The Monkey King 2 : The Legend Begins (2016) ChinaThe Monkey King 2) Pou-Soi Cheang (


Wow !
Até ao momento [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] foi para mim a surpresa do ano em termos de cinema, pois desta não estava nada à espera.
Apanhar com uma sequela assim principalmente depois do primeiro filme ter sido tão …ehm…inclassificável… foi verdadeiramente um prazer no que toca à descoberta de novos filmes de Fantasia.

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O personagem do –Monkey King– apesar de pertencer à própria cultura popular chinesa, para mim sempre foi absolutamente insuportável. Estas versões modernas, não são a primeira adaptação do conceito que trouxe este heroi para o cinema, mas independentemente de que versão tenha aparecido no mercado desde há décadas, para mim este Rei Macaco sempre foi o equivalente oriental ao Jar-Jar-Binks no Star Wars e portanto quem percebe esta referência já está a imaginar a tragédia e o quanto insuportável se pode tornar um personagem num filme de fantasia. E este ainda conseguiu ser pior, se é que tal lhes parece possível.

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[“The Monkey King 2: The Legend Begins“] apesar do subtitulo “The Legend Begins” é na verdade a sequela do filme “The Monkey King” de 2014. Ou melhor, por acaso pareceu-me quase uma espécie de -reboot- não assumido desta franchise oriental. [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] está para “The Monkey King” e para a série de adaptações clássicas de filmes Chineses -“Journey to the West”- como o novo Star Wars – The Force Awakens, está para o universo Star Wars.
Apesar de referenciar muitos dos acontecimentos anteriores, [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] é muito semelhante ao novo Star Wars na forma como usa tudo o que já foi feito anteriormente em cinema para de certa forma recomeçar a saga de -Journey to the West- e as aventuras de Monkey King com um novo fôlego.
E que fôlego meus amigos !

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Muito raramente se encontra uma sequela que melhore por completo o que foi feito no filme anterior mas [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] é definitivamente um verdadeiro manual de como se olha para um primeiro título e se consegue reparar practicamente todos os defeitos e falhas apresentadas na primeira adaptação.
Estava a ver isto e a pensar que quase parecia que o os criadores deste segundo filme tinham lido a minha review do primeiro “The Monkey King“, anotado cada uma das minhas queixas e melhorado tudo o que eu tinha apontado de negativo. Curiosamente, ao ler um par de outras reviews profissionais na internet, notei que também outras pessoas sentiram exactamente o mesmo que eu senti e também pela mesma razão gostaram agora também mesmo muito desta sequela.

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Afinal [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] é bom porquê ?
Para dizer a verdade, isto começou e durante os primeiros vinte minutos ou algo assim, eu já pensava – not again – e já me preparava para desancar forte e feio também nesta sequela.
Para quem viu o primeiro capítulo disto (não é obrigatório), certamente também o inicio desta sequela lhes irá parecer mais do mesmo. O personagem continua insuportável, acontecem lutas em animação CGI histérica desde o primeiros segundo sabe-se lá porquê pois não têm grande contexto para nos situar na acção e até se anda à porrada com um típico dragão chinês só porque este tinha mesmo que voltar a aparecer no filme, (pois é realmente muito cool sim senhor) e não havia maneira de certamente o encaixar noutra parte da história.
Portanto, tudo péssimo no início deste filme, sem olharmos para isto em comparação com o que esperávamos que tivesse evoluído desde a primeira aventura.

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No entanto, continuem com o filme e vão descobrir que pouco a pouco irão ficar estranhamente mais interessados em tudo o que se passa no ecran e quando vocês darem por isso já estão a adorar aqueles personagens. Personagens que à partida parecem vir a ser tão rídiculos quanto o heroi mas que quando vocês chegarem ao final deste filme, mal podem esperar para os voltar a ver numa parte 3 que espero sinceramente que seja produzida com a qualidade e identidade deste segundo capítulo.
Atenção, toda a minha review enquadra-se num contexto de cinema de Fantasia. Se vocês não têm qualquer interesse por dragões, feiticeiros, cidades encantadas e montros míticos chineses, então é melhor passarem à frente e irem ver outra coisa qualquer que eu tenha recomendado por aqui.
Se chegaram até aqui, gostam de Fantasia e procuram uma história que se torna absolutamente cativante então estão no sítio certo.

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Aliás, o grande trunfo de [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] está no facto de ir melhorando a cada minuto que passa. Este foi para mim um daqueles raros filmes em que senti que o que ainda estava para vir ia ser melhor e felizmente desta vez não me enganei.
Especialmente a nível de personagens.
Felizmente que alguém percebeu que o “The Monkey King” anterior precisava mesmo de uma renovação e de um grande melhoramento a nível de humanização dos herois para deixar de ser apenas o festival técnico de CGI sem alma que caracterizou o primeiro filme.
E é precisamente na humanização dos herois que [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] desta vez acerta em cheio.

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Não parece ao início; a quantidade de efeitos digitais em modo ultra histérico continua absolutamente elevada a todo o instante mas mais uma vez se demonstra que se calhar um mau filme não está no exagero de efeitos digitais ou num excesso de cenas com efeitos especiais mas sim no facto de muitos filmes suportados em efeitos não os conseguirem mostrar dentro de um contexto concreto com pesonagens de que fiquemos a gostar.
[“The Monkey King 2: The Legend Begins“] pega em tudo o que falhou no primeiro filme a nível de personagens e exagero de efeitos sem alma, para melhorar tudo isso e desta vez temos uma história que trata tão bem os seus protagonístas que depois o exagero de efeitos já nem parece problemático; isto porque tudo está em perfeito equilíbrio precisamente porque desta vez ficamos mesmo a gostar de acompanhar cada um dos herois sem sentirmos que andam perdidos em intermináveis cenas de ecran verde para nada.

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[“The Monkey King 2: The Legend Begins“] é um filme que sabe quando deve parar. Pelo meio de tanta porrada digital, tanto efeito, tanto design espectacular ainda sobra espaço para um excelente desenvolvimento de personagens. A história está polvilhada de pequenos momentos que humanizam cada heroi (e até a vilã) e ainda consegue arrancar um par de momentos verdadeiramente dramáticos no melhor dos sentidos. É nessa altura que nos apercebemos que se calhar esta filme é bem melhor do que nos parecia pois damos por nós a nos importarmos realmente com a relação entre os personagens.

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E suspense. Este filme consegue ter suspense ! Até mesmo numa história de fantasia algo formulática em termos de estrutura consegue criar um par de momentos de tensão bastante bons que só contribuem para o espírito de aventura geral. E consegue isto até mesmo em cenas completamente afundadas em animação de CGI, o que não deixa de ser um feito notável.
Da mesma forma que os personagens vão ficando mais complexos, também a animação digital vai ficando mais espectacular e as cenas de acção vão se tornando mais histéricas. Só que desta vez tudo resulta, porque todo o filme já encontrou o seu equílibrio à muito.
Deixem-se levar por este universo e vão encontrar um dos melhores mundos de fantasia dos últimos tempos.

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Em termos de acção nota-se um esforço evidente para que cada cena de porrada apresente algo diferente. Nem sempre resulta, mas percebe-se que o filme está cheio de boas tentativas de nos divertir com cenas de luta o mais variadas possível.
[“The Monkey King 2: The Legend Begins“] é um filme de artes marciais dentro daquele estilo –Fantasia– muito assente em acrobacias com fios (que muita gente não gosta), passado num mundo algo semelhante ao de “The Promise” ou “The Restless” e é tudo o que por exemplo o ultra-decepcionante “Monk comes down the mountain” não conseguiu ser no que toca à criação de um universo de fantasia único envolvendo lutas de artes marciais.

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É certo que em [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] os efeitos especiais continuam a ser por demais, mas desta vez como tudo está bastante bem equílibrado quanto a mim isso só contribui mais para nos transportar para um verdadeiro mundo encantado, numa China mítica que tem algo a ver também com o espírito das Mil e Uma Noites…e…macacos me mordam se não há por aqui neste filme um par de piscadelas de olho aos filmes de aventuras arábicas do clássico criador de efeitos especiais Ray Harryhausen (filmes de Sinbad dos 50,60,70s); pois a cena da luta contra os esqueletos neste filme parece ser uma verdadeira homenagem à cena clássica do filme com as aventuras de Sinbad que muita gente interessada pelo cinema de Fantasia clássico, conhece.

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Adoro quando um filme de fantasia me consegue realmente transportar para um mundo imaginário e há muito que não via algo que tivesse tido esse efeito da forma como [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] o fez agora. Nem os recentes -The Hobbit- de Peter Jackson tiveram esse efeito em mim na sua totalidade e muito menos tinha encontrado qualquer título oriental recente que tivesse conseguido criar um mundo realmente único dentro do género da Fantasia desde “The Promise” há dez anos atrás; talvez com excepção do divertido “Dragons Nest: Warrior´s Dawn” no que toca ao puro cinema de animação.

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[“The Monkey King 2: The Legend Begins“] acerta em cheio na criação de um mundo imaginário. Apesar de ser assumidamente –cinema de Photoshop– essencialmente, consegue no entanto abrir-se a uma escala épica que tinha faltado em absoluto ao primeiro “The Monkey King“. Desta vez já tudo não se passa apenas num único ambiente e os nossos herois fazem realmente uma veradeira viagem por um mundo de fantasia onde encontramos as paisagens mais variadas e imaginativas que para mim são absolutamente essenciais quando se pretende transportar o espectador para um outro universo.

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Os herois viajam por desertos, florestas, vales, montanhas sem neve, montanhas com neve, cidades em ruínas, capitais épicas (com sabor a Mil e Uma Noites), templos perdidos, torres demoníacas, masmorras e todo um sem numero de locais que adorei percorrer e que contribuiram totalmente para solidificar aquele mundo de fantasia que mesmo construído em CGI sente-se no entanto como real; (essencialmente porque assenta em bons personagens).
Em vários momentos parece que estamos  a ver um excelente livro ilustrado com um qualquer conto de fadas muito imaginativo visualmente e portanto nota alta para o concept-design desta aventura.

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E por falar em personagens, o filme pode chamar-se [“The Monkey King 2: The Legend Begins“], mas desta vez, felizmente já tudo não precisa de girar à volta do protagonísta. Na verdade senti que os criadores deste filme perceberam que o -“sindroma Jar-Jar-Binks”– poderia realmente continuar a dar cabo desta saga e desta vez o próprio Monkey King mesmo apesar de continuar histérico com o raio e com um riso absolutamente irritante está no entanto mais contido. Não só tem momentos de pausa muito bons em que podemos vislumbrar uma verdadeira humanização por detrás do personagem, como este faz parte de um grupo mais vasto e funciona mais como complemento central onde toda a história assenta do que própriamente tem o papel central.

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A haver um heroi se calhar é o personagem do monge que tem a missão de viajar para Oeste em busca dos escritos sagrados do Budismo, mas mesmo este não resultaria se não estivesse apoiado pelos restantes membros do grupo de herois e portanto temos aqui um verdadeiro -ensamble cast- em vez da história ser apenas uma desculpa para cenas de acção histéricas com o Monkey King. Todos os personagens importam e tudo resulta por causa dessa química que há entre eles e que nos fazem gostar de acompanhar o seu destino.

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[“The Monkey King 2: The Legend Begins“] é também um filme sobre o vilão da história. Ou melhor, sobre a vilã. Uma verdadeira feiticeira completamente inspirada na bruxa má da história da Branca de Neve (ou pelo menos parece) e que acaba por ser o coração emocional do filme, até na forma como a sua história está depois ligada ao próprio destino do monge e irá afectar toda a acção e desenvolvimento dramático no segmento final da aventura que resulta em pleno.

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Este personagem da feiticeira é um espectáculo. Não só a caracterização e o design são perfeitos, como depois tudo o que envolve efeitos especiais em torno da sua Magia é absolutamente cativante. [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] contém realmente muito boa animação CGI e se calhar não se nota, mas é nos momentos mais calmos envolvendo o personagem da vilã que nos damos conta como bons efeitos digitais quando resultam realmente contribuem para nos transportar para um mundo imaginário e nem por um instante nos lembramos que estamos a ver um persoangem de fantasia.

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Já falei sobre a origem desta história noutras reviews, mas para quem não sabe “Journey to the West” é assim uma espécie de saga da literatura clássica chinesa com uma forte tradição budista e em termos de comparação com Portugal é quase o equivalente aos “Lusíadas” só que com muito mais imaginação como podem ver pelos filmes se já os conhecem.
O Rei Macaco é apenas um dos persongens dessa saga mas é um dos herois míticos mais populares da China.
Curiosamente esta nova franchise do “Monkey King” é quase uma sequela (e prequela também) de um dos títulos orientais que já comentei por aqui, chamado “A Chinese Tall Story” e que na verdade é outra adaptação de mais um bocado desse texto clássico chinés (texto por demais enorme para ser adaptado num único título mas com material para aventuras inesgotáveis que certamente ainda iremos continuar a ver muito pelo cinema de fantasia chinês).

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De resto, o que mais dizer sobre este filme ? Falha no quê ?…
Bem, se calhar muitos cenários digitais são exageradamente digitais, se calhar tem alguma acção demasiado exagerada; mas a verdade é que desta vez isso não é de todo um problema. Só o facto de eu estar aqui a tentar esforçar-me para encontrar algo de verdadeiramente mau sobre este filme para postar aqui, é sinónimo de que se calhar achei [“The Monkey King 2: The Legend Begins“] ainda melhor do que eu pensei.

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Ah, e a banda sonora não se nota à primeira, mas é excelente e absolutamente perfeita para este tipo de história. Só me apercebi o quanto a música deste filme tem personalidade quando a estava ouvir nos créditos e fiquei com  vontade de comprar o cd  e tudo.
E por falar em créditos, vejam o filme até ao fim. 😉

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CLASSIFICAÇÃO:

Ainda pensei atribuír-lhe “apenas” cinco tigelas de noodles porque isto afinal não será própriamente o Casablanca e é apenas um filme de efeitos especiais bastante bom, mas a verdade é que eu realmente adorei [“The Monkey King 2: The Legend Begins“].

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Como cinema de Fantasia foi dos títulos que mais gostei nos últimos anos e acima de tudo gostei do facto de não ter gostado dele no início mas depois ao acabar só me apetecia ver uma terceira aventura e é muito raro encontrar cinema de efeitos especiais num modo histérico que me consigam cativar tanto.
Este vou comprar mesmo em Blu-Ray pois aposto que a versão 3D vai ser realmente fantástica, até porque o filme está cheio de momentos visuais que irão resultar muito bem de certeza absoluta nesse formato. Normalmente nem tenho grande curiosidade pelo 3D mas abro uma excepção concerteza para esta aventura.

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Transportou-me verdadeiramente para um mundo imaginário que não questionei de todo e só por isso vale cinco tigelas de noodles e um Golden Award.

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A favor: corrigiram tudo o que estava mal no primeiro filme da saga, desta vez temos personagens de que gostamos, a vilã é fantástica, é muito variado em termos de ambientes e criaturas imaginárias, tenta variar também  nas cenas de luta, consegue criar um mundo de fantasia sólido mesmo com todo o cgi à mistura, excelentes paisagens, parece um livro ilustrado em muitos momentos, bom sentido épico, boa banda sonora, muito divertido, deixa-nos com vontade de continuar a acompanhar aqueles personagens

Contra: os primeiros vinte minutos são algo caóticos e tudo parece banal e mais do mesmo em relação ao primeiro título de 2014, é cinema photoshop e portanto se são alérgicos a efeitos especiais deste género podem não gostar disto, se não gostam de cinema de fantasia em jeito de conto popular chinês esqueçam este título.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

 

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt4591310

Outra review:
http://www.hollywoodreporter.com/review/monkey-king-2-film-review-860996

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Mtime.com

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COMPRAR BLURAY [várias opções à venda no Oriente]

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COMPRAR BLU-RAY REGIAO ZERO/LIVRE na YesAsia
http://www.yesasia.com/us/the-monkey-king-2014-blu-ray-3d-2d-taiwan-version/1035437909-0-0-0-en/info.html

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http://www.dddhouse.hk/products/monkey-king-2-the-3d2d-blu-ray-2016

(Em Hong Kong na Play Asia, sai em Maio de 2016 – várias opções)
BLURAY [região zero]
3D e 2D – http://www.play-asia.com/the-monkey-king-3d2d/13/707qw5
3D apenas – http://www.play-asia.com/the-monkey-king-3d/13/707qvt
2D apenas – http://www.play-asia.com/the-monkey-king-2d/13/707qvx

DVD [região zero(?) por confirmar ainda…]
http://www.play-asia.com/the-monkey-king/13/707qvp

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Se gostou deste irá gostar de:

A Chinese Tall Story capinha_Themonkeyking capinha_sorcerer_and_white_snake capinha_restless capinha_snow-girl

capinha_vikingdom capinha_dragon nest The Promise

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Mo gong ( Battle of Wits – aka – Battle of the Warriors) Chi Leung ‘Jacob’ Cheung (2006) China


No outro dia ao desiludir-me bastante com “Red Cliff“, lembrei-me que este era bastante semelhante a outro titulo mais antigo que eu tinha comprado há anos mas de que ainda não tinha falado aqui, pois por qualquer motivo é um daqueles dvds que nunca mais tinha revisto e como tal, decidi tirar o pó do disco a [“Battle of Wits“] porque esta é mesmo a altura certa para falar deste filme no blog até por uma questão de comparação entre títulos semelhantes.

Tanto “Red Cliff” como [“Battle of Wits“] são filmes de guerra semelhantes, porque essencialmente assentam mais sobre as estratégias de guerra, tácticas de movimentação de exércitos, planos de combate e intrigas políticas ou palacianas do que própriamente sobre herois e heroínas que vivem aventuras em mundos Wuxia ou de ambiente medieval e como tal são filmes com uma estrutura muito parecida.

Em ambos os casos, temos dois exércitos em confronto que se analisam um ao outro e onde a maior parte das cenas se passam naquela guerra de muralhas e paliçadas onde as estratégias de invasão se sobrepõem á sequências de acção pura e simples.
Também a nível de personagens os filmes se tocam pois tanto “Red Cliff” como [“Battle of Wits“] contam com os inevitáveis generais caracterizados da forma habitual, com os guerreiros heroicos em estilo solitário, grandes estrategas militares, imperadores decadentes ou corruptos e claro, com a miúda gira da história que neste caso também é muito boa a andar á bulha pelo meio das cenas de batalha, pois é uma oficial de cavalaria.

Achei portanto, que tanto “Red Cliff” como [“Battle of Wits“] poderiam ter sido o mesmo filme. Se se trocassem os cenários e o guarda roupa, provavelmente o resultado teria sido o mesmo nos dois filme e ambos manteriam a sua identidade apenas por causa de um grande pormenor que os distingue.
[“Battle of Wits“] ostenta muito menos opulência visual que “Red Cliff” e como tal não tem aquele sabor a grande épico cinematográfico que exala por todos os frames desse filme e que tornou a obra de John Woo imediatamente muito menos interessante na minha opinião; apenas porque por detrás de tanto estilo visual espantoso tudo aquilo sempre me pareceu demasiado plástico e como espectador nunca consegui entrar naquele mundo pois tudo me pareceu fabricado para cinema e muito pouco real.

Algo que não me aconteceu de todo agora em [“Battle of Wits“].
Ainda o filme não tinha começado á dez minutos e já eu me tinha esquecido que estava a ver um épico cinematográfico. Isto porque pura e simplesmente, nada em [“Battle of Wits“] nos lembra que são cenários contruidos para um filme e nada no estilo visual chama constantemente a atenção para o que aparece no ecrã.
Acompanhar [“Battle of Wits“] é como espreitar por uma máquina do tempo e contemplar o passado; ter acompanhado “Red Cliff” para mim foi como estar a desfolhar um livro sobre design e construção de cenários para cinema. Por muito que eu tenha adorado o fantástico estilo visual do filme de John Woo prefiro mil vezes a contenção estética de [“Battle of Wits“] e o estilo completamente natural dos ambientes e arquitecturas pois transportam o espectador para o passado. Não o deixam do outro lado da televisão a contemplar ambientes gráficos quando estes deveriam servir os personagens e não gritar – superprodução cinematográfica – a todo o instante.

Portanto, em comparação, nota alta para [“Battle of Wits“] logo por este início. Tudo nesta história parece visualmente real e quem gostou da estética realística e crua de Musa the Warrior tem aqui um filme muito semelhante gráficamente falando que  irá certamente agradar a quem procura este tipo de atmosfera visual.
Infelizmente a nível de argumento, também [“Battle of Wits“] é um daqueles filmes que me custa bastante a absorver, mas isto é uma questão de gosto pessoal pois como já referi em posts anteriores, o género de intriga politica e palaciana é algo que me aborrece de morte. Portanto para mim foi muito dificil arrastar-me pelos primeiros vinte minutos deste filme.

No entanto a sua atmosfera cativou-me e cedo também os personagens se começaram a delinear bem mais interessantes do que em por exemplo, mais uma vez “”Red Cliff“.
Não quero parecer estar aqui a ser muito duro com o filme de John Woo até porque gostei do que vi, mas é impossível não compará-lo com [“Battle of Wits“] pois são bastante semelhantes temáticamente e estruturalmente e como tal em termos de gosto puramente pessoal eu penso que esta produção bem menos extravagante é muito mais interessante.

Muita gente em reviews na net critica um pouco os personagens deste filme por causa de serem um bocado estereotipados e parecerem apenas ter sido criados para fazer brilhar as estrelas Pop chinesas que pelo visto entram nisto. Eu como não conheço nenhum destes gajos que entram nos papeis secundários, por mim estão todos muito bem e nem me pareceu sequer que o personagem do soldado arqueiro tenha sido criado para imitar o “Elfo Legolas” do “Lord of the Rings” embora perceba a razão de muita gente referir essa sensação pois o seu papel e dinâmica em [“Battle of Wits“] pode ser semelhante.
Como no entanto, a mim nem me pareceu que isto estrague própriamente o filme por mim que se lixe e passa á frente.

Coisas boas. [“Battle of Wits“] tem muito ambiente e conta com além de Andy Lau sempre seguro, também com o carismático actor sul-coreano que vocês vão reconhecer de “Musa the Warrior” onde personificava o velho e sábio guerreiro veterano e que neste caso faz de general invasor.
Se bem que este filme também seja cativante pelo facto de não ter herois e vilões mas sim, tal como em “Musa the Warrior“, apenas guerreiros em facções politicas opostas e sobre este detalhe [“Battle of Wits“] conta com uma simples e fascinante cena em frente da fortaleza cercada, onde os dois oponentes se encontram cara a cara e que define todo o tom da história; onde a haver vilões, estes serão claro está, os políticos que tudo manobram nos bastidores e que causarão mais mortos e tragédia do que quem faz a guerra por eles, o que não deixa de ser uma mensagem subliminar sempre interessante neste tipo de histórias.

E por falar em cenas de guerra, não só todas as batalhas têm um tom de guerra fascinante como ao vê-las nem me lembrei que estava a ver cenas coreografadas para um filme. Bem ao contrário do que me aconteceu em “Red Cliff” onde além de as cenas de invasão da parte final terem sabido a pouco e nem sequer terem sido particularmente impressionantes a nível criativo tudo me pareceu apenas guerra cinematográfica a todo o instante; coisa que nunca me aconteceu notar agora em [“Battle of Wits“].

Não só todas as cenas de invasão são muito variadas, como a nível de argumento as ideias para estratégias e planos de guerra são todas muito criativos e até bem surpreendentes em alguns momentos. E o melhor é que tudo isto é conseguido sem dar a impressão que estamos apenas a ver um filme, o que quanto a mim é o melhor trunfo que um épico histórico pode ter. Conseguir transportar o espectador para o passado e [“Battle of Wits“] consegue-o bastante bem na minha opinião.

A nível de história, não será propriamente algo tão interessante assim, e neste campo talvez até “Red Cliff” tenha tentado ser melhor e ir mais longe, mas [“Battle of Wits“] é essencialmente um filme sobre estratégias militares e sobre um combate de teimosias entre dois comandantes em ambos os lados da paliçada. A tal “battle of wits” que não tem uma verdadeira correspondente tradução directa na nossa lingua, mas que também se poderia traduzir por algo como “guerra de determinação” ou algo semelhante, pois é esse o coração do filme na sua essência.
[“Battle of Wits“] é um filme sobre dois homens, sobre os poderes que estão á sua volta e sobre o facto de só um deles poder sair vencedor de uma guerra que na verdade não tem qualquer sentido a não ser o de cimentar a sua honra e reputação ao melhor estilo filme de guerra medieval chinés.

Tudo gira á volta da invasão e defesa de uma cidade e tudo tem a ver com guerra, estratégia e politica, mas [“Battle of Wits“] tem ainda tempo para dedicar algumas sequências á inevitável história de amor. Neste caso, talvez mais para abrir o filme ao público feminino do que propriamente para criar algo memorável dentro do género romântico em filmes de guerra.
Por exemplo não encontrarão aqui a assumidamente romântica história de amor de “An Empress and the Warriors“, mas mesmo assim quem procura um toque de romantismo ao melhor estilo cinema oriental, penso que também irá ficar satisfeito com o que [“Battle of Wits“] tem para contar neste aspecto.
Tudo muito breve, mas resulta bem e humaniza o personagem de Andy Lau que até então mais parecia uma espécie de Obi-Wan-Kenobi da estratégia militar pois faz parte de uma ordem de guerreiros quase mística e do qual nunca se sabe muito ao longo de todo o filme.

As cenas românticas, são sempre muito secundárias e complementam bem toda a conversa estratégica, política e militarista do resto do argumento e ainda bem que os criadores deste filme as incluiram, porque conseguem criar uma carga de grande suspanse adicional no segmento final da história que agarra o espectador ao ecrã mesmo sem notarmos que não conseguimos desviar o olhar desses momentos. O desenlace romântico não foge muito ao habitual mas acaba também por transmitir um tom poético ao final de [“Battle of Wits“] o que é sempre bem-vindo.

Consta que isto é a adaptação de um Manga muito popular no Japão, mas como eu não o conheço nem nunca o li, não posso tirar grandes considerações sobre o mesmo. Por outro lado também acho que nem interessariam muito, pois mesmo que isto nem sequer seja uma grande adaptação da banda-desenhada, quanto a mim é um dos filmes mais interessantes de guerra em estilo super-produção que saiu da China recentemente e nesse aspecto bem mais carismático que “Red Cliff” sem precisar de tanta opulência gráfica para ser notado e apreciado.

Quem procura um épico de guerra chinés, penso que irá gostar bastante.
Na minha opinião, [“Battle of Wits“] talvez tenha duração a mais e não lhe fazia mal ficar sem uns quinze minutos talvez, isto porque se repete um pouco quando não há muito mais para dizer sobre honra, dedicação e patriotismo sem começar a tornar-se mais do mesmo. No entanto, como a história romântica intercala bem tudo o resto a coisa equilibra-se e não será por aqui que o filme perderá grandes pontos. Apenas poderia ter tido uma montagem mais dinâmica talvez.

Penso que irá agradar a quem procurar cenas de guerra medieval com grandes exércitos. As batalhas são muito variadas e divertidas, mesmo quando não são espectaculares. Neste campo é onde se nota o melhor do trabalho do realizador, pois penso que ele é fantástico a gerir toda a movimentação de figurantes e a transformar o pouco em muito.
Consegue algumas cenas bem espectaculares e acima de tudo divertidas pois são bem entusiasmantes ao longo de todas as cenas de guerra e quando um filme é essencialmente composto por cenas de batalha e pouco mais é notável como se consegue manter sempre equilibrado sem se tornar monótono.

Por outro lado, [“Battle of Wits“] não é um daqueles filmes de guerra com milhares de figurantes a lutar em cenas de exércitos gigantes no meio de planícies ou algo assim. É um filme de guerra de cerco e que se calhar já merece ser classificado como um sub-género dentro do cinema deste estilo.
Em vez de cenas épicas com milhares de figurantes temos cenas muito dinâmicas com algumas centenas de gajos a matarem e morrerem de todas as formas e mesmo assim, uma cena de cinco minutos de guerra deste filme tem mais entusiasmo do que quase duas horas de  “Mulan” o que já não é mau de todo.

Por falar em mau, [“Battle of Wits“] só tem uma coisa péssima.
Os maus efeitos digitais quase que arruinam algumas das cenas de batalha. Sejam a mostrar exércitos com soldadinhos feitos em CGI a marchar algo amadoramente em termos técnicos no que toca a animação, seja em muito fogo digital ou ainda em sequências inteiras com homens e cavalos tudo muito mal integrado na acção, por momentos ás vezes parece que [“Battle of Wits“] poderá tornar-se mesmo bastante foleiro e piroso quando tenta ser espectacular.
O que vale é que se calhar muita gente nem vai notar, pois felizmente são poucos e breves. Além disso a variedade do que acontece nas batalhas também contribui para distrair bastante o espectador e como tal penso que não se deve penalizar muito este filme por isto também.

Também poderia ter tido mais sangue. Num filme de guerra com tanta acção corpo a corpo e sequências em estilo cru com alguma violência tem muito pouca gente cortada aos bocados e practicamente nenhum sangue a espirrar; o que não deixa de ser estranho pois retira-lhe logo algum do dramatismo que poderia ter tido nas cenas de guerra. Se ás vezes sentirem que falta qualquer coisa no meio de tantas cenas de acção, já sabem. Falta sangue, pois surpreendentemente [“Battle of Wits“] é uma produção bastante politicamente correcta quando comparada com outras coisas semelhantes como “The Warlords” ou “Musa the Warrior“.

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CLASSIFICAÇÃO:

Não será propriamente o meu filme de guerra medieval chinês favorito, mas é uma boa alternativa a quem procura um bom épico neste estilo e gostou da atmosfera visual de por exemplo, “Musa the Warrior“.
Tem atractivos suficientes para divertir e é bem mais variado e épico que “Mulan” por exemplo sem sequer se esforçar por sê-lo. E aposto que irá agradar muito a quem procura um bom filme de guerra onde a estratégia de batalha é o centro da história e terá ficado tão desiludido com “Red Cliff” quanto eu fiquei.
Sendo assim, quatro tigelas e meia de noodles porque é mesmo muito bom e só não leva mais porque achei que tem duração a mais e arrasta-se algo pelo meio.

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A favor: excelente ambiente cénico pois nem nos lembramos que são cenários construídos para um filme, boas e muito variadas cenas de batalha com estratégias de combate divertidas e imaginativas além de muitas vezes serem empolgantes, excelente realização particularmente na gestão das cenas de acção e na forma como as narrativas se cruzam, os personagens não são originais mas são na sua grande parte muito carismáticos, dois excelentes actores como antagonistas, é um filme de guerra com alma e muito para dizer mesmo subliminarmente, boa e simpática história de amor que ainda consegue arrancar um excelente momento de suspanse na parte final.
Contra: tem duração a mais e talvez se repita em alguns pontos já antes abordados, arrasta-se um bocado a meio da sua duração, os efeitos digitais são muito fraquinhos mesmo em alguns momentos, os personagens poderiam ter sido mais originais embora eu compreenda que isto não seja nada fácil de fazer, falta-lhe sangue pois tem carnificina aos montes mas é demasiado politicamente correcto no uso de cenas gore e nem tem sequer uma decapitaçãozinha nem nada, é um bom filme mas não lhes ficará na memória pois falta-lhe qualquer coisa para ser realmente fantástico.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=WdX_cNu9dCw

Comprar DVD ou  BluRay na Amazon Uk bem baratinhos

Download aqui com legendas em PT/Br

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0485863

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Narok (Hell) Tanit Jitnukul; Sathit Praditsarn; Teekayu Thamnitayakul (2005) Tailândia


A genialidade do cinema Tailândes para produzir filmes absolutamente inacreditáveis não pára de me surpreender embora  nada me preparasse para me divertir tanto num filme chamado [“Hell”].

Ainda estou a tentar perceber se o filme foi feito assim de propósito ou se isto deverá ser mesmo para rir.
É que pelo trailer pelo menos fiquei com a ideia de que alguém levou esta história mesmo muito a sério e [“Hell”] supostamente deveria ser um filme de absoluto terror aterrorizantemente aterrorizante que visaria explorar o pecador que há em nós, mas…
Então porque raio é que isto é uma das melhores comédias dos últimos anos ?

Estou muito baralhado. [“Hell”] é absolutamente hilariante e tem tanta coisa divertida que nem sei por onde pegar.
Para começar é um daqueles filmes maus como o raio e um titulo que encheria de orgulho o próprio Ed Wood se este tivesse nascido na Tailândia e fizesse filmes hoje em dia. Por outro lado, [“Hell”] acaba por nem ser tão mau quanto isso, porque até tem muitas coisas boas.

Tem um conjunto de personagens muito interessante e bem trabalhado que nos faz importar com o seu destino ao longo de toda a história. Além disso tem um ritmo narrativo excelente onde estão sempre a acontecer coisas e tudo o que acontece não só é diferente e criativo como interessante de seguir; o que não deixa de ser fascinante visto que pelo visto [“Hell”] teve trés realizadores por detrás da câmara para filmar 90 minutos de aventura e fantasia.
A verdade é que tudo resulta bastante bem e nem se nota que foi um trabalho tripartido por várias pessoas.

[“Hell”] começa bastante bem, com um prólogo de mais ou menos 15 minutos onde se conhecem as vidas normais dos protagonístas e onde nada remete para aquilo que depois o filme vai mostrar. Esse início está bastante bem trabalhado e em breves vinhetas percebemos logo que os personagens não só são bastante variados como as suas vidas e problemas cativam o espectador sem precisar de haver grandes diálogos ou momentos de exposição.

No entanto quando começam as sequências sobrenaturais é que as coisas aquecem (hehe) !
[“Hell”] conta a história de um grupo de pessoas que sofrem um acidente de automóvel e são levadas em coma para o hospital. Apesar de apenas um deles estar morto e ter ido parar ao inferno o problema é que a sua alma arrastou consigo os espiritos dos companheiros que se econtravam no limbo devido ao coma e toda a gente subitamente se vê transportada para o Inferno (esse mesmo) numa espécie de viagem de finalistas com muitas surpresas á mistura.

Quando estes chegam ao Inferno,  parece que de repente voltamos aos anos 80 e áqueles filmes que tentavam copiar Conan o Bárbaro de John Millius mas faziam-no sem orçamento nenhum filmando tudo numa pedreira local com montes de gente em tronco nu e machados de plástico. Como tal a primeira impressão que temos do Inferno enquanto espectadores é que o filme está lixado pois tudo vai ser do piorio dali para a frente.

Na verdade, é e não é.
Eu explico.
Tendo em conta a óbvia falta de orçamento de [“Hell”] não deixa de ser muito surpreendente constatarmos no ecran o esforço dos criadores deste filme para tentarem criar ambientes épicos larger than life sem terem dinheiro para o fazer correctamente.
Como tal, mal chegamos ao local onde as coisas começam a ficar quentes, constatamos que o Inferno é mesmo uma colecção de maus efeitos digitais no pior estilo Photoshop amador como já vem sendo tradição no moderno cinema Tailandês e onde parece que ninguém leu o manual de como se faz uma boa montagem digital.

Além disso, também não deixa de ser infernal termos que levar quase sempre com um incómodo filtro vermelho constante por cima de quase todas as sequências no exterior do Inferno. Sim, porque o Inferno também tem interiores.
Na verdade o Inferno parece ser um mundo de fantasia fascinante e onde se nota um grande esforço para tentar criar uma atmosfera infernal coerente a todo o instante por parte dos criadores do filme.
É como uma espécie de Terra Média (onde nem faltam uns gajos tipo Huruk-Hai), montada a Photoshop e filmada numa pedreira atrás do estúdio local, mas não há dúvida que a coisa até resulta bem melhor do que eu alguma vez esperaria quando me apareceram pela frente as primeiras sequências passadas no Inferno em [“Hell”].


Essencialmente ficamos a saber que o Inferno tem uma saída e que independentemente dos erros que tivermos cometido na Terra quando acabar a nossa pena lá , temos direito a uma nova reencarnação.
É assim como ir á tropa para os comandos, sofrermos como o raio na recruta mas depois seguir em frente depois de todas as torturas, o que não é um mau conceito, tendo em conta que na versão ocidental do local parece que a malta fica lá para sempre se for parar ao Inferno.
Neste não e como tal quando os herois descobrem esse pormenor todo o filme gira em volta da sua tentativa de voltar para casa, até porque quase todos foram lá parar por engano.

Tudo isto resulta bem em [“Hell”], a ideia está engraçada, nota-se o esforço para criar um mundo paralelo com identidade e a estrutura de filme de fantasia até quase resulta.
Então porque isto é tão hilariante assim ?
Bem para começar as cenas de terror são de cair a rir. [“Hell”] esforça-se tanto por ser um filme gore daqueles extremos ao nível nojento que á força de tanto exagero acaba transformado num desenho animado da Warner Bros com bocados de corpos a saltar por todos os lados.

As cenas de tortura em [“Hell”] são a melhor comédia involuntária dos últimos anos e são tão crueis e sangrentas que não conseguimos conter as gargalhadas, especialmente na sequência em que os herois exploram a área onde as almas pecadoras são retalhadas, sangradas, enforcadas, esquartejadas, queimadas vivas, violadas, etc, etc, etc.
Tudo hilariante!
A sério, este filme tem as cenas de terror mais cómicas dos últimos anos, precisamente porque parece levar tudo aquilo muito a sério e a ideia parece ter sido a de arrepiar o espectador tentando-o convencer a levar uma vida sem pecado, pois de outra maneira irá acabar neste sítio.
Aliás , toda a premisa em [“Hell”] é de que isto é uma história verdadeira. Acreditem se quiserem.

[“Hell”] é um filme tão pregador e moralmente educativo que mais parece um produto encomendado por uma daquelas igrejas evangélicas para assustar os fieis, pois isto é a típica e hilariante visão do inferno que costumam impingir e não tenho a mínima dúvida de que para muita gente [“Hell”] mais do que um filme de terror, será mesmo um documentário ! 🙂


Não há muito mais para dizer sobre isto. É divertidissimo, tem tanto aspecto positivo quanto negativo e mesmo assim, muito do negativo acaba por se tornar positivo. Isto porque esta coisa de se conseguir fazer um mau filme, tão mau que se torna genial não é para toda a gente mas estes tipos conseguiram-no plenamente.

[“Hell”] é genial em todos os sentidos porque é mau demais para ser verdade e no entanto resulta num nível completamente diferente do pretendido originalmente, aposto. É um série B de fantasia curioso, é uma comédia involuntária e pretende ser um filme de terror e esforça-se tanto por isso que a coisa segue exactamente o rumo oposto.
E ainda bem, pois nunca viram nada assim.
Eu por mim, depois disto só me apetece ir pecar.

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CLASSIFICAÇÃO:

Um verdadeiro filme de culto a pedir que seja descoberto.
Uma das melhores comédias involuntárias dos últimos tempos e mesmo assim consegue ser um filme de aventuras divertido com uma boa utilização do sobrenatural e algum drama bem inserido pelo meio.
É um produto muito estranho mas que resulta a vários níveis e vale mesmo a pena ser visto pelo menos uma vez, tanto por quem gosta de filmes de terror gore, como por quem quer ver um filme de fantasia com um conceito curioso.
Trés tigelas e meia de noodles, porque vale mesmo a pena e é bem mais divertido do que parece á primeira vista.

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A favor: bom grupo de personagens, conceito curioso e com detalhes bem desenvolvidos na história no que toca ao sobrenatural, tem baldes e baldes de sangue e pessoas a serem torturadas por todo o lado e por isso é hilariante porque nada resulta com o efeito de horror esperado, apesar do baixo orçamento a criação do mundo do Inferno está bem conseguida e variada quanto baste em termos de ambientes, tem um bom ritmo narrativo e está sempre a acontecer qualquer coisa divertida, tem tudo para se tornar num grande filme de culto pois é uma sangrenta e divertida aventura.
Contra: parece uma história moralista de propaganda cristã evangélica e poderá ser considerado um documentário serissímo por muito boa gente, parece um filme encomendado por um daqueles movimentos Pro-Vida hilariantes pois está cheio de contos morais e castigos infernais contra quem aborta, os efeitos especiais são do piorio, nota-se que não houve grande orçamento até para os cenários que apesar de variados são algo despidos de pormenores.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=GDde_REU-Bo

Comprar
http://www.play.com/DVD/DVD/4-/933740/Hell/Product.html

Download aqui com legendas PT/Br

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0467628

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Niji no megami (Rainbow Song) Naoto Kumazawa (2006) Japão


Mais uma vez os japoneses filmam uma história de amor tão diferente dos moldes ocidentais que eu me pergunto como raio é que eles conseguem fazer resultar estes filmes quando nos atingem de uma forma tão estranha por nunca se passar muito nesta histórias, ao contrário do que costumamos ver nos produtos ocidentais.

Na longa lista de candidatos a remakes americanos saída do oriente, aposto que nunca verão [“Rainbow Song“] e isto porque é mesmo daquelas histórias de amor que jamais seriam compreendidas por um qualquer executivo de Hollywood que tivesse de aprovar um projecto assim.
Até parece que estou a ver a cara do senhor a perguntar: – “Mas onde é que raio é que está a história neste filme ?”


É que [“Rainbow Song“] além de ser uma história de amor sem um casal de namorados, ainda por cima não tem a típica estrutura a que estamos habituados no ocidente ou em produtos mais comerciais, até porque tem bastantes tiques de cinema de autor mais experimentalista pelo meio, ora não fosse este filme uma produção do realizador de “All About Lily Chou-Chou” o que deve logo servir de aviso suficiente para muita gente se manter afastado disto.

Para começar a miuda morre no início e sendo assim lá se vai todo o suspanse romântico que poderia ser usado por Hollywood num remake. Depois todo o filme é narrado em flashback e acompanhamos a relação de um rapaz e uma rapariga que nunca chegam a vias de facto e ainda por cima quase no fim do filme a estrutura muda drásticamente e além de acompanharmos uma outra relação paralela em tom algo deprimente e que não tem nada a ver directamente com a história principal ainda nos é apresentada uma curta metragem isolada dentro do próprio filme.
Portanto, quem esperar encontrar em [“Rainbow Song“] a típica história de amor com adolescentes num estilo mais soft e comercial se calhar é melhor ir ver “My Girl & I” que é assim uma espécie de “Rainbow Song” mas em versão comercial.

No entanto, este filme é absolutamente fascinante precisamente por aparentemente nunca se passar nada na história mas ao mesmo tempo passar-se tudo ! 😉
Nunca paro de me surpreender com a eficácia do cinema japonês para contar histórias de amor naquele tom contido onde nem sequer se pronuncia um “amo-te” entre personagens mas cujo o efeito emocional nos bate mais forte do que alguma vez esperariamos, especialmente quando [“Rainbow Song“] tem um certo tom experimentalísta que ás vezes parece querer incluir esta história num patamar diferente do que precisaria ser.
Por outro lado, não há dúvida que cada vez gosto mais das histórias de amor adolescentes saídas dos Japão pela sua simplicidade e acima de tudo pela sua naturalidade.

Um dos grandes pontos altos de [“Rainbow Song“] está precisamente nisso. A meio do filme já nem nos lembramos que estamos a ver actores a desempenhar um papel ficcional e aquelas pessoas parecem-nos tudo menos pesonagens de ficção.
A naturalidade do “par romântico” neste filme é fantástica e tem uma das melhores químicas que me encontrei recentemente em histórias de amor orientais. O que ainda se torna mais fascinante, pois os dois protagonístas estão em cena em practicamente 95% de todo o filme e nunca nos fartamos de acompanhar a sua vida mesmo quando nesta não se passa de facto absolutamente nada !!

Nada no sentido dramático que costumamos ver em histórias de amor ocidentais e ainda menos quando estas são histórias de amor com adolescentes. Em [“Rainbow Song“] não há enganos , não há traições, não há rivais amorosos, não há drama teenager, não há nada.
Acompanhamos o dia-a-dia destas duas pessoas e é tudo. Nem sequer se passa algo de extraordinário no seu quotidiano.
Apenas acompanhamos um breve período da vida de duas pessoas que foram feitas uma para a outra mas onde nada se consumou por força de um destino trágico que conhecemos logo de início e como tal não esperem qualquer twist inesperado nesta história de amor, pois a sua força não está nos truques e reviravoltas do argumento mas sim no carísma dos personagens que ficamos a adorar mal passamos vinte minutos com eles.

Agora, [“Rainbow Song“] é um filme algo estranho, porque a sua estrutura anda ali algures entre o cinema comercial e o filme mais experimentalísta, (existencialista até). Quase no fim, entra por uma história de amor paralela algo estranha e termina em registo ainda mais experimentalísta quando nos é mostrado o filme que a protagonista estava a fazer, pois outra das coisas muito interessantes em [“Rainbow Song“] é o facto de ser um filme sobre cinema com um filme dentro de um filme e embora isso por vezes lhe confira um tom algo pretencioso a puxar para o estilo-obra-de-arte, a verdade é que ainda se torna mais curioso de o acompanharmos por causa disso.

O facto de ser um bocadinho Art-House não lhe retira no entanto a emoção e se vocês procuram uma história de amor oriental bastante curiosa e humana, recomendo vivamente que espreitem [“Rainbow Song“], pois na sua simplicidade (algo complexa), consegue cativar-nos e emocionar-nos nos momentos chave, pois faz-nos gostar muito do par protagonísta e damos por nós a desejar que a sua história acabe bem quando sabemos desde o início que irá acabar trágicamente.

Destaque também para os personagens secundários, muito variados e todos com momentos decisivos para a história que enriquecem este argumento onde se calhar se passa muito mais do que parece passar-se.
Desde o realizador histérico (e muito divertido) do início, passando pelo chefe da rapariga até á sua irmã cega, todos nos parecem muito mais do que apenas personagens de cartão que poderiam muito bem ter sido pois não têm muito tempo de exposição.

Se procuram uma história de amor diferente e gostam do estilo japonês de as contar, devem incluir este filminho na vossa lista também.

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CLASSIFICAÇÃO:

Resumindo, [“Rainbow Song“] é algo estranho e até ambiguo, mas como história de amor resulta em pleno pois acerta em cheio nos melhores toques emocionais sem precisar de entrar num tom melodramático apesar da premisa trágica da história.
É uma pequena história de amor japonesa que vale a pena verem, quanto mais não seja porque vão ficar a gostar muito do par romântico principal.
Trés tigelas e meia de noodles.

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A favor: a química entre o par protagonísta é fantástica, a naturalidade como toda a sua relação se desenvolve e o tom real de toda a história, bons personagens secundários, gostei muito da forma como está filmado especialmente nas sequências que envolvem o par protagonista, é uma história de amor cheia de alma e muito humana.
Contra: não precisava dos tiques Art-House para ser bom, a segunda história de amor é algo doentia e embora original dá uma carga de tristeza ao filme que na minha opinião seria desnecessária, por causa disso o filme está algo fragmentado no seu ritmo narrativo o que pode retirar algum do impacto emocional da principal história romântica.

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Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=TTDJdpD0VcI

Comprar
http://www.play-asia.com/paOS-13-71-7l-49-en-70-2oyx.html

Download aqui

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0804513

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Outros títulos “românticos” semelhantes em estilo:

concerto_capinha_73x 

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Hachikô monogatari (Hachi-ko) Seijirô Kôyama (1987) Japão & remake Usa: Hachiko: A Dog’s Story (Hachi: A Dog’s Tale) Lasse Hallström (2009) Usa


Esta história chegou até mim totalmente ao acaso no outro dia enquanto andava pelo Youtube á procura de trailers de cinema oriental e estranhamente ia sempre parar ao trailer de um filme recente com Richard Gere, chamado “Hachi – A Dog´s Tale” feito em Hollywood.
Surpreendentemente ou talvez não, o filme de Richard Gere revelou-se como mais um remake americano de outro filme oriental, mas curiosamente o próprio trailer da versão Usa tinha um certo encanto e identidade que me cativou imediatamente e me levou não só a querer saber mais sobre o filme Japonês original, como como acima de tudo, saber mais sobre esta história absolutamente tocante e fascinante.
E foi assim que cheguei a esta reportagem que antes de mais recomendo que toda a gente veja antes de continuarem a ler a minha crítica sobre [“Hachi-Ko“] pois vale mesmo a pena começar por aqui.


(Cliquem na imagem ou neste link, para verem a peça no Youtube,  pois o video original também não permite integração no blog).

Fascinante não é ?
É daquelas histórias que nos dão um nó na garganta quando paramos para pensar como terá sido acompanhar todo o caso original na época e tudo aquilo que depois veio a simbolizar para as pessoas nos anos seguintes.
E segundo o que tenho lido parece que os produtores do filme original [“Hachi-Ko“] não se pouparam a esforços no que toca aos detalhes da história e procuraram tentar reproduzi-la o mais fielmente possível quase de uma forma documental sem no entanto descurar o lado cinematográfico da narrativa.

O que veio a tornar [“Hachi-Ko“] num pequeno filme japonês deveras surpreendente na minha opinião.
Surpreendente porque ao contrário do que eu estava á espera com um tema destes, encontramos um filme bem contido e até certo ponto intimísta.
Material deste dava pano para mangas, no que toca a choradeira-galopante e [“Hachi-Ko“] poderia ter resultado num produto assumidamente produzido para fazer as plateias gastar lenços de papel aos quilos. No entanto, surpreendeu-me mesmo muito por tentar essencialmente contar uma história muito simples sem grandes exageros emocionais e não estava nada á espera disto.

Quando eu pensava que ia ver um produto totalmente ultra-comercial ao pior estilo americano, tipo Benji ou Marley & Eu onde se exploraria até á medula o sofrimento dos personagens e principalmente do cachorro, [“Hachi-Ko“] apareceu-me com uma história completamente oposta onde há espaço para todos os personagens e onde se conta acima de tudo a história, não apenas de um cão, mas principalmente de um acontecimento que marcou não só a história de Tokyo como também as vidas de muita gente.

E que história foi esta, perguntam aqueles que não viram o video acima ou não sabem inglés.
Essencialmente [“Hachi-Ko“] conta a história de um cão que foi adotado por um senhor algures nos anos 20 no Japão e da relação que se gerou entre ambos.
Durante um par de anos, todos os dias o cão acompanhava o dono até á estação quando este tomava o comboio para ir trabalhar e todos os dias o cão voltava ao fim do dia á mesma hora para esperar o senhor quando ele regressava.
Um dia o dono morreu e nunca mais voltaria a regressar a casa no comboio á mesma hora mas no entanto, durante quase dez anos, Hachi-Ko regressou todos os dias á hora do comboio chegar para continuar a esperar pelo dono que nunca mais viria, isto apesar da fome, do frio e de entretanto se ter tornado num cão vadio pois fugia sempre de todos os que o tentavam adoptar para poder voltar á estação todos os dias para esperar o ser humano que amava.

Ora, com um material destes, seria mais que natural que [“Hachi-Ko“] o filme, fosse um enorme pastelão em overdose sentimental mas no entanto é um pequeno filme quase intimista absolutamente notável e simpático. Isto pela sua simplicidade e pela forma como nos conta a tocante história de Hachi-Ko , filmando-a mais como um drama-de-época onde todos os personagens contam e não apenas como um filme para espremer lágrimas aos espectadores porque sim.

Não pensem no entanto que [“Hachi-Ko“] não lhes causará sucessivos nós na garganta e não pensem que não vão derramar uma lágrima ou duas…ou trés. [“Hachi-Ko“] emociona e muito, mas emociona pelas razões certas, pelo significado da história, por ser uma lição de vida ao mesmo tempo que acaba por ser um filme sobre a solidão e a dedicação.
Poderá parecer-vos no entanto, um filme algo vazio durante quase toda a maior parte do tempo, pois practicamente setenta por cento do filme é passado em apresentar-nos as pessoas que fizeram parte desta história e não encontrarão em [“Hachi-Ko“] muito cliché habitual á volta do facto do personagem principal ser um cão.
Nota-se que houve um esforço dos argumentistas em manterem-se fieis aos acontecimentos e por isso o filme não está carregado de momentos inventados com o único objectivo de fazer chorar as plateias de X em X tempo para se manter fiel ao que esperariamos do género.

A grande virtude de [“Hachi-Ko“] está nesse aspecto. Conta uma história, fá-lo de uma maneira simples e muito, muito atmosférica assente numa recriação de época quase mágica e onde tudo se conjuga para nos levar até ao seu final onde Hachi-Ko “reencontra” finalmente o seu dono á porta da estação e que os fará chorar baba e ranho pois toda a contenção emocional durante o resto do filme foi orquestrada de modo a que apenas nesse momento os espectadores sintam verdadeiramente o significado de tudo o que Hachi-Ko passou para se reunir com quem gostava.
Quem conhece o livro “Timbuktu” de Paul Auster e adorou essa história principalmente no seu  final, tem aqui em [“Hachi-Ko“] algo de características muito semelhantes tanto na forma como a história é resolvida como na própria emotividade e poesia da resolução. Se gostaram de “Timbuktu” vão adorar este filme.
Se gostarem muito deste filme não percam de forma nenhuma o livro “Timbuktu” de Paul Auster.

Este filme não lhes ficará na memória por muito. Está bem feito, tem algumas imagens muito bonitas e uma fotografia fantástica que torna quase mágica a cidade onde vive Hachi-Ko, mas no entanto não é algo que lhes fique na recordação pelo lado mais cinematográfico.
Também o seu ritmo narrativo que não tem pressa de ir a lado nenhum na própria história poderá aborrecer alguns espectadores mais habituados ao estilo ocidental onde tem de acontecer sempre algo movimentado ou dramático de dez em dez minutos e [“Hachi-Ko“] não é assim.
Essencialmente tem uma identidade muito japonesa e isso só lhe fica bem pois sabe conduzir o espectador até ao desenlace da história sem que este se aperceba realmente da emotividade crescente da mesma e por esse aspecto está de parabéns.

Também não será um filme a que voltarão muitas vezes, a não ser que adorem mesmo cães e principalmente Akitas, no entanto é um bom título para mostrarem aos amigos que procurem um filme com animais bem feito, honesto na forma como está filmado sem excessos para além da história original que procura retratar e acima de tudo é um excelente complemento para a reportagem televisiva com que iniciei este post sobre [“Hachi-Ko“].

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CLASSIFICAÇÃO do Filme Original Japonês:

Quem gosta de cães vai adorar isto. Quem tem um Akita então é um daqueles filmes obrigatórios.
É um filme simpático, muito simples e tudo o que faz, faz bem.

Trés tigelas e meia de noodles porque enquanto filme não fica na memória nem é um daqueles que nos apeteça estar sempre a rever, no entanto não deixem que a minha modesta classificação os afaste de [“Hachi-Ko“] pois acima de tudo é uma história fascinante e muito bonita.

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A favor: a simplicidade de tudo resulta plenamente, não abusa das desgraças do cãozinho para provocar choro fácil, é um filme calminho e contido ao contrário do que se esperaria com uma história destas, manipula bastante bem a emotividade da história até ao desenlace final, a recriação de época tem montes de atmosfera e a fotografia do filme dá-lhe um ar quase mágico, acima de tudo é um filme sobre uma história com vários personagens e não apenas o típico filme para fazer as plateias chorar á custa do cãozinho, quem gostou de um romance de Paul Auster chamado “Timbuktu” vai adorar o final de [“Hachi-Ko“].
Contra: poderá ser um filme algo lento para quem está mais habituado ao estilo americano de cinema, não nos fica na memória enquanto objecto cinematográfico e há até quem compare [“Hachi-Ko“] a um telefilme de sábado á tarde com alguma razão.

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————————————————REMAKE————————————————
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Agora falemos do remake americano – [“Hachi: A Dog’s Tale”]

Como já devem ter notado isto agora é uma novidade aqui no blog, pois salvo raras excepções, não costumo falar particularmente dos remakes americanos de filmes orientais por aqui, embora desde há muito venha pensando numa forma de integrar esse aspecto, pois cada dia que passa aparecem mais remakes made-in-usa de cinema asiático e muitas vezes o público ocidental nem faz ideia de que já existe um original, normalmente muito superior.

Por isso vale a pena agora falar aqui um bocadinho do remake americano de [“Hachi-Ko“], intitulado em Hollywood como [“Hachi: A Dog’s Tale”] e protagonizado por Richard Gere, pois este título desta vez surpreendeu-me pela positiva por muitas razões que vale a pena destacar por aqui.

Para começar como podem ver pelo popular trailer (japonês) do remake americano, há por aqui uma identidade original que se manteve. E de uma forma bem mais interessante e genuína do que eu pensaria encontrar e isso mantém-se no remake desde logo os primeiros minutos de uma forma muito curiosa.
A maneira como o remake começa é uma quase nostálgica homenagem não só á origem japonesa da história como ao facto de já ter havido um [“Hachi-Ko“] original.

Ao contrário da maioria dos remakes americanos de filmes orientais que tentam disfarçar a sua origem (raramente se menciona sequer que existe um filme original no oriente), em [“Hachi: A Dog’s Tale”] essa origem é plenamente assumida desde os primeiros segundos e no início do filme assistimos á chegada de um cachorro Akita aos Estados Unidos vindo como encomenda directamente do Japão como se o próprio filme tivesse emigrado do oriente para o ocidente e sendo assim este remake não poderia ter começado de forma mais cativante e genuína.

E o tom do filme continua da mesma forma positiva e em pura homenagem á narrativa original. Nada é mudado e tudo é apenas transportado para o universo ocidental, nomeadamente o americano.
Essencialmente encontramos todos os personagens do filme original, agora na sua encarnação ocidental e toda a história se mantêm essencialmente fiel aos factos históricos originais que já tinham sido representados no filme Japonês.

No entanto, [“Hachi: A Dog’s Tale”] inevitávelmente conta com mais umas coisinhas inventadas pelos argumentistas americanos que polvilham e intercalam a história original e acabam por tornar o filme não só mais açucarado, como principalmente mais comercial para um público habituado ao género de cinema com cãezinhos saídos de Hollywood, embora desta vez a coisa nem seja particularmente grave e nota-se que houve alguma contenção nas “invenções” melodramáticas. Estas apenas estão lá para criar a tal estrutura com que o público conta sempre, (a tal onde tem sempre que acontecer algo de X em X tempo para não aborrecer as plateias) e na verdade a coisa até resulta pois torna o filme agradável e mantém o tom simpático.
Porque sejamos francos, se [“Hachi: A Dog’s Tale”] mantivesse a estrutura lenta (onde “não se passa muito”) de [“Hachi-Ko“] tenho a certeza que não iria restar muita gente acordada no final do remake nas salas americanas porque isto de um filme ser comercial pode ter muitas diferenças em várias partes do mundo.

De qualquer forma, a estrutura original mantém-se em [“Hachi: A Dog’s Tale”] e torna-se um prazer comparar as duas versões pois todo o remake americano é uma homenagem á história que  o inspirou.
Os personagens continuam cativantes e simpáticos, toda a atmosfera da história mantém aquele tom mágico do filme original apesar do remake ser passado na actualidade e Richard Gere é o actor perfeito para ter entrado nisto pois faz-nos esquecer por completo a estrela de Hollywood por detrás do personagem e compõe um dono de Hachi que os cativará.

O facto do remake se manter fiel ao original, também significa que o final é idêntico até na forma como mostra o “reencontro” de Hachi com o seu dono, embora eu tenha preferido mais a forma como foi apresentado na versão original, pois o remake substituiu o tom poético e sobrenatural por algo mais meloso e melodramático que na minha opinião poderia ter sido mais contido. Embora não seja de todo muito grave.

O final do remake, ainda tem outra ligação directa com o Japão pois, [“Hachi: A Dog’s Tale”] termina com a informação de que a história verdadeira passou-se no Japão dos anos 20 e não nos Eua e depois o filme termina com algumas fotografias históricas dos verdadeiros protagonístas e mostra a actual estátua de Hachi-ko em Tókio permanentemente á espera que o seu dono regresse.


Resumindo, na minha opinião, mesmo apesar do tom muito mais açucarado e ultra-comercial do remake, a verdade é que [“Hachi: A Dog’s Tale”] é um dos raros remakes americanos de filmes orientais que pode andar de cabeça erguida com todo o mérito.
Talvez muito se deva á própria sensibilidade do realizador Sueco, o conhecido Lasse Hallström , autor de dois dos meus dramas favoritos dos últimos anos falados em Inglés o conhecido “The Cider House Rules (Regras da Casa)” que deu o Oscar a Michael Cane e “The Shipping News” adaptando o romance do mesmo nome e situado no norte do Alaska.
Portanto, digamos que [“Hachi: A Dog’s Tale”] é um remake americano de um filme japonês com um toque emotivo europeu que só lhe fica bem e talvez seja isto também o que o torna num filme made-in-Hollywood tão simpático e até bastante cativante em alguns momentos.

Um filme que se assume como ultra-comercial mas com excelentes resultados, uma identidade própria e muito respeito tanto pela versão original como pela história fantástica que apresenta ao público ocidental que nunca veria o filme japonês.

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CLASSIFICAÇÃO do Remake Americano (ver acima o Original Japonês):

Quem gosta de cães também vai gostar muito disto e é um bom complemento para o filme original, além de ser um daqueles raros remakes americanos que resulta em todos os sentidos, embora seja inevitávelmente algo plástico e até conter um momento piroso ou dois totalmente desnecessários quem nem tiveram lugar na história original.
No entanto é uma tentativa honesta de se fazer um bom remake em Hollywood e que respeita totalmente a sua fonte original e até a homenageia em muitos momentos.

Trés tigelas e meia de noodles também, por motivos diferentes da mesma classificação atribuída ao original[“Hachi-Ko“] mas no fundo chegam os dois ao mesmo resultado; o de contar esta história tão triste quanto inspiradora passada há mais de 80 anos no japão e que até hoje ainda mantêm todo o seu valor e poesia.
E mais uma vez, não deixem que a minha modesta classificação aqui lhes tire a vontade de também espreitarem este filme. Vejam, um vejam os dois, mas vale a pena conhecer a história deste cão seja em que versão for.

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A favor: a simplicidade de tudo resulta plenamente, também não abusa das desgraças do cãozinho para provocar choro fácil embora seja um filme bem mais comercial que o original, é um filme simpático cheio de atmosfera e também surpreendentemente contido nos seus excessos mais pirosos, continua a ser também acima de tudo um filme sobre uma história com vários personagens e não apenas o típico filme para fazer as plateias chorar á custa do cãozinho, quem gostou de um romance de Paul Auster chamado “Timbuktu” vai adorar o final deste filme também pois é igual ao do original, respeita totalmente o filme original e a história que lhe deu origem, homenageia todas as suas origens nipónicas em muitos sentidos, a abertura do filme é muito criativa na forma como importa o cão/conceito do Japão para o Ocidente e nos faz entrar logo no ambiente Usa sem perder a identidade original.
Contra: é um filme de Hollywood e como tal tem coisas a mais só para que a plateia não adormeça, contém um par de momentos melodramáticos pirososos desnecessários mas inevitáveis dentro deste estilo de filmes quando saídos de Hollywood, também não nos fica na memória enquanto objecto cinematográfico e embora não se sinta tanto aquele ambiente de telefilme não será um dos titulos mais emblemáticos deste realizador sueco.

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NOTAS ADICIONAIS:

Trailer – Hachi-ko
http://www.youtube.com/watch?v=JIbkRGef8kE

Trailer – Hachi a Dog´s Tale
http://www.youtube.com/watch?v=urfwQHddesI

Encontrei também esta canção sobre a história.

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Comprar -out Hachi-ko (Filme original – Japão)
Só o consigo encontrar nesta loja a um preço muito elevado.
Se alguém souber de outro sítio mais em conta diga-me qualquer coisa.

Download Hachi-ko aqui com legendas Pt/Br

Comprar – Hachi a Dog´s Tale (Remake – Usa)
Isto está por todo o lado aqui em Portugal, e aposto que também no Brasil.
Quem não encontrar pode comprar na Amazon em Dvd e Blu-Ray.

IMDB – HACHI-KO
http://www.imdb.com/title/tt0093132

IMDB – HACHI a Dog´s Tale (2009)
http://www.imdb.com/title/tt1028532

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FOTOS DOS PROTAGONISTAS REAIS e da Estátua em Tokyo em frente da estação.



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