Há filmes sobre carros, há filmes sobre motas, há filmes sobre desporto, há filmes sobre fantasmas, há filmes sobre droga, há filmes sobre paixão, há filmes sobre cavalos, há filmes sobre cães, há filmes sobre sexo, há filmes sobre tragédias, há filmes sobre gajos, há filmes sobre gajas, há filmes sobre gajos e gajas, há filmes sobre vampiros lindos que brilham ao sol.
[“Let the Bullets Fly”] é um filme sobre pessoas que apontam pistolas umas ás outras.
Quando vi o trailer, isto pareceu-me divertido e por isso fiquei bastante surpreendido por me ter decepcionado tanto com ele.
Curiosamente foi um daqueles filmes em que a partir de certa altura não conseguia deixar de olhar para o relógio. Quando [“Let the Bullets Fly”] chegou aos 90 minutos (que mais me pareceram duas horas), percebi que a coisa ainda iria durar e infelizmente acertei pois a história ainda se arrastou até para lá dos 120 minutos e sinceramente não percebo porquê.
Se o filme tivesse tido menos uns 40 minutos de duração provavelmente seria muito divertido, mas assim como está na minha opinião tem minutos a mais para conteúdo de menos e apesar do que o titulo poderia indicar, há muita pouca bala a voar por aqui. E quando há, os tiroteios são algo insípidos, repetitivos e desinteressantes, o que torna [“Let the Bullets Fly”] num dos filmes de acção mais desinspirados que me lembro de ter visto nos últimos anos e francamente não estava nada à espera disto pois carísma não falta aos personagens.
O trailer parece engraçado e eu que adoro “westerns” chineses preparei-me para me divertir à grande também com este filme, pensando estar na presença pelo menos de algo como “The Good the Bad and the Weird”. Infelizmente apesar de parecer, este tem demasiadas falhas para que se possa comparar com justiça com o divertido título Sul Coreano.
Na verdade não há nada de verdadeiramente mau em [“Let the Bullets Fly”] ; apenas é um produto desinspirado e não estava nada à espera que o fosse.
Tem uma coisa que para mim mata logo qualquer filme para cinema; em muitas partes mais parece um filme para televisão. Possui aquela qualidade visual de um produto televisivo; a fotografia é luminosa quanto baste mas não dá qualquer identidade visual á história e o facto de ser um filme muito rodado em exteriores também não ajuda.
Falta aqui um pouco daquela magia que um bom cenário cria no espectador. Mesmo quando não nos recordamos que estamos a ver cenários visualmente nota-se imediatamente quando um filme é assente em –locations– reais onde não houve grande cuidado com o design de produção. Em certas alturas o filme parece um daqueles séries-b que aproveitam os cenários que havia à mão e pouco mais. Especialmente quando a própria fotografia evidencia isso de uma forma que parece saída de um episódio de telenovela. Há qualquer coisa nas texturas de um local verdadeiro que retiram logo aquela atmosfera de mundo à parte quando estamos a ver um filme e o facto da cinematografia aqui limitar-se a iluminar o que lá está para ser filmado sem grande preocupação de criar uma identidade gráfica, faz com que o espectador não consiga de todo empatizar com os ambientes naturais em que a acção decorre. Não falha por usar locais reais, falha porque a cinematografia não os torna mais especiais do que se estivessem a ser usados numa série televisiva.
E por falar em acção [“Let the Bullets Fly”] é um filme onde se apontam armas o tempo todo, a tudo e todos e ao mesmo tempo é uma história onde raramente se pressiona o gatilho. E quando isso acontece, de repente a história perde ainda mais qualquer identidade pois os tiroteios são desinspirados, não são divertidos e quando são filmados no campo parece que estamos a ver um daqueles episódios de séries de cowboys dos anos 60/70 filmadas no rancho da Universal Studios.
Maus apontam armas a bons, bons apontam armas a maus, maus apontam armas a maus, bons apontam armas a bons, boas apontam armas a bons, boas apontam armas a maus, bandidos apontam armas a comboios, bandidos apontam armas a mulheres, bons apontam armas a mais ou menos boas, mais ou menos boas apontam armas a maus e a bons e a mais ou menos bons…e isto durante 126 minutos praticamente.
Tiros é que há poucos para tanta antecipação, ameaças e build up.
[“Let the Bullets Fly”] em muitas alturas mais parece querer ser um filme do Quentin Tarantino do que fazer justiça ao seu nome. Se há uma coisa que não se pode negar nisto é que não tenha diálogos bons. Por acaso o ritmo dos diálogos por vezes é alucinante a fazer lembrar o estilo de diálogo metralhadora em que Tarantino se especializou e neste filme disparam-se mais palavras por segundo do que própriamente se disparam balas.
[“Let the Bullets Fly”]parece um Tarantino com uma pitada de Sergio Leone/Clint Eastwood onde se adicionam uns pózinhos de “The good, the Bad and the Weird” que já de si é plenamente inspirado na mesma fonte.
Por isso mesmo é que eu acho que isto é um desperdício de bons actores. E actores excelentes é coisa que não falta aqui. Quem está habituado a ver aqueles épicos chineses, vai reconhecer caras quanto baste e toda a gente parece estar a divertir-se à brava neste filme com os seus personagens carismáticos.
Só é pena a história não os acompanhar.
O filme conta a história de um grupo de bandidos que rapta aquele que ia ser o novo governador de uma cidade, governada na realidade pela máfia local. O chefe do grupo toma o lugar de governador e logo os conflitos com o Corleone da zona começam. Mas não começa a acção própriamente dita.
Volto a referir que [“Let the Bullets Fly”] é um filme onde se apontam muitas pistolas. Há enquadramentos cheios de estilo para todos os gostos com gente a apontar armas mas na maior parte do tempo não passa disso, pois o que conta são as repetitivas reviravoltas que a história atira ao espectador de dez em dez minutos, num ritmo perfeito , de agora enganas-me tu, agora engano-te eu enquanto os dois senhores da cidade tentam lutar pela supremacia da região sem nunca pretenderem chegar á porrada propriamente dita, embora pelo caminho lá vão morrendo uns gajos, ás vezes da forma mais inesperada…e sem balas…
A ideia é engraçada, os personagens são excelentes; mereciam estar noutro filme e os actores idem. O problema é a repetição cíclica do tipo de burlas, enganos e reviravoltas que se calhar ficariam perfeitas numa comédia de acção com 80 minutos mas não se aguentam de todo numa muito longa metragem de mais de duas horas, pois a partir de certa altura começamos a perder a paciência para ver mais do mesmo, até porque tudo é bastante previsível. Os actores bem se esforçam para dar vida a um argumento que parece não saber bem como vai terminar a história e fica-se com a ideia que o realizador foi filmando até se decidir como acabaria o filme.
Duas horas de gente a apontar armas em ritmo cíclico é demais. Por outro lado, [“Let the Bullets Fly”] tem uma coisa genial. Garanto-vos que vocês nunca viram uma morte de um herói como aparece neste filme !
Esta história deve ter a morte mais imbecil que já apareceu no cinema de aventuras e só lhes posso dizer que … é de dar voltas ao estômago…hehe.
Não se irão esquecer, porque é de ver para crer e uma morte destas só poderia aparecer mesmo num filme oriental sem qualquer sombra de dúvida. É ao mesmo tempo, arrepiante, nojenta, hilariante, surpreendente e estúpida como o raio ! Vão adorar.
[“Let the Bullets Fly”] no entanto, tem uma coisa que é absolutamente insuportável.
No início tem piada, mas garanto que passados vinte minutos vocês já não vão conseguir ouvir mais gente a GRITAR !!!
Acho até, que a partir do meio do filme, já ninguém fala nesta história, toda a gente berra a plenos pulmões, não importa sobre o quê; o que interessa é gritar como o raio por tudo e por nada !
Estão a ver aqueles Anime fofinhos para meninas em que as bonequinhas gritam histéricamente durante os episódios inteiros em guinchos fofinhos estridentes de arrepiar um gato ? Imaginem o mesmo, mas com gangsters e bandidos aos berros uns com os outros durante duas horas. Sem descanso.
Enquanto apontam pistolas entre si, óbviamente.
[“Let the Bullets Fly”]é um filme onde se apontam pistolas ao mesmo tempo que se berra muito !
Parecem pitas histéricas e torna-se absolutamente irritante.
O que chateia nisto é que o filme até tinha tudo para ser genialmente divertido, mas o problema de ritmo narrativo causado pela constante repetição da fórmula durante duas horas, retira-lhe por completo toda aquela aura de western oriental em estilo cinema de aventura e faz com que [“Let the Bullets Fly”] se arraste por demais quando percebemos que apesar de contar com um bando de personagens divertidos, a história não vai passar dali.
É que não passa mesmo.
O estilo televisivo da coisa também não ajuda e tudo isto contribui para que o filme tenha sido para mim uma inesperada decepção.
Parece que vai ter uma sequela e por mim espero sinceramente que consigam usá-la para reparar tudo o que falhou nesta primeira parte pois o conceito tem potencial e está mesmo a pedir um bom Western oriental, porque não é este ainda.
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CLASSIFICAÇÃO
Tinha tudo para ser um western chinés divertidissimo mas fica a meio caminho de tudo o que aparenta ser no trailer. Estive indeciso entre atribuir-lhe três tigelas de noodles ou duas e meia e acho que me vou ficar mesmo pelas duas e meia; isto porque na minha opinião não é realmente um bom filme (ao contrário do que aparenta) devido ás suas falhas que na sua soma são mesmo muitas; apesar de pequenas é certo, mas suficientes para despersonalizar o filme. [“Let the Bullets Fly”] não é bom, mas é realmente muito interessante, pois há aqui uma boa ideia que ficou pelo caminho e se vocês gostam deste tipo de cinema de aventura vale mesmo a pena espreitarem, até porque não há muitos.
Quem sabe se não gostarão bem mais dele do que eu gostei.
Não é um mau filme. É apenas algo desinspirado…
A favor: Os personagens são excelentes, os actores idem, tem diálogos alucinantes com um ritmo fantástico e muito divertidos na forma como ajudam a construir os personagens, é uma aventura despretensiosa e bem disposta, algumas cenas de acção quase que são excelentes e algumas piadas são engraçadas, está cheio de humor negro com muito sangue á mistura, tem uma das mortes mais inúteis da história do cinema e é de ver para crer.
Contra: As reviravoltas repetem-se constantemente, parece que fica sem ideias ainda antes do filme chegar a meio, há gente a apontar armas a mais e tiroteio a menos, o estilo “Tarantino” ás vezes é por demais uma referência óbvia para se tornar divertida, em muitas alturas parece um filme para televisão pois a cinematografia apesar de luminosa torna tudo demasiado televisivo, tem mais de duas horas quando era material que tinha ficado fantástico em 80 minutos, torna-se aborrecido e previsível bem antes do fim, as sequências de acção são desinspiradas e sem qualquer suspanse ou adrenalina, a gritaria é por demais a um ponto de se tornar absolutamente irritante.
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NOTAS ADICIONAIS:
Trailer
IMDB
http://www.imdb.com/title/tt1533117
Comprar Dvd
http://www.amazon.co.uk/Let-Bullets-Fly-DVD-Chow/dp/B0082BM1WO/ref=sr_1_1?s=dvd&ie=UTF8&qid=1399577216&sr=1-1&keywords=LET+THE+BULLETS+FLY
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Filmes “semelhantes” de que poderá gostar:
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