golden Award porque [“Midnight FM“] é outro daqueles que se revê inúmeras vezes e a intensidade nunca se perde pois está carregado de adrenalina.

noodle2.jpg noodle2.jpg noodle2.jpg noodle2.jpg noodle2.jpg gold-award.jpg

A favor: a realização, os actores, o argumento, a montagem, a adrenalina.
Contra: á partida poderá parecer algo que já vimos mil vezes no que toca à história central mas não é por aí que perde pontos de qualquer forma.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER


IMDB

http://www.imdb.com/title/tt1825955

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E se gostaram deste não vão querer perder:
Capinha_the terror live 
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The Terror Live (Deu tae-ro ra-i-beu) Byeong-woo Kim (2013) Coreia do Sul


Já ando para falar deste filme há um par de anos mas queria voltar a vê-lo antes de escrever sobre ele para me certificar de que isto era realmente tão bom quanto me pareceu da primeira vez.
É !

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Agora que ainda nem passaram duas semanas após os atentados bem reais na Bélgica aqui na Europa em Março de 2016, um filme como [“The Terror Live“] não poderia ser mais actual, especialmente quando estamos na presença de um título absolutamente fantástico que acima de tudo sabe como tratar a questão do terrorismo sem a banalizar mesmo sendo um produto plenamente comercial enquanto cinema.
Independentemente do tema, se procuram um thriller com suspense de cortar à faca e um estilo muito pouco politicamente correcto, é este.

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[“The Terror Live“] não é apenas a habitual história de um psicopata que resolve explodir com coisas por tudo e por nada, mas principalmente é um verdadeiro estudo sobre o poder dos media para manipular audiências e formar opiniões sobre as pessoas. Independentemente da verdadeira história por detrás de acontecimentos que muitas vezes ficam por contar, porque simplesmente para os rates de audiencia não terão importância e o que importa no mundo das notícias televisivas que lucram com directos dramáticos ao vivo, é acima de tudo não apresentar a verdade mas sim manter a capacidade de gerar patrocinadores e publicidade para cada canal aproveitando-se da catástrofe do momento enquanto oficialmente passa tudo por –informação.

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[“The Terror Live“] é sobre isto e muito mais. É sobre a corrupção do Estado, sobre chantagem política e não tem medo de ser um filme que analisa as próprias razões por detrás de um acto terrorista mostrando também o lado de quem espalha o terror. Não escolhe lados, apenas mostra-nos a posição de todas as partes envolvidas de uma forma crua e realista sem tomar partido ao mesmo tempo que envolve o espectador numa verdadeira montanha russa de emoções, pois a certa altura já nem sabemos por quem estamos a torcer, ou se todos serão culpados num sistema podre que não tem salvação a não ser que alguém expluda com isto tudo e o mundo comece realmente do zero.

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Muita gente tem comentado na internet que este é um daqueles filmes que parece um thriller americano à primeira vista mas por muitas razões que só serão perceptíveis por quem vir [“The Terror Live“], imediatamente se destaca como uma produção há parte; que pelo menos actualmente não seria filmada nestes moldes por Hollywood de certeza. Pelo menos , não com este argumento e colocando as questões da forma que as coloca. Um argumento onde para lá da habitual história de suspense que poderia ter sido filmada da forma mais formulática se encontra no entanto um argumento que nos deixa a pensar e a discutir sobre tudo o que vimos muito para lá da duração do filme. Vejam [“The Terror Live“] , depois espreitem qualquer canal de noticiários na TV e garanto-vos que os mais distraídos irão começar a prestar atenção a pormenores que se calhar nunca tinham pensado antes.

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[“The Terror Live“] tem sido comparado ao americano “A Cabine Telefónica/Phonebooth”, mas enquanto o filme de Joel Schumacher é realmente eficaz enquanto thriller, este filme Sul Coreano, até porque tem maior duração consegue ir muito mais além. Na verdade o atentado terrorista da história é apenas uma desculpa para que alguém tenha escrito um dos melhores argumentos politicamente incorrectos dos últimos anos, dentro deste estilo de cinema que envolve jornalismo. E a uma primeira visão quase que isso nem se nota.

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O filme conta a história de uma antiga estrela televisiva do jornalismo que caiu em desgraça, acabando despedido e a ter que trabalhar numa rádio local ao mesmo tempo que ainda tem que lidar com o seu divórcio; nunca deixando no entanto de ser um crápula arrogante para com toda a gente. Mantendo uma ambição desmedida para voltar ao topo da apresentação televisiva não olha a meios para pisar seja quem for para atingir os seus objectivos.

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Um dia numa das suas emissões de linha aberta, alguém liga para o programa afirmando que irá fazer explodir uma das principais pontes da capital Sul Coreana se o presidente não vir a público pedir desculpas pela forma como alguns trabalhadores que a construiram foram tratados pelo Estado muitos anos antes.

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Naturalmente o jornalista não o leva a sério e desafia-o a ir para a frente com a explosão. O que acontece de verdade  e a partir desse momento desencadeia-se uma verdadeira corrida às audiências por parte dos canais de notícias que tudo fazem para suplantar a concorrência cobrindo em directo o acontecimento. Mas só o nosso jornalista tem o terrorista em directo na outra ponta da linha telefónica e vê nisso acima de tudo o seu bilhete de regresso ao topo da informação televisiva.

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[“The Terror Live“] joga incrivelmente bem com a linguagem televisiva. A realização é extraordinária e a montagem deste filme não perde um fotograma. Aliás tudo nesta história é cronometrado ao segundo e cada cena é cortada ao milímetro para nos deixar constantemente em tensão como se estivessemos a assistir a um acontecimento real; a forma como está filmada alterna entre o habitual para este género e a própria linguagem televisiva. E é nesses momentos em que como espectadores parece mesmo que estamos a assistir a um drama em directo na televisão que o filme brilha.

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As interpretações são fantásticas e esquecemo-nos por completo que estamos a ver uma ficção passados alguns minutos. O argumento é o ponto alto do filme também, não apenas pela história em si, pelo politicamente incorrecto no seu conteúdo, mas principalmente porque sabe enredar toda a sua vertente mais politica em personagens com substância.
Todos os secundários nesta história têm um papel importante, todas as personalidades estão muito bem definidas e nem notamos que [“The Terror Live“] conta na verdade com imensos personagens-tipo, que noutro tipo de filme se calhar seriam óbvias e algo artificiais, mas que aqui são absolutamente indispensáveis para que o suspense resulte.

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Acima de tudo, tal como acontece com o protagonista, são personagens intensamente credíveis e que fazem por completo desaparecer os actores por detrás delas. Inclusivamente o terrorista que passa practicamente todo o filme apenas sendo uma voz no telefone tem uma prestação absolutamente cativante e toda a sua química com o protagonista do filme é aquilo que os irá deixar por muitas vezes à beira de um ataque cardíaco com o desenrolar dos acontecimentos.

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Desenrolar de acontecimentos que ainda por cima culminam num final absolutamente perfeito e até algo inesperado. Embora na minha opinião [“The Terror Live“] só peque no momento em que nos atira com um pequeno “twist” à boa e velha maneira do cinema Sul Coreano. Estranhamente, desta vez nem resulta particularmente bem, pois na verdade pelo menos a mim não me causou propriamente grande impacto.

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Se calhar porque tudo o resto já tem até tensão a mais durante o filme todo, mas achei realmente que desperdiçaram uma ligação que poderia ter havido no contexto da história. Essencialmente para mim só “falha” mesmo o twist do filme. Não porque não seja eficaz, mas porque deveria ter sido um murro no estômago e não foi; isto porque até ocorrer a revelação nada no contexto do argumento apontava para algo assim tão anónimo (até porque todos os diálogos com o terrorista são por telefone) e por isso quando esta “surpresa” surge de repente , pelo menos eu achei que foi algo metida a martelo para introduzir o inevitável twist.

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Mas não deixem que isto os afaste de [“The Terror Live“]. É apenas uma opinião pessoal.
De resto tudo nesta história é do melhor. Vão ficar agarrados até ao último segundo e não se irão esquecer deste filme tão cedo; especialmente tendo em conta tudo o que se tem passado no mundo actualmente e se costumam acompanhar noticiários televisivos.

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CLASSIFICAÇÃO:

É impossível não dar a nota máxima a isto. Mesmo já conhecendo a história acho que da segunda vez que vi o filme ainda gostei mais dele; talvez porque pude reparar no resto à volta das cenas de suspense de uma forma mais descontraída e observar como este [“The Terror Live“] é realmente um produto muito bem feito e que prova que o cinema comercial também pode ser inteligente sem deixar de ser cinema espectáculo.

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Cinco tigelas de noodles e um Golden Award porque este é daqueles se revê inúmeras vezes e a intensidade nunca se perde.

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A favor: o argumento, os actores, a realização, a montagem, o politicamente incorrecto da mensagem, os efeitos especiais.
Contra: o “twist” poderia ter tido mais impacto se tivesse sido integrado num contexto envolvendo algum personagem presente no estúdio ou nos directos talvez, pois aparece algo de pára-quedas só para –surpreender– e quanto a mim destoa da estrutura do filme até então.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt2990738

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E se gostaram deste não vão querer perder:
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