“KEEPER OF DARKNESS” (“Tor dei gui mou yan”) Nick Cheung (2015) China


Este será mais um post em paralelo com o meu blog sobre cinema esquecido porque é inevitável visto estarmos a falar de um filme que irá passar ao lado de practicamente toda a gente.
É também o título perfeito para começarmos em grande este ano de 2017 aqui no blog.
Enquanto meio mundo há algum tempo atrás andava horrorizado a discutir quão mau era, ou iria ser o novo filme “Ghostbusters” eu descobria um dos filmes sobrenaturais mais surpreendentes dos últimos tempos, [“KEEPER OF DARKNESS”].

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E o que tem uma coisa a ver com a outra ? Bem…
Pessoalmente nunca hei de entender a fama de “Ghostbusters” e só encontro explicação para o sucesso por ter sido um dos filmes mais carregados de efeitos especiais a aparecer numa época em que os efeitos eram uma novidade nunca vista naqueles moldes e levavam muita gente ás salas só para verem raios e explosões animadas quanto baste pois os blockbusters modernos ainda estavam na sua infância e eram por isso uma novidade.
Nunca fui minimamente fascinado pelo franchise “Ghostbusters”, em 1984 não me disse grande coisa (mesmo tendo-o visto no cinema aos 14 anos) e para lá de achar o conceito muito original sempre detestei aqueles personagens.
O facto de hoje o filme tresandar ao pior dos anos 80 em termos de Hollywood ainda agravou mais o meu desprezo actual de todas as vezes que ao longo dos anos o tentei rever. Para mim “Ghostbusters” para mim sempre foi um franchising frustrante, pois sempre achei que haveria por ali algures uma boa história bem mais criativa para ser contada e há muito tempo que eu pensava que aquele conceito sobrenatural com fantasmas e caçadores de espíritos poderia ser algo divertido.
Por isso gostei agora tanto de [“KEEPER OF DARKNESS”]

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[“KEEPER OF DARKNESS”] é o “Ghostbusters” sério ( e a sério ) que eu sempre achei que deveria ter sido feito.
Não porque [“KEEPER OF DARKNESS”] envolva um grupo de “super-heróis” quotidianos que cacem fantasmas mas porque esta aventura Chinesa também é toda construída à volta da ideia de que partilhamos o nosso quotidiano com almas penadas; apenas não as conseguimos ver.
Nós não, mas algumas pessoas sim.
E [“KEEPER OF DARKNESS”] gira precisamente à volta de uma dessas pessoas; um tipo com capacidades –mediúnicas– que volta e meia vê-se envolvido em confrontos e exorcismos com todo o tipo de ectoplasmas chatos como o caraças que insistem em possuir ou assombrar o cidadão comum.

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Mas não pensem que o nosso herói aqui é uma espécie de versão masculina da personagem “Melinda Gordon” na série “Ghost Whisperers” empenhada em ajudar alminhas perdidas. Aqui o nosso exorcista de serviço – Fatt – tem conecções à máfia de rua de Hong-Kong, é amigo de um bando de vândalos mafiosos que percorrem as ruas “mafiando” ao mesmo tempo que tentam praticar algumas boas acções pelo caminho também; ( porque é bom para o Karma ) e vive com o fantasma de uma miúda que não quer partir “para o Outro-Lado” porque está apaixonada por ele e não quer ainda reencarnar.

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Tudo isto quando pelo meio de um par de exorcismos que correm de forma irregular Fatt detecta que apareceu nas ruas um novo espírito sedento de vingança e que pretende eliminar um por um todos os exorcistas das redondezas até chegar à pessoa responsável pela sua morte anos atrás num incêndio.
Para ajudar à festa, temos ainda o ajudante de Fatt, uma espécie de mafioso de quinta categoria em estilo-fashion-mete-nojo-hilariante mas que quer desesperadamente conseguir tornar-se também num exorcista e uma jornalista, que ao tentar desmascarar Fatt como impostor acaba por descobrir um mundo com que nunca sonhou e pelo meio apaixonar-se sem esperar. 
Mas há mais !

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Há mais, mas até já falei demais. Como sabem não gosto nada de contar as histórias dos filmes por aqui pois para mim um filme deverá ser visto sem saberem nada ou o mínimo sobre ele, mas desta vez precisava colocar a minha opinião dentro de um contexto concreto.
A verdade é que [“KEEPER OF DARKNESS”] tem mesmo um certo sabor a “Ghostbusters”, tanto nas cenas divertidas de exorcismo com os fantasmas, como na forma como usa a comédia com bom efeito até para fazer a narrativa avançar de um ponto a outro.

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Mas se [“KEEPER OF DARKNESS”] tem uma coisa absolutamente fascinante é o facto de conseguir equilibrar um monte de géneros dentro de uma só história e fazer tudo combinar sabe-se lá como !
Este filme numa questão de segundos consegue passar de uma comédia de efeitos especiais a drama pesado, consegue passar de cinema de aventura a cinema de terror ( com um par de bons arrepios pelo meio ), passa por um estilo blockbuster misturado com o cinema-de-Crime quando navega por ambientes com marginais mafiosos e ainda tem tempo para nos dar uma das melhores histórias de amor saídas do cinema chinês dos últimos anos.

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Aliás, se [“KEEPER OF DARKNESS”] funciona tão bem a todos os níveis e em todos os géneros que inclui no seu argumento desde o início é porque no seu coração está uma história de amor absolutamente divertida em modo fofinho oriental com dois protagonistas únicos.
Boas histórias de amor saídas do oriente normalmente partem do Japão ou da Coreia do Sul que tornaram o género quase numa forma de arte mas a China nunca conseguiu criar grande empatia quando tenta entrar por uma atmosfera de romance no seu cinema. 
Embora já tenha havido algumas excepções quando procuramos por cinema Chinês normalmente esperamos mais encontrar bons épicos históricos ou cinema de acção.

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Ora desta vez e tal como já aconteceu com “A TIME TO LOVE” ou “LOVE IN SPACE”, [“KEEPER OF DARKNESS”] acerta em cheio no coração emocional do filme. 
A história de amor entre Fatt e a fantasminha apaixonada que assombra o seu apartamento vai buscar o melhor do drama de “A time to Love” com a comédia contida mas romanticamente divertida de “Love in Space” e consegue momentos verdadeiramente atmosféricos que criam uma grande empatia com espectador e centralizam também todos os outros aspectos que compõem o filme.

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A fantasma pode ser fofinha mas ainda nos prega um susto valente ou dois bem colocados e o seu registo varia também entre a comédia e o drama algo angustiante por vezes numa questão de segundos, o que demonstra claramente que o realizador de [“KEEPER OF DARKNESS”] sabe muito bem o que está a fazer conseguido transportar o espectador ao longo da história numa verdadeira montanha russa de emoções inesperadas nos momentos mais inesperados também.

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[“KEEPER OF DARKNESS”] tem também um certo sabor ao cinema de Wong Kar Wai, o que só lhe fica bem neste caso. Não que a tentativa de homenagem a um certo estilo bem reconhecível seja por demais persistente mas nota-se aqui e ali a influencia do realizador de “In the Mood for Love” e isto sempre no melhor dos sentidos.
Quem gosta do cinema de Wong Kar Wai vai gostar deste filme por razões estéticas também. Aliás nem falta aqui Karina Lau, uma das actrizes recorrentes do cinema de Wai.
Se Wong Kar Wai um destes dias decidisse filmar algo bem mais comercial poderia inclusivamente criar a sequela para este filme pois o seu estilo iria enquadrar-se bastante bem.

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Acima de tudo estamos na presença de mais um filme com cenas espectaculares e montes de efeitos digitais que não se esquece do principal.
Os personagens e a humanização dos mesmos.
Se falha em alguma coisa será apenas no vilão pois a sua história ( e motivações ) no final acabam por parecer que não se integram tão bem quanto todo o resto do filme até ao desenlace final da aventura…

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Talvez por isso [“KEEPER OF DARKNESS”] seja um daqueles filmes com múltiplos finais, como se o realizador tivesse consciência de que parte de aventura nem sequer fosse o mais importante e resolvesse acabar a história do filme de uma forma mais humana.
A gente agradece.
 E o final “final” também é fixe.
Agora o que eu quero mesmo é uma sequela.

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CLASSIFICAÇÃO

Se procuram por cinema sobrenatural com almas penadas e um sabor a aventura urbana com um toque de terror, drama, comédia e uma excelente love story para rematar não vão mais longe.
 Ignorem as más reviews no IMDb pois como de costume foram postadas por americanos que se trocam todos quando não percebem de que género é um filme.
[“KEEPER OF DARKNESS”] é original, divertido, assustador, espectacular, dramático e tocante.
Tudo num único filme que resulta muito bem.

Cinco Tigelas de Noodles e um Gold Award


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Se calhar nem merece o Gold Award pois tem um par de falhas que lhe retira alguns pontos na história central envolvendo o vilão sobrenatural, mas a verdade é que este foi um dos filmes Chineses que mais me divertiu nos últimos anos.

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Comprei o Bluray na China ( região zero ) e acho que ainda gostei mais dele agora que o revi do que quando o vi pela primeira vez; pois da primeira vez a mistura de géneros pode deixar-nos um bocado aturdidos e impedir-nos de notarmos como [“KEEPER OF DARKNESS”] é realmente bom; por ser também algo único dentro do género.

A favor: a mistura entre géneros que funciona perfeitamente sabe-se lá como, o sentido de humor negro, a historia de amor, a química romantica dos protagonistas, as cenas assustadoras , a atmosfera sobrenatural, os personagens, a carga dramática , as cenas de acção, os efeitos especiais, mais uma vez a humanização dos personagens.

Contra: algum CGI podia ser melhor, a parte dramática ao redor do vilão parece algo deslocada do resto do filme e sente-se que está um bocadinho forçada para poder encaixar.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER
Nota:
o filme não é o blockbuster de acção que aparenta no trailer. É bem mais contido e intimista contrariamente ao espectáculo de efeitos que o trailer aparenta mostrar.

IMDb
http://www.imdb.com/title/tt5157030/

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“Feng shen bang” ( “League of Gods” ) Koan Hui (2016) China


O cinema de fantasia Chinês como [“LEAGUE OF GODS”] tem dois grandes problemas para conseguir vingar no ocidente; o primeiro problema está no total desconhecimento do público ocidental do que são os contos populares chineses de pura fantasia e da sua própria importância na história deste género. Isto porque quem conhece a literatura de fantasia chinesa que chegou cá ao longo dos anos essencialmente na forma de livros de contos sabe o quanto esta é incrivelmente rica em detalhes, ambientes, acontecimentos, acção e até bastante aventura onde não faltam “quests” variadas ao melhor estilo moderno.
[“LEAGUE OF GODS”] apesar de estar longe de ser um exemplo perfeito de uma certa maneira de ver o género da Fantasia, tem no entanto alguns pontos positivos dentro do cinema imaginativo Chinês.

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[“LEAGUE OF GODS”] o filme é novamente , ( tal como “A CHINESE TALL STORY” ou “THE MONKEY KING II” já tinham sido ) mais uma representação visual de outra narrativa épica da literatura clássica Chinesa e encontrará o seu público por cá no ocidente principalmente nos espectadores que tiveram a sorte de crescer lendo algumas boas lendas naqueles objectos que costumavamos chamar de livros e que as crianças dantes tinham nas mãos antes dos tablets.
Esse público não estranhará o facto do moderno cinema de Fantasia Chinês parecer andar sempre em modo histérico no que toca ao seu visual e á sua estrutura narrativa, pois só agora com a democratização do CGI é possível tornar “reais” muitas daquelas coisas que dantes só podíamos imaginar lendo as descrições nos contos populares porque estes eram tão detalhados que até há bem pouco tempo nem Hollywood se quisesse os conseguiria reproduzir fielmente. Foi preciso mesmo o digital ter surgido pois isto com matte paintings tradicionais e cenários de madeira nunca iria lá.
Mas este é também o segundo problema…

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O segundo problema está precisamente na estrutura deste tipo de versões cinematográficas que aos olhos do público ocidental parecerão sempre exageradas e totalmente sem nexo porque assentam numa narrativa levada ao extremo por cenas de acção e efeitos digitais num modo incrivelmente histérico que se tornará verdadeiramente insuportável numa questão de segundos para quem não estiver de todo habituado ao género.
E sim, o género da Fantasia Chinesa tem regras muito próprias.
Totalmente diferentes das da Fantasia ocidental bem mais contida mas também muito mais formulática em termos de conceitos visuais e por isso bem menos imaginativa.
No entanto pode até dizer-se que o cinema de Fantasia Chinês actualmente é tão rápido que faz coisas como a série “Transformers” do Michael Bay ( verdadeiramente um dos meus ódios de estimação ) parecerem cinema de autor para intelectuais de café.
[“LEAGUE OF GODS”] é no entanto um festival ( de “fake” )  CGI apresentado á velocidade da luz que poderá assustar muita gente que tentar ver este filme sem preparação contextual prévia.

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Curiosamente recentemente também o americano “GODS OF EGYPT”, um ( excelente ) filme de fantasia ocidental (neste género ) mas totalmente Hollywoodesco foi trucidado na crítica e na maior parte da opinião pública ( que como carneiros se limitaram a seguir a moda de ódio do momento na internet )  precisamente por apresentar um estilo bem longe daquele encontrado na Fantasia ocidental e muito, muito semelhante ao estilo Chinês; coisa que poucos compreenderam e muitos menos ainda conseguiram apreciar.
“GODS OF EGYPT” com aquele argumento só podia ter sido mesmo adaptado como se fosse um verdadeiro livro ilustrado oriental, mas muito pouca gente percebeu isso.
Na realidade “GODS OF EGYPT” na sua essência foi precisamente uma tentativa uma tentativa de descolar o género – Fantasia – produzido no ocidente da já muito cansada e estereotipada fórmula americana Dungeons & Dragons. Uma fórmula que há décadas não passa de uma cópia muito simplificada das estruturas narrativas originais que Tolkien popularizou nos seus livros; grupo de heróis, anão, feiticeiro, hobbits ou semelhantes, elfos e afins, rapariga mercenária, etc, etc, etc…
“GODS OF EGYPT” em vez disso optou por uma estrutura bem típica do conto de fadas oriental , longe de todos os clichés ocidentais e bem próximo da representação visual das Mil-e-Uma-Noites  numa representação moderna. Uma estrutura onde a acção é por demais acelerada a todo o instante porque só podia ser assim para resultar enquanto livro ilustrado cinematográfico no estilo oriental.
Não resultou, pois nem os críticos perceberam a origem da inspiração do realizador Alex Proyas, nem o público tinha qualquer referência que lhe permitisse perceber que um caos visual não tem necessariamente que ser um caos mal controlado, tal como se demonstra de certa forma até mesmo agora em [“LEAGUE OF GODS”] e já tinha ficado bem claro em “THE MONKEY KING II” ou “THE PROMISE”; ambos exemplos fabulosos de como o conto de fadas oriental pode também traduzir-se em excelentes propostas dentro da aventura de Fantasia.

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E ninguém controla melhor o caos cinematográfico actualmente dentro do cinema de Fantasia do que os Chineses que já se estão a tornar verdadeiros mestres num estilo de Fantasia ultra plástica ( em total modo “fake” verdadeiramente assumido ) mas com grande inventividade visual. Um estilo que não faz mais do que reproduzir finalmente todos aqueles ambientes esplendorosos e extravagantes que habitaram as páginas dos seus contos durante séculos sem fim e só agora finalmente graças ao ( excessivo ) uso de CGI podem finalmente ver a luz do dia em toda a sua glória.

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Os mesmos contos que, curiosamente inventaram o conceito que temos hoje dos super-heróis modernos.
Os “X-Men” podem ter aparecido nos Estados Unidos , mas a sua fórmula estava presente da forma moderna que conhecemos hoje em dia já nos contos populares da China de há muitos séculos atrás, mais precisamente no seu épico de fantasia “Journey to the West” que é assim uma espécie de “Lusíadas” Chinês e que engloba não só a narrativa central como também muitos contos paralelos dos quais [“LEAGUE OF GODS”] faz inclusivamente parte como se fosse uma lua orbitando um planeta.
Não é [“LEAGUE OF GODS”] que se parece com um filme dos X-MEN, são os X-MEN que muito provavelmente sem querer foram imaginados segundo arquétipos heróicos pertencentes a lendas tradicionais que inclusivamente já contam com muitas e muitas centenas de anos. Milhares até, no caso oriental.

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Uma das características mais fascinantes na literatura de Fantasia Chinesa, especialmente evidenciada nos seus contos, é o facto de em muitos momentos se parecer verdadeiramente com uma space-opera totalmente moderna ao melhor estilo Star Wars.
Por exemplo o clássico da literatura chinesa, “Journey to the West” está carregado de aventuras no espaço, naves espaciais que combatem com raios laser, criaturas mecânicas, “Vimanas” que percorrem os céus, cidades flutuantes que desafiam a gravidade e tudo o que vocês possam imaginar de mais tecnológico hoje em dia.
Tudo escrito há muito tempo atrás numa China totalmente distante.

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Muito público ocidental quando olha para um título como [“LEAGUE OF GODS”] não consegue mesmo passar para além do ataque sensorial que este provoca com visuais que não dão descanso aos olhos e sequências de acção que não dão descanso ao cérebro; tudo acompanhado com efeitos digitais que vão do pior ao melhor do que se faz hoje em dia numa questão de décimos de segundo não dando sequer tempo ao cérebro para processar o que está a ver.
Mas será isto um ponto negativo do cinema de Fantasia Chinês actual ?…
Porque é que o mesmo público que aguenta o pior de filmes como “Transformers” ou vazios absolutos e formuláticos como “X-Men” e pimbalhadas da Marvel ( até mesmo em Comics ) depois é o primeiro a acusar filmes como [“LEAGUE OF GODS”] de serem maus filmes ?
Apenas porque aparentam fazer o mesmo… mas com o triplo da velocidade, já são insuportáveis ?…
Ou será porque não são falados em inglês ?…

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Pode parecer insuportável mas contrariamente ao que acontece no cinema americano onde se encenam intermináveis cenas de lutas com robots gigantes em cenários quotidianos e desinspirados onde não há mais nada para ver a não ser porrada, filmes como [“LEAGUE OF GODS”] compensam plenamente a sua histérica estrutura com uma criatividade visual absolutamente excepcional.
[“LEAGUE OF GODS”] não é de todo tão bom quanto “THE MONKEY KING II” ou “THE PROMISE” foram e pede realmente que o espectador perceba as regras deste tipo de cinema ou chegue até ele sem ideias pré-concebidas para poder ser devidamente apreciado; mas pelo meio do seu “vazio” narrativo estão um conjunto de excelentes ideias que irão agradar a quem procura uma aventura de Fantasia com ambientes absolutamente inéditos. O que hoje em dia não é tão comum quanto isso.
[“LEAGUE OF GODS”] acima de tudo consegue uma coisa que o torna vencedor logo á partida.Consegue transportar-nos verdadeiramente para um outro mundo.

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Um mundo de Fantasia tão diferente do que estamos habituados e que irá fazer as delícias de quem procura uma aventura que se passe em geografias imaginárias onde cada cenário é uma surpresa e onde cada surpresa está carregada de tantos detalhes que só a uma segunda visão conseguirão saborear tudo o que a produção imaginou e colocou no écran.
Visualmente [“LEAGUE OF GODS”] é absolutamente um espanto e só por isso vale a pena espreitarem. Tem também um certo sabor a “THE NEVERENDING STORY” pois algumas paisagens poderiam pertencer ao mundo de “Fantasia” onde Bastian mergulhou, sem destoar de todo, o que só lhe fica bem. Será verdadeiramente um dos melhores “livros ilustrados” que já vi no cinema oriental.

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Está carregado de paisagens fabulosas, é muito variado nos cenários e inclusivamente tem uma das melhores fortalezas que alguma vez vi onde no segundo acto acontece uma das batalhas mais originais entre uma armada de naves espaciais invasoras e os defensores do castelo pela forma como as defesas da fortaleza actuam para destruir os invasores. Será talvez até a melhor parte da história e só é pena não durar mais.
É uma ideia fantástica carregada de imaginação na forma como está executada mas não posso revelar nada aqui para não estragar o filme a quem consiga chegar até essa parte sem desistir a meio.
Isto porque [“LEAGUE OF GODS”] pode ter muitas mais valias em termos criativos, mas é um filme que cansa !
Cansa mesmo !

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Até eu que adoro este estilo oriental de filmar Fantasia fiquei exausto de olhar para isto só na primeira hora.
Aliás, há muito tempo que isto não acontecia mas quando eu julgava que já tinham passado pelo menos duas horas de filme, descobri que [“LEAGUE OF GODS”] ainda nem sequer tinha chegado a meio !!
Neste aspecto faz lembrar tanto o primeiro “THE MONKEY KING” quanto o original “A CHINESE TALL STORY” que sofrem exactamente do mesmo mal.
É que acontece tanta coisa, mas tanta coisa , mas tanta, tanta coisa só na primeira hora que dava para encher toda a trilogia do THE HOBBIT e ainda sobrava.
O que cria uma estranha sensação no espectador pois parece que já estamos a ver o filme há séculos quando ainda nem sequer passaram 60 minutos desde que tudo começou.
Filmes como [“LEAGUE OF GODS”] são definitivamente a prova de que o tempo é mesmo relativo e quase que se podem realizar experiências de física quântica com eles.

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Portanto para mim é muito difícil classificar este filme.
Por um lado divertiu-me por completo em muitos aspectos, por outro é um filme dificil de recomendar a toda a gente pois muito público irá ficar bastante chocado ou extremamente exausto só nos primeiros dez minutos quando a aventura abre com uma cena de invasão e batalha a trezentos à hora e nos baralha por completo. Tudo se passa á velocidade da luz e o espectador não tem qualquer contexto para perceber bem onde raio está a história daquilo !! É como se tivessemos entrado a meio de um filme de Star Wars sem conhecer absolutamente nada sobre aquele universo e levar com sequências intermináveis de efeitos visuais sem contexto.
Habituem-se, pois o resto de [“LEAGUE OF GODS”] é ainda muito, muito pior neste campo. Se procuram por uma narrativa que lhes dá momentos para respirar e absorverem o que estão a ver, esqueçam. Não está nisto.
Se me perguntarem qual é  a história do filme neste momento não sei responder. Não me lembro absolutamente nada do que vi. Mete uma feiticeira e um tipo que voa, uns monstros e é isso…

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[“LEAGUE OF GODS”] sofre de uma gritante falta de ritmo narrativo porque se calhar tem ritmo a mais. Terá porrada a mais e exposição a menos. Bem que eles tentam explicar coisas ao mesmo tempo que entram por desenfreadas sequências de acção mas tudo é tão caótico que nem conseguimos prestar atenção nem á acção, nem á história, nem aos detalhes. A nada.
Por exemplo “GARM WARS: THE LAST DRUID” também recorreu à ideia de usar as cenas de porrada para contar bocados da história, mas ao menos nesse filme a coisa até resultou mais ou menos.  [“LEAGUE OF GODS”] bem tenta, mas não chega lá. São coisas a mais a acontecerem, ao mesmo tempo que o filme tenta contar uma história pelo meio de intermináveis efeitos CGI.
É aqui que [“LEAGUE OF GODS”] falha redondamente.
Está bem que isto tem a ver com o estilo Chinês de filmar Fantasia mas desta vez é por demais, pois até eu achei que esticaram a corda ao máximo. Se vocês não gostaram de “GODS OF EGYPT” por o considerar vazio, plástico e rápido demais é melhor nem sequer tentarem ver [“LEAGUE OF GODS”].
Mesmo.
Em certas alturas faz lembrar o pior de “WARRIORS OF ZU MOUNTAIN“, um dos primeiros filmes de Fantasia que modernizou o género, anos atrás.

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[“LEAGUE OF GODS”] tem outro problema…
Há por ali um dos personagens mais enervantes desde Jar-Jar-Binks… o bébé.
Este boneco é absolutamente insuportável e praticamente não serve para nada a não ser para depois “quando cresce”,  representar mais um “dos X-Men” nas sequências de acção.
Ainda por cima é protagonista de uma das cenas de porradaria digital mais inúteis alguma vez filmadas.
Trata-se de uma sequência de pancadaria passada no fundo do mar em que o bébé luta , usando peidos e bufas contra um exército de homens-sereia e caranguejos gigantes.
Eu disse, luta usando peidos e bufas.
A sério.

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É este o grande problema de [“LEAGUE OF GODS”].
Não está no facto de ser mau porque é um filme a duzentos á hora dentro do estilo do cinema de Fantasia Chinês. É mau porque apesar de controlar bem o caos no que toca ás partes de acção ( algumas são mesmo um espectáculo de adrenalina ), depois não sabe o que fazer com a história e com as cenas que deveriam ter servido para nos fazer interessar pelos personagens mas que na verdade não servem para nada.
Não há um único personagem interessante nesta história a não ser a feiticeira vilã que é um espectáculo !

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O resto são bonecos com tanto carisma quanto um gráfico da PS2 num daqueles jogos que mais ninguém joga.
Ou são inúteis e não servem para nada ou são simplesmente irritantes e não servem para nada; ( os dois bébés digitais… só á estalada por exemplo )…
Excepção para a planta faladora que é engraçada e poderia ter salvo o filme mas não lhe dão suficiente destaque.

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Outra coisa curiosa nesta aventura é a constante mudança de tom. Ora estamos a ver um filme de acção e Fantasia em modo -sério- ora entra por um estilo de desenho animado que mais parece saído de um cartoon Warner Bros com o Road Runner.E quando o melhor personagem de [“LEAGUE OF GODS”] é a centopeia do deserto que aparece a meio da história tentando mastigar os herois quando estes cruzam um deserto, algo está realmente errado com este argumento.

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Essencialmente estamos na presença de uma aventura que até dentro do próprio género a que pertence poderia ter saído melhor.
Tem muita coisa excelente mas depois o resto complica um bocado o resultado e como tal não é mesmo tão bom quanto deveria ter sido. Ou se calhar é… estou totalmente confuso.
Ainda por cima o filme termina com a história a meio e vamos ter sequela para completar a aventura que fica completamente pendurada precisamente no melhor.

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CLASSIFICAÇÃO



[“LEAGUE OF GODS”] por um lado é divertido e se vocês gostam do estilo Chinês de filmar Fantasia é imperdível; por outro se não gostam, ou não conhecem, se calhar eu começaria antes por “THE MONKEY KING II” ou “THE PROMISE” antes de passarem a este…
Pessoal com epilepsia é melhor nem tentarem ver isto…
ou qualquer filme de Fantasia Chinês…

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Parece-se bastante com uma versão moderna de “A CHINESE TALL STORY”; o estilo é semelhante, o caos também; apenas tem efeitos digitais superiores.
Quem detestou “GODS OF EGYPT” abstenha-se por completo.
Não irá encontrar qualquer coisa positiva neste título e muito menos irá compreender porquê precisa deste estilo para se enquadrar bem no género que representa.

Três tigelas de noodles.

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Provavelmente até merece quatro apesar de tudo ( e dentro de um certo contexto ), mas para já fico por aqui, até porque isto vai ter uma sequela e portanto quando eu tiver oportunidade de conseguir ver a história completa logo repensarei a minha classificação.
Para já se procuram cinema de Fantasia diferente [“LEAGUE OF GODS”] é um bom filme e apesar das suas muitas falhas irá divertir quem procura entrar verdadeiramente num mundo que nunca visitou.

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Tem alguns momentos de acção excelentes. Outros nem por isso.
Mas visualmente é realmente um espectáculo.
Quem também julga o cinema pela qualidade dos efeitos especiais não irá gostar disto, pois varia entre o espantoso e o atroz numa questão de segundos e pode baralhar muita gente que não compreenderá que [“LEAGUE OF GODS”] é supostamente um livro ilustrado digitalmente e precisa dessa artificialidade para resultar.

A Favor: transporta-nos mesmo para um mundo que nunca vimos, as geografias imaginárias são fabulosas a fazer lembrar o melhor de “THE NEVERENDING STORY”, algumas sequências de acção e efeitos são geniais, a realização tem alguns momentos fantásticos na forma como gere todo o caos digital e consegue manter um bom espírito de aventura clássica, o design do filme é absolutamente do outro mundo desde o guarda roupa ao adereços tudo é incrível e muito imaginativo, boa banda sonora também, as naves, os palácios, os montes, os vales, tudo o que aparece no écran a todo o instante.

Contra: os personagens são um vazio absoluto, tenta contar uma história com demasiado caos pelo meio e em muitas partes do filme a coisa não funciona de todo, parece três vezes maior do que é porque mete tanta coisa a acontecer que quase nem queremos acreditar no que vemos quando ainda nem passou uma hora de filme, tem personagens absolutamente irritantes como os bebés que não servem para nada, tem pelo menos uma sequência de porrada digital totalmente inútil debaixo de água, o bébé vence um exército utilizando peidos e bufas debaixo de água, fica a meio quando acaba e não conclui absolutamente nada. Sinceramente acho que nem conseguiria resumir a história se me lembrasse dela…

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER CHINES

TRAILER OCIDENTAL

COMPRAR BLURAY
Não o compram pois não está ainda á venda, mas podem encontrá-lo aqui.

IMDb
http://www.imdb.com/title/tt5481184

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“Busanhaeng” (“Train To Busan”) Sang-ho Yeon (2016) Coreia do Sul


O que se pode dizer de mais um filme de zombies que ainda não tenha sido dito sobre o género ?…
Bem para começar, [“TRAIN TO BUSAN”] terá sido o primeiro filme com mortos-vivos a sair de Cannes com uma reputação melhor do que a que tinha quando chegou ao festival e agora que Hollywood vai fazer um remake disto; ( para quê ?!!! ), recomendo vivamente que o procurem e vejam-no quanto antes.
E sim, é tão bom quanto parece no trailer.
Aliás, é melhor.

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É verdade, o que se pode dizer de mais um filme de zombies que ainda não tenha sido dito sobre o género ?…
Bem sobre [“TRAIN TO BUSAN”] pode dizer-se que não tem um pingo de originalidade no conceito, pois obviamente que todos nós já vimos isto milhões de vezes antes mas conta logo á partida com uma coisa que o cinema oriental sabe fazer muito bem e que o difere de todos os plásticos que Hollywood poderá produzir quando aparecer o inevitável remake
[“TRAIN TO BUSAN”] tem personagens verdadeiramente cativantes.

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Como habitualmente no cinema oriental, nem o caos de uma história como esta, nem o monte de efeitos especiais que isto mete faz com que a pirotecnia se sobreponha aquilo que importa. Os personagens.
Contrariamente ao que acontece normalmente no cinema espectáculo de Hollywood onde os bonecos estão lá apenas para enquadrar as cenas de porrada, efeitos e acção, em [“TRAIN TO BUSAN”] são as cenas de porrada, os efeitos e a acção que enquadram um grupo de pessoas.
Pessoas com que começamos por nem ter grande empatia, mas que sabe-se lá como a meio do filme já estamos realmente a torcer pelas suas histórias pessoais.
Em alguns momentos isto faz lembrar inclusivamente outro grande filme de monstros Sul Coreano, o excelente “THE HOST” de que já falei por aqui há alguns anos.

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[“TRAIN TO BUSAN”] não tem absolutamente nada de original a não ser o facto de ser cinema puramente oriental precisamente na forma como consegue humanizar cada uma daquelas pessoas que acompanhamos e talvez tenha sido por isso que causou tanto impacto em Cannes, pois o público ocidental não está habituado a acompanhar personagens bem construídos neste tipo de cinema saído de Hollywood e por isso terá ficado bastante surpreendido.
[“TRAIN TO BUSAN”] é um daqueles filmes que quando acaba nos deixa completamente exaustos psicológicamente e mais do que torcermos pelos heróis da história , torcemos pela história daquelas pessoas que a meio do filme esquecemos por completo que são ficção.

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Estranhamente [“TRAIN TO BUSAN”] irá agradar até a quem se calhar não gosta de filmes com zombies, especialmente se essas pessoas tiverem visto e adorado outro filme Sul Coreano fabuloso, o drama “HOPE”. Quem gostou de “HOPE” irá gostar deste; apenas este mete mortos vivos pelo meio.
Á primeira vista podem não ter nada a ver mas [“TRAIN TO BUSAN”] cria exactamente o mesmo tipo de empatia que aquela outra história também sobre pai e filha conseguiu criar em toda a gente que apanhou com ela de surpresa quando saiu e a tornou já no filme de culto oriental que é.
Portanto meus amigos, mesmo que os mortos vivos não sejam a vossa coisa favorita, se calhar eu espreitava quanto antes [“TRAIN TO BUSAN”].
Especialmente antes de Hollywood vomitar cá para fora mais um remake atroz de outro filme oriental e os trailers gringos lhes estragarem o suspense todo.
Não percam [“TRAIN TO BUSAN”] enquanto este ainda é único.

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Consta que este filme já se tornou no maior êxito comercial de todos os tempos por aquelas bandas da Coreia do Sul o que só demonstra que para algo assim ter acontecido, [“TRAIN TO BUSAN”] tem mesmo que ter muito mais conteúdo e conseguir criar mais empatia do que se apenas fosse o típico filme de zombies em que toda a gente passa o tempo todo a correr de mortos vivos.
E mais uma vez, [“TRAIN TO BUSAN”] não tem nada de original. 
A sua originalidade está na empatia que cria pois ficamos mesmo a gostar dos personagens.

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[“TRAIN TO BUSAN”] é capaz de ter sido dos filmes com mais adrenalina que vi pelo menos nos últimos dois anos dentro de um certo tipo de thriller.
É o tipo de filme que nos deixa a tremer por todos os lados com cada situação que apresenta. Não só pela forma como a montagem cria uma sensação de claustrofobia fantástica mesmo em espaços abertos como principalmente na forma variada como apresenta e inventa situações de nos fazer roer o sofá de uma ponta á outra pois nunca temos bem a certeza se alguém irá morrer a seguir.

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Até porque depois [“TRAIN TO BUSAN”] também não é propriamente politicamente correcto.
Aposto tudo o que vocês quiserem em como Hollywood quando refizer isto, irá sem qualquer sombra de dúvida mudar o final, porque os americanos não irão aguentar o contexto dramático verdadeiramente intenso desta história e que mais uma vez a distingue do habitual.

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[“TRAIN TO BUSAN”] é um excelente cruzamento entre, a adrenalina de “SNOWPIERCER” ou de “THE TERROR LIVE“, o contexto de “THE HOST” ( curiosamente ambos do mesmo realizador ), o suspense de “MIDNIGHT FM” , a tensão de “FLU” e a empatia de “HOPE”; apenas mete mortos vivos á mistura.
Se gostaram de qualquer um dos filmes que mencionei atrás, irão gostar de [“TRAIN TO BUSAN”] porque tal como em todos esses filmes também o espectador nunca tem bem a certeza do que irá ver a seguir.
É essa a grande mais valia de [“TRAIN TO BUSAN”].
Numa história já vista mil vezes consegue ser imprevisível em muitos aspectos, especialmente a nível de destino de personagens.
Não se livra dos clichés é certo, mas esses vêem inevitavelmente por arrasto com a fórmula deste tipo de filmes com mortos vivos e se fossem evitados [“TRAIN TO BUSAN”] já não seria um verdadeiro filme de zombies.

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Tal como aconteceu quando o muito intenso “28 Days Later” de Danny Boyle estreou anos atrás, irá haver gente que acusará [“TRAIN TO BUSAN”] de não ser um verdadeiro filme de mortos vivos porque também aqui estes mortos correm como o raio e não andam feitos estúpidos em modo … ehm, zombie em câmera lenta pelos cenários.
Estes mortos estão muito vivos, extremamente activos e incrivelmente raivosos o que dá a [“TRAIN TO BUSAN”] uma adrenalina raramente encontrada no género.

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Não só a realização é fantástica pois todo o ritmo narrativo está excepcionalmente bem cozinhado para nos ir perturbando apenas quanto baste antes de nos jogar com baldes de adrenalina em cima, como [“TRAIN TO BUSAN”] nem precisa de pregar sustos com SOM ALTO para meter medo.
Aliás, este filme não recorre a nenhum desses truques baratos, porque nem precisa.
A meio da história já estamos tão arrepiados com o sobe e desce dos níveis de adrenalina que qualquer coisa nos assusta.
Nem o filme precisa de ser particularmente gore embora não fuja dele.

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Curiosamente [“TRAIN TO BUSAN”] não é mesmo muito gore.
Consegue assustar e meter impressão sem precisar de meter propriamente nojo e por isso nunca abusa dos efeitos prostéticos ao contrário do que costumamos ver neste tipo de cinema hoje em dia.
 Não precisa.
[“TRAIN TO BUSAN”] tem uma coisa diferente. Não sei se terão contratado contorcionistas para alguns papeis de zombies mas a expressão corporal destes mortos vivos é não só completamente original como extraordinariamente expressiva.
Muitos deles arrepiam-nos só com os movimentos que fazem.
[“TRAIN TO BUSAN”] tem definitivamente uma das melhores coreografias no que toca a movimento de multidões que vi ultimamente neste tipo de cinema.

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É também o filme perfeito para quem ficou muito decepcionado com aquele vazio chamado “World War – Z” ( talvez uma das piores adaptações de um bom livro de sempre também ).
Brad Pitt não entra nisto, nem precisa.
Um bom filme de mortos vivos só precisa de criatividade nas situações e de saber como provocar grande adrenalina no espectador. Nesse campo mais do que meter medo [“TRAIN TO BUSAN”] mete-nos os nervos em franja até mais com o que imaginamos do que com aquilo que vemos e essa subjectividade é aquilo que fará sempre um bom filme de terror.

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CLASSIFICAÇÃO

[“TRAIN TO BUSAN”] é obrigatório se gostam de filmes com zombies.
Já viram isto mil vezes mas se calhar ainda tem muita coisa que não viram.
Se para vocês o cinema de terror tem que ter mais coisas para mostrar do que apenas coisas que metem medo então vão adorar a empatia que cria com os personagens ao melhor estilo que só o cinema oriental é capaz de nos dar.

Cinco Tigelas de Noodles e um Gold Award


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Pode não ser um daqueles filmes para rever muitas vezes, pode já nem ter suspense á segunda vez que o virmos, mas da primeira é uma verdadeira montanha-russa emocional e de adrenalina que diverte do princípio ao fim e não precisa mais do que isso para ser excelente.

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A Favor: a adrenalina que provoca, o suspense, não é politicamente correcto, as cenas de acção, a humanização dos personagens, a criancinha actriz é fantástica, intercala de forma excelente o drama com o thriller de zombies.

Contra: já viram isto mil vezes em termos de conceito. Vai ter remake americano sabe-se lá para quê…

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

COMPRAR
Está em pre-order na amazon uk. Sai em bluray no mês de Fevereiro.
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https://www.amazon.co.uk/gp/product/B01KZFXJKW/ref=as_li_tl?ie=UTF8&camp=1634&creative=6738&creativeASIN=B01KZFXJKW&linkCode=as2&tag=cinaosolnas00-21
IMDb

http://www.imdb.com/title/tt5700672

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E se gostaram deste não vão querer perder:
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Bread of Hapiness (Shiawase no pan) Yukiko Mishima (2012) Japão


Há um certo tipo de cinema que só os Japoneses conseguem fazer bem.
Aquele tipo de filmes extremamente simpáticos que nos mostram locais onde adorariamos viver ou passar longas temporadas e onde não se passa absolutamente nada.
[“Bread of Hapiness”] é um excelente exemplo de mais um título assim transportando-nos para um mundo absolutamente mágico e que nos deixa a pensar sobre ele muitos dias depois de ver esta história. Nada mal para um filme sobre… nada…

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[“Bread of Hapiness”] conta a história de uma rapariga que um dia deixou a grande cidade e  abriu uma padaria em jeito de hostel na remota margem de um dos grandes lagos do Japão. Embora contente por viver na pequena localidade Rie Mizushima não consegue evitar sentir um vazio na sua vida; sentimento esse que acaba por tentar colmatar quando juntamente com o seu marido Nao cozinha os mais deliciosos pãezinhos que serve a todos aqueles que passam pelo local tentando através da sua culinária, colmatar nos outros também o vazio interior de cada uma dessas pessoas.

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Ambos funcionam como uma espécie de anjos da guarda para todos aqueles que chegam até à sua casa com algo em falta nas suas vidas; amenizando problemas através da culinária e fazendo com que nesse instante contemplativo cada pessoa descubra por si própria um rumo a seguir que irá mudar a sua vida apenas porque um dia passou por aquela padaria.

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A primeira hóspede é uma rapariga em busca de um rumo pois foi abandonada pelo namorado e acabou por vir parar àquela margem do lago, ela própria à deriva.
Depois temos a história da miuda cujo a mãe fugiu com outro homem tendo abandonado o seu pai e finalmente a história do velho casal que chega um dia ao local para morrer.
Todos estes pequenos fios condutores aparentemente isolados são aquilo que vão solidificando aos poucos a história do casal central e sem o espectador se aperceber conduzem até àquele final perfeito que dá um carísma muito especial a [“Bread of Hapiness”].

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Basicamente é isto o que se passa neste filme absolutamente simpático durante duas horas;  onde nem falta um pequeno twist nos segundos finais que muita gente certamente nem irá notar, mas que me apanhou completamente de surpresa e deu uma enorme magia ao desenlace desta história.
[“Bread of Hapiness”] é um daqueles filmes episódicos onde os vários segmentos isolados estão unidos pelos personagens principais e pela interacção destes para com cada um dos protagonistas de cada uma das pequenas histórias que no final acabam por dar um sentido à própria história do casal protagonista.

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[“Bread of Hapiness”] está dividido por estações do ano e cada estação corresponde não apenas a uma história mas também evoca uma emoção particular ou um estado de espírito para aquilo que se passa na alma de cada personagem.
Pode parecer uma coisa muito filosófica ou ultra-pretenciosa mas não se preocupem, o grande trunfo deste filme está precisamente na forma simples como aborda questões profundas sobre a própria vida sem nunca se parecer com um daqueles títulos pretenciosos ao pior estilo cinema de autor.

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[“Bread of Hapiness”] pode ser cinema independente, pode ser cinema de autor, mas nunca se impõe como tal ao espectador. É tão simples que parece ser realmente um filme onde não se passa nada até que de repente, este acaba e percebemos o quanto esta história falou realmente de muita coisa. É esta simplicidade que dá uma grande originalidade a este tipo de cinema que só podia ser mesmo Japonês; contemplativo quanto baste mas carregado de emoção contida e muito significado.

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Em [“Bread of Hapiness”] em termos de acção , temos essencialmente cenas em que as pessoas comem pãezinhos, cenas em que as pessoas passeiam pelo campo, cenas em que as pessoas vão à praça comprar ingredientes para fazer mais comidinhas, cenas em que as pessoas conversam sobre a vida e “pouco mais”.

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A grande magia do filme no entanto está na sua atmosfera. A cinematografia é absolutamente luminosa (demasiado luminosa dizem alguns) e para mim é precisamente a escolha perfeita para da a este pequeno mundo isolado o ar encantado que precisa para que a história do casal e principalmente o pequeno micro-twist final resulte de uma forma tão mágica. É como se esta padaria se localizasse numa dimensão paralela onde apenas a calma e a contemplação fizessem parte daquele mundo.

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A cor deste filme é simplesmente fantástica e é um daqueles que em bluray vibra com toda a energia que o formato pode proporcionar em termos de imagem. As cenas de verão com toda a luminosidade de um fim do dia ou de uma manhã de sol são absolutamente perfeitas e dão a este filme uma certa característica de Anime filmado em live-action.
Aliás, a todo o instante este filme me fez lembrar de “O Meu Vizinho Totoro” de Hayao Myiazaki; a começar pela banda sonora -feliz- em tom “desafinado” que adorei. Estava sempre à espera de ver Totoro aparecer numa árvore qualquer, mas infelizmente este filme não tem qualquer criatura mágica.

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Pessoalmente penso que [“Bread of Hapiness”] tem apenas um encalhe. Penso que uma das histórias não resulta plenamente porque dá um tom diferente ao conjunto central até porque a acho desnecessáriamente longa. Não se arrasta por demais, mas acho que [“Bread of Hapiness”] não precisava ter duas horas de duração para passar o mesmo tipo de mensagem que passa.
Por mim, aqui e ali poderia ter-se cortado algum tempo excessivo e se este título tivesse meia hora a menos teria sido absolutamente perfeito.

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Alguns personagens secundários não parecem ter nada para fazer na história a não ser preencher espaços físicos nos cenários e penso que algumas cenas poderiam ter sido realmente um bocadinho reduzidas que não fazia mal nenhum.
Por outro lado, a atmosfera do local é realmente encantada e [“Bread of Hapiness”] é um daqueles filmes bonitos, simples e que não pretendem armar-se em inteligentes mesmo em última análise sendo bem mais do que parece à primeira vista.
E a canção disonante da banda sonora é muito fixe !

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CLASSIFICAÇÃO:

Se procuram um filme muito simpático, daqueles muito calminhos e em total espírito Zen sem qualquer pretenção a obra prima do cinema de autor, [“Bread of Hapiness”] é um título perfeito a não perder. Aliás, é realmente uma boa introdução a certo tipo de cinema independente (ou de Autor) pois não assusta ninguém e é uma excelente alternativa para quem está farto de filmes com tiros e explosões e quer encontrar algo para relaxar mas que ao mesmo tempo transporte o espectador para um mundo muito próprio.
Se gostaram de “O Meu Vizinho Totoro” em Anime, vão gostar disto.

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Pode não ser para toda a gente, mas se entrarem no espírito da coisa vão gostar. E mesmo que não estejam absolutamente rendidos aos personagens ou às histórias, garanto-vos se procuram um toque de magia, o pequeno twist dos segundos finais quando entra a última narração vai deixá-los plenamente satisfeitos e ainda a gostar mais deste filme. Foi esse final “mágico” que acrescentou agora mais uma tigela de noodles à minha classificação.

Cinco tigelas de noodles. Não é um filme sem falhas, mas é muito, muito simpático.

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A favor: toda a atmosfera do local, a fotografia luminosa é fantastica, a cor, algumas das histórias são simples mas têm alguma magia, o micro-twist no final é muito fixe, a banda sonora ( a canção do final em tom disonante), não deixa de ser cinema de autor mas prova plenamente que este tipo de filmes não têm que ser obrigatoriamente chatos ou intelectualoides.
Contra: tem meia hora a mais, alguns personagens não servem para grande coisa (a “artista” é um bocado irritante), pode ser um filme calmo demais para muita gente.

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TRAILER

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt1726749

Uma das canções:

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Se gostou deste poderá gostar de:

capinha_the furthest end awaits Be With You Il Mare

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Monk comes down the mountain (Dao shi xia shan) Chen Kaige (2015) China


De vez em quando aparecem-me filmes de que me esforço tanto por gostar que depois se torna absolutamente frustrante ter que reconhecer que são um verdadeiro desastre. E pior ainda, não se entende bem porquê.

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Nem de propósito, ainda no post anterior tinha acabado de falar sobre um dos meus filmes de fantasia favoritos “The Promise” e recomendado a sua edição em Blu-Ray, quando minutos depois me caiu de pára-quedas este título, [“Monk comes down the mountain“], o mais recente filme  precisamente do mesmo realizador.

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Após uns cinco minutos iniciais com uma cena de pancadaria muito divertida, após um genérico cheio de atmosfera (excelentes enquadramentos) e paisagens fantásticas e após uma primeira meia hora inicial onde parecia que [“Monk comes down the mountain“] tinha tudo para ser uma boa história de artes-marciais num estilo quase conto de fadas urbano, eis que de repente tudo descamba num dos títulos mais desperdiçados que me lembro de ter encontrado em muitos anos.
Desta vez até concordo em absoluto com os dois comentários postados no site do imdb.
[“Monk comes down the mountain“] é um falhanço absoluto e tinha tudo para vir a ser um triunfo.

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Para começar visualmente tem momentos fabulosos. Não só em termos de paisagens, como na composição de muitos enquadramentos; excelente fotografia e uma cenografia verdadeiramente inspirada principalmente na primeira meia hora que nos transporta imediatamente para uma espécie de China encantada por volta de 1920 e nos garante a todos os nossos sentidos que [“Monk comes down the mountain“] vai ser um espectáculo.

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Depois tira-nos o tapete debaixo do pés e levamos com uma hora e meia final que não se entende de todo, com muito pouco de positivo e muito pouco a ver com o filme que parecia ser no início.
A história desperdiça por completo um personagem principal excelente e cheio de carísma e parece quase inacreditável. O actor principal é a razão porque vale a pena continuar a acompanhar a coisa até ao fim. Dá mesmo vida ao personagem, tem muito carisma e todo os melhores momentos são dele.
[“Monk comes down the mountain“] poderia ser genial porque tem uma coisa que à partida parecia ser excelente. Verdade seja dita, este é mesmo um daqueles filmes em que não fazemos qualquer ideia do que irá acontecer a seguir.

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Não porque a história seja confusa ou inesperada no seu rumo dentro de um contexto narrativo concreto, mas porque o argumento de [“Monk comes down the mountain“] parece não fazer ideia de qual o caminho que irá seguir na próxima cena sequer !
Em termos de dinâmica narrativa chega a ser bastante confuso, pois a história avança várias vezes no tempo e o espectador nem repara que passaram alguns meses ou anos desde a última cena. Só minutos depois percebemos onde estamos porque acontece algo que nos obriga a tentar localizar tudo o que vemos no que está a acontecer depois. E enquanto estamos a pensar nisso, damos por nós a não reparar no que está a suceder no momento.

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[“Monk comes down the mountain“] básicamente é um filme sobre sexo, vassouras e kung-fu.
Na verdade pretende ser uma espécie de história filosófica muito profunda indo buscar conceitos espirituais a várias tradições da filosofia  chinesa, só que a forma como apresenta toda essa vertente é tão atabalhoada que a partir de certa altura parece que nos está constantemente a atirar com filosofia new age de cordel para tentar ser cinema profundo quando se calhar deveria estar a entreter-nos.

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Em muitas alturas pareceu-me que o filme pretendia ser uma espécie de versão ligeira de “The Grandmaster” de Wong Kar Way, esse sim um filme que acerta em cheio na forma como liga a tradição filosófica oriental á própria cultura do Kung-Fu enquanto tradição espiritual. [“Monk comes down the mountain“] parece ser uma espécie de versão pimba de “The Grandmaster” em muitos momentos. Não só pelo paleio que aqui não resulta por parecer pseudo-filosofia impingida à força, mas também em muitos momentos das cenas de acção que se assemelham mais a recriações “divertidas” das cenas de luta de IP Man no filme de Wong Kar Way do que a qualquer tentativa de criar algo com uma identidade original.

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[“Monk comes down the mountain“] começa por ser a história de um jovem monge que sempre viveu num mosteiro desde que foi abandonado à porta quando era bébé e que um dia … é convidado a sair, para se fazer à vida e ir conhecer o mundo exterior.
O início da história é muito cativante e tudo indica que o filme vai ser realmente bom.
O monge chega à grande cidade pela primeira vez e logo faz amizade com um velho cirurgião de medicina ocidental depois de uma divertida sequência de perseguição pela cidade. O seu novo amigo, também tinha um dia sido um monge mas escolheu abandonar a vida religiosa por causa de … sexo. O coitado não aguentava estar todo o dia no templo a ver passar tanta mulher gostosa e resolveu abandonar tudo para se casar com uma bela jovem.
Até aqui tudo bem.

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A história prossegue;  o jovem monge vai trabalhar para casa do médico e logo descobre que a mulher deste tem um jovem amante, precisamente o irmão mais novo do senhor e que é uma espécie de besta quadrada que tenta fazer tudo para ficar com a fortuna do irmão mais velho.
É neste segmento que se sucedem as melhores cenas do filme. A narrativa é divertida, o ambiente é um espectáculo (os detalhes da cenografia e guarda roupa são impecáveis) e nada fazia prever que [“Monk comes down the mountain“] iria afundar-se dali a minutos no final desse segmento.

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E quando digo segmento, quero mesmo dizer -segmento-. [“Monk comes down the mountain“] está incrivelmente fracturado e parece ser uma espécie de colagem de vários outros filmes que por qualquer motivo não ligam de todo uns com os outros.
Após o excelente início, (inclusivamente depois de uma cena com um visual cgi inspirado passada debaixo de água), de repente o filme muda de registro e perde todo o sentido visual épico, passando essencialmente a ser uma história de interiores onde tudo gira ao redor de uma antiga rivalidade entre facções de mestres de Kung-Fu e é aqui que o filme entra pelos territórios mais parvos e sem qualquer nexo. Saltos narrativos para cenas de guerra incluidos…espectaculares mas … porquê ?!

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Não quero revelar muito, porque mesmo assim ainda acho que vale a pena espreitarem isto. Quanto mais não seja pela originalidade que resulta de toda esta mistura. Uma mistura que só não funciona, porque primeiro a história de kung-fu não se decide se quer ser cinema de acção ou impingir filosofia de pacotilha ao espectador através de diálogos inenarráveis;  debitados por personagens absolutamente vazios, ou antipáticos como o raio sem qualquer razão aparente.
Pior ainda é quando tenta entrar pela comédia de acção pois não tem graça (ver a cena da droga).

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E por falar em acção, mais uma vez o trabalho acrobático de fios em [“Monk comes down the mountain“] é tão bom quanto já tinha sido em “The Promise“, o problema aqui é que todas as cenas de kung-fu ou são tão over-the-top e exageradamente histéricas que perdem toda a tensão, ou então são repetitivas como o raio e lá para o fim já não temos mais pachorra para ver tanta gente anónima a voar pelos ares pendurados por fios invisiveis.

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Tal como acontece naqueles filmes de super herois irritantes onde há tanto cgi nas cenas de luta que tudo acaba por se tornar absolutamente desinteressante, também em [“Monk comes down the mountain“] tanta gente pendurada por fios em lutas prácticamente idênticas a todo o instante  acaba por eliminar por completo todo o interesse que as cenas de acção deveriam manter.

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Por outro lado a acção só se tornaria interessante se nos preocupassemos com os personagens e neste filme tirando o heroi que é excelente (e os personagens do primeiro segmento), de resto não há por aqui nenhuma pessoa com que nos importemos.
Até porque nenhum tem grande lógica. Uns aparecem para morrer apenas, outros não têm personalidade ou motivação para serem “filosóficos” a martelo, outros são simplesmente aborrecidos.

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Os mafiosos são ridiculos, anónimos ou estereotipados para além de serem unidimensionais como o raio e “filosóficos” por demais; o mesmo vale para os supostos mestres do Kung-Fu que têm o carisma de uma pedra e a personalidade de um cepo ou então são antipáticos ao ponto de lhes querermos enfiar um murro nós próprios (o monge budista). Tudo isto afunda por demais um filme que merecia ter tido melhor sorte.

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Isto porque tudo o que faz bem, acerta totalmente em cheio. O problema é que tudo o que faz mal é realmente insuportável e pior, torna o filme chato como o raio porque se torna absolutamente desinteressante. E então se viram “The Grandmaster” e gostaram do filme de Wong Kar Way não vão conseguir deixar de comparar os dois filmes por muito diferentes que estes sejam ou estúpida que seja a comparação.

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CLASSIFICAÇÃO:

Ignorem o trailer. O filme parece muito divertido na apresentação mas não se deixem enganar, porque o tom  desta história é bem diferente e muito mais caótico.
O que raio se passou com [“Monk comes down the mountain“] ?!
Depois de “The Promise”, o mesmo realizador faz uma coisa destas por que razão ?
Este filme tinha tudo para ser um dos filmes de fantasia mais originais dentro de um registo de Kung-Fu e no entanto desperdiça todas as cenas, até mesmo as cenas de kung-fu !!
Infelizmente ao contrário de “The Promise” não me parece que vá rever este filme tão cedo na minha vida. Uma vez chega. E este não vou comprar em Blu-Ray de certeza.

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Duas tigelas de noodles e meia. É interessante, vale a pena ser visto uma vez pelo que tem de positivo mas depois passem à frente.
Uma decepção.

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A favor: alguns momentos visuais são do melhor, a primeira meia hora é tudo o que o resto do filme deveria ter continuado a ser, o protagonista/actor principal é excelente e muito carismático, excelente fotografia, um par de lutas kung-fu em estilo voador bastante divertidas.
Contra: depois da primeira meia hora o filme muda de registo, há um excesso de fragmentação nesta história que não se entende, personagens totalmente desinteressantes ou antipáticos na sua maioria, excesso de lutas anónimas onde se pontapeia em estilo cartoon hordas de vilões que aparecem de todos os lados só porque sim, está cheio de filosofia de pacotilha do pior, não cria qualquer ligação emocional com o espectador a não ser que o aborrecimento de morte seja uma boa emoção.

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TRAILER

 

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt3594826
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