Runway Cop (Cha hyung-sa) Terra Shin (2012) Coreia do Sul


Se calhar não devia, mas não resisto dar a [“Runway Cop“] a excelente classificação que lhe dou. Se calhar não vale nem metade mas na verdade tenho que admitir que este filme me divertiu à brava e não estava nada à espera disto.

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Esperava algo divertido mas ao mesmo tempo apenas mediano. Nunca pensei que [“Runway Cop“] fosse mau, mas também não esperava que fosse melhor do que a habitual comédia tresloucada produzida na Coreia do Sul naquela fórmula habitual em que todas as comédias acabam por parecer iguais.
No entanto, achei piada ao estilo chunga do trailer e neste caso a apresentação representa bem o tipo de filme que depois encontramos; o que é bom, pois desta vez o trailer não engana. Quem não gostar do trailer salte este filme. Quem gostar, o filme é isto mas mais chunga ainda.

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Este tipo de comédia totalmente alucinada é realmente um estilo à parte e normalmente esgota o espectador ocidental ainda um filme não chegou ao meio da história pois sinceramente penso que nós por cá não estamos de todo culturalmente programados para aguentar tanta adrenalina excêntrica por segundo ou tanta piada por frame em tom histérico como acontece nestas produções daquela parte do mundo.
[“Runway Cop“] encaixa-se neste tipo de comédia típicamente Sul Coreana em modo ultra comercial, mas para minha surpresa, deixou-me realmente muito bem disposto do inicio ao fim.

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Eu que tenho total desprezo pelo mundo da Alta Costura e da Moda em geral, não resisto a espreitar qualquer coisa que ataque esse meio que eu não suporto; mas até agora acho que nunca tinha visto um filme tão divertido passado nesse universo de excesso e futilidade.
Até o conhecido “Zoolander” de Ben Stiller me decepcionou em grande e nunca lhe achei grande piada pois sempre achei que se esforçava demais para ter graça (a sequela é do pior) e portanto para mim não resultou. Não há pior coisa numa comédia do que aquele estilo de realização que parece indicar ao espectador quando é para rir como se as piadas tivessem obrigatoriamente que ter graça. Vá, agora é para rir !

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Para mim uma boa sátira ao mundo da moda teria de ser algo que passasse subjectivamente essa ideia e é isso que [“Runway Cop“] na minha opinião faz muito bem.
Não é abertamente uma sátira àquele mundo apesar de ser ambientada no meio, mas usa uma história supostamente policial para ao mesmo tempo apontar  aquilo que a Alta Costura tem de rídiculo sem no entanto ser um ataque gratuíto porque enche toda a trama com personagens cativantes e caristmáticos quanto baste, tanto no mundo “real” como no mundo das passerelles, sem esquecer um par de boas caricaturas histéricas ao extremo muito bem inseridas nos momentos de humor certos.

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Eu diverti-me realmente muito com isto; por muitas vezes conseguiu arrancar-me algumas gargalhadas inesperadas e não me lembro da última vez que uma comédia conseguiu colocar uma sucessão de piadas que me tivessem mantido permanentemente em modo de boa disposição e interessado em ver o que iria acontecer a seguir em termos de gags humorísticos criativos.
Quanto a mim este filme tem alguns dos melhores momentos de humor dos últimos tempos pois acima de tudo é um filme muito boa onda.

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[“Runway Cop“] é um filme em duas metades. Na primeira parte acompanhamos as desventuras do policia mais porco, mal cheiroso e javardo que alguma vez deve ter aparecido no cinema e na segunda metade da história vemos o que acontece quando este é obrigado a transformar-se à força num Top Model masculino para se infiltrar num esquema de tráfico de droga que supostamente se passará nos bastidores de uma passagem de moda. Inevitávelmente a estilista envolvida é uma antiga colega de escola do bófia imundo e por isso já estão a ver onde a parte romântica irá funcionar. E funciona.

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Por causa desta estrutura [“Runway Cop“] será ao mesmo tempo dois filmes num só. O primeiro acto para mim é o mais hilariante, pois toda a caracterização do heroi mais porco do mundo é plenamente divertida pelo ritmo non-stop com gags que utilizam a sua javardice profissional de forma criativa e às vezes inesperada para nos fazer rir sem nunca se tornar verdadeiramente repetitivo. Há um par de sequências absolutamente hilariantes que aposto lhes ficarão na memória; a cena do interrogatório “desumano” e a parte em que o heroi “segue” o carro do vilão guiando na verdade à frente deste sem querer.

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A primeira metade usa as piadas para introduzir personagens e portanto tudo está muito bem integrado na narrativa. Ou seja, [“Runway Cop“] não é aquele tipo de comédia que pàra para nos fazer rir com gags e depois logo mete uma história pelo meio porque tem que ser ; (contráriamente ao que acontece em “Zoolander”); aqui os gags são usados para fazer sempre avançar a história e tudo resulta de forma muito organica e que surpreendentemente não parece de todo forçada apesar de acontecerem cenas totalmente alucinadas a todo o instante.

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E nota-se que os actores estão a divertir-se por completo com este argumento. Os personagens secundários são hilariantes ou cativantes, a história é divertida e tudo em [“Runway Cop“] funciona porque tudo é simples.
Há ainda uma boa história romântica secundária particularmente inesperada e que curiosamente ainda dota este filme de uma certa humanidade que se calhar nem precisaria de ter para resultar; por outro lado, isto é cinema oriental e mais uma vez demonstra muito bem como se criam personagens de que se fica a gostar sem às vezes nos apercebermos.

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[“Runway Cop“] não tem pretenções a ser mais do que uma boa comédia e quanto a mim resulta plenamente na sua simplicidade. Está cheio de lugares-comuns, personagens tipo, mas sabe cozinhar tudo de uma forma que resulta muito bem. Até algum defeito, porventura estará no facto de que a primeira metade enquanto o heroi é um porco imundo é bem mais divertida do que a segunda, quando o filme entra mais pela comédia de acção, mas nem por isso deixa de ser um produto simpático e com alguns momentos realmente hilariantes com gags muito bem pensados e criativos.

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CLASSIFICAÇÃO:

Se calhar não merece, pois em termos de cinema propriamente dito não há por aqui nada que seja realmente único ou brilhante, mas a verdade é que é uma comédia eficaz e se calhar isso é quanto basta para que um filme simples seja bem melhor do que aparenta à primeira vista; isto porque fazer comédia com fôlego e alguma criatividade não é para todos e quanto a mim tudo neste caso resulta plenamente para nos dar um par de horas divertidas com personagens cativantes e divertidos quanto baste metidos em situações por vezes hilariantes e onde tudo se passa num ritmo endiabrado que muitas vezes nos deixa completamente cansados só de olhar para tanta correria.

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Cinco tigelas de noodles porque é um daqueles filmes simpáticos que é um antidoto perfeito para quando temos um dia complicado e só queremos descontraír um pouco sem pensar muito.

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A favor: o actor principal é fantastico nas partes em que faz de porco imundo chunga, os personagens secundários são excelentes e muito carismáticos (com destaque para o capitão do heroi), é uma história que não tem medo de ser politicamente incorrecta até na abordagem romântica em relação a certos personagens, contem alguns gags muito criativos e por vezes hilariantes, é uma boa comédia de acção e bem melhor estruturada do que o típico filme do género que habitualmente encontramos aos montes no cinema de humor sul coreano.
Contra: o facto de ter duas metades em registro diferente fragmenta um bocado o ritmo narrativo e perde algum fôlego no meio, até mesmo em termos de humor… mas não é grave.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt2182095

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Comédias “semelhantes”:

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Black Coal Thin Ice (Bai ri yan huo) Yi’nan Diao (2014) China


Pensava que era desta que ia aqui escrever uma recomendação para um excelente policial em estilo oriental mas fui enganado. Tudo indicava que [“Black Coal Thin Ice“] ia ser realmente um bom título para um género de que ainda pouco falei por aqui na cinematografia oriental, mas afinal ainda não é desta.
As “iludências aparudem” meus amigos.

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Estou cá com a impressão de que a crítica ocidental que diz maravilhas deste filme só deve ter visto mesmo apenas o trailer e nada mais.
Isto porque tudo o que tem sido escrito sobre [“Black Coal Thin Ice“] em tom exacerbado por alguns críticos iluminados em puro extase de intelectual de café, realmente está absolutamente certo se apenas virmos o trailer.

Tudo no trailer indica que isto vai ser um excelente policial noir sim senhor. O trailer tem mistério, puxa-nos para dentro da história e tem um ritmo que parece perfeito para um filme policial nestes moldes.
Depois vemos o filme e parece que alguém se enganou na montagem.
[“Black Coal Thin Ice“] contém realmente todos os elementos que estão na apresentação, mas este é um caso típico de como uma montagem pode determinar o tom e o estilo de um filme, para bem ou para o mal.

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[“Black Coal Thin Ice“] tinha tudo para ser o thriller intenso, estilizado e emocionante que aparenta ser no trailer, mas na realidade é um filme muito diferente.
É uma pena, mas este filme é um daqueles que até irrita porque o potencial é absolutamente fantástico, a história é boa, o ambiente visual está lá mas depois deita tudo a perder quando entra por um estilo pretencioso nos moldes do pior cinema de autor.
Não que [“Black Coal Thin Ice“] seja chato como o raio, mas sinceramente deveria ter sido o filme que aparenta no trailer e não o filme que na realidade é.

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Estou sinceramente convencido que muita gente deve ter escrito reviews à pressa para entregar ao editor no último minuto apenas tendo olhado para o trailer sem ter visto o filme.
[“Black Coal Thin Ice“] dispensava por completo aquelas pausas narrativas, aqueles enquadramentos longos e momentos contemplativos que parecem durar minutos a fio quando na verdade até só duram alguns segundos.
Não há nada de errado num realizador querer criar um ambiente intimista, criar uma atmosfera desencantada para basear a sua história numa realidade urbana em vez de a filmar numa espécie de versão da realidade num tom cinematográfico habitual, mas sinceramente bastava estabelecer essa premissa num par de cenas só para o espectador perceber onde está e depois deveria ter seguido em frente.

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Em muitos momentos o tom narrativo de [“Black Coal Thin Ice“] parece o equivalente àquela velha piada que nunca mais acaba porque quem a conta repete a história sucessivamente minutos a fio antes da punchline final que deveria ter graça mas que depois perde todo o impacto.
São assim todos os bons momentos que acontecem na história deste título policial.
Quando a narrativa parece que finalmente vai reproduzir o filme que vimos no trailer, o realizador resolve entrar novamente em modo “artístico” e encalhar a montagem com mais uma daquelas pausas contemplativas de qualquer coisa, takes com segundos a mais que perpetuam momentos vazios (e nunca mais ninguém diz – “corta”); ou então inserindo cenas que na verdade não servem absolutamente para nada na história, mas parecem estar lá porque o realizador está mais preocupado em ser considerado – um autor – do que em contar uma história noir pura e simples nos moldes clássicos.

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Há algures um excelente filme noir pelo meio de [“Black Coal Thin Ice“], visualmente é muito atmosférico, baseado numa realidade urbana fria e desencantada e a história no seu todo é muito boa.
A história gira à volta de um crime inicial que depois se ramifica por mais uns quantos e tinha um potencial fantástico para nos surpreender. Começa com o facto misterioso de que vários bocados de um cadáver apareceram ao mesmo tempo em várias regiões distantes da China mas logo se torna numa história mais intimista que leva a conclusões relativamente inesperadas. Tivesse [“Black Coal Thin Ice“] sido realmente o filme que parece ser no trailer, estariamos na presença de um excelente policial noir.

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[“Black Coal Thin Ice“] falha pura e simplesmente porque todo o mistério, mas principalmente todos os twists e revelações da história são completamente diluídos por tantos momentos em modo -cinema de autor- que insistem em fazer com que o impacto da narrativa se perca constantemente.
Quando acontece algo que deveria ser um twist ou uma reviravolta na história, o espectador practicamente nem sente o impacto da revelação ;(nem notamos às vezes) e isso é o pior que para mim pode acontecer naquilo que supostamente seria uma história policial.

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O problema de [“Black Coal Thin Ice“] é que nunca se define se quer ser cinema de entretenimento com uma boa história policial ou um título iluminado no cinema de autor cheio de metáforas pessoais sobre o isolamento, a depressão, vidas vazias, etc, mas num tom algo pretencioso.
Toda essa vertente estraga por completo o que deveria ter sido um excelente policial chinês.
Por um lado continua a ser. Se vocês conseguirem abstrair-se dos tiques -auter- da história e terem presença de espírito para se concentrarem apenas no mistério policial, se calhar irão gostar bastante.
O filme tem um enorme potencial. Mas na verdade são dois filmes colados num só e não resultam como um todo numa análise final.

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Visualmente tem momentos excelentes e é um daqueles títulos que me recordou constantemente  Blade Runner. Estava a ver [“Black Coal Thin Ice“] e a imaginar que se o ambiente disto tivesse uns carros voadores pelo meio e uns edificios épicamente tecnológicos como background nos cenários, este seria uma argumento fantástico para uma espécie de sequela não oficial made in china para Blade Runner.

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Todo o ambiente está cheio de neons, viela escuras contrastando com as luzes da cidade e é um filme essencialmente nocturno cheio de contrastes de cor e jogos de iluminação muito bem pensados. Os personagens parecem também ser absolutamente perfeitos para Blade Runner, o detective desencantado (que não detectiva por aí além), a femme fatale num estilo Rachel mas em tom urbano contemporâneo, um “vilão” que num mundo futuristico poderia muito bem ter sido um excelente replicant e todo um conjunto de referências actuais orientais que o próprio Blade Runner utilizou com uma estética futurista trinta anos atrás.
Até o anti-heroi tem qualquer coisa a fazer lembrar Rick Deckard.

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Por este prisma [“Black Coal Thin Ice“] é um filme fascinante, pois sente-se que poderia ter sido realmente um Blade Runner a todo o instante. Inclusivamente o tom intimista e a história de amor melancólica estão lá também, (só falta Vangelis); apenas tudo leva com um estilo de realização que é por demais pretencioso para que os ingredientes certos resultem como deveriam ter resultado mesmo neste cenário contemporâneo.

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[“Black Coal Thin Ice“] é também um filme algo deprimente. Uma coisa que contribui imenso para isso é a banda sonora clássica por vezes em tom de Adágios sucessivos (algum Richard Strauss), ou então entra pela música pimba chinesa mais atroz. Isto até nem teria sido problemático; o problema é que aliado àquele estilo de realização pretencioso em modo -instalação artística- por vezes, isso ainda contribui mais para que a sua história de mistério se perca por completo.
E o final também não ajuda. O mistério resolve-se mas depois há minutos a mais na conclusão quando o filme fecha assim com mais uma espécie de metáfora visual e que era perfeitamente desnecessária, até porque parece que irá levar a qualquer lado e não leva a lado nenhum. E o filme acaba. The end.

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CLASSIFICAÇÃO:

Há por aqui em [“Black Coal Thin Ice“] um excelente filme noir a querer saltar para fora a todo o instante. Precisamente aquele filme noir com que o trailer engana toda a gente mas não existe de todo nesta produção e não é de todo o que aparenta ser se vocês forem pelas críticas entusiasmantes que aparentemente tem recebido por todo o lado.

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Todas as excelentes qualidades que ninguém nega a este título, são no entanto diluídas pela pretenção a cinema extremamente sério num tom de autor que era perfeitamente dispensável, pois neste caso só serviu para colocar em terceiro plano aquilo que deveria ter sido o seu maior atractivo; o argumento. Em [“Black Coal Thin Ice“] filma-se muito para lá do que o argumento pedia para resultar e tudo o que é adicional torna-se pretencioso como o raio e em alguns momentos secante também pois faz com que a história perca todo o impacto.

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Duas tigelas e meia de noodles, porque é um filme extremamente interessante mas nem de perto ou de longe é a obra prima que certa crítica parece ter visto neste título. E podia ter sido.
Quanto a mim os críticos só viram o trailer mesmo. Esse sim, contém o filme que isto deveria ter sido e que aparenta ser nas reviews ocidentais.

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A favor: a história é boa, o ambiente visual é excelente, boa fotografia, bons actores e bons personagens, o trailer é fantástico.
Contra: não se deixem enganar pelo trailer, tem cenas que se alongam por demais, o tom de cinema de autor torna-se pretencioso e é totalmente dispensável num titulo que não pedia mais do que ser aquilo que parecia ser quando vemos o trailer mas não é.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt3469910

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Gui si (Silk) Chao-Bin Su (2006) Japão


De vez em quando surgem uns filmes que tentam ir para além de um único género e procuram apresentar propostas com alguma originalidade mas a coisa nem sempre resulta particularmente bem.
Este [“Silk“] é no entanto um bom exemplo desse tipo de filmes que quase conseguem criar algo realmente especial.

Já muito se tentou fazer cruzando vários géneros de cinema e neste caso estamos perante uma história híbrida bastante curiosa que tenta apresentar um conceito novo algures entre a ficção-científica e o típico filme de terror oriental.
[“Silk“] é uma boa tentativa, parte de uma ideia que eu ainda não tinha visto em cinema e quase que posso apostar que um destes dias vamos ainda ver um qualquer remake americano disto. Pelo menos, no que toca ao conceito base da história, [“Silk“] está mesmo a pedir que Hollywood vá lá buscar inspiração.

A ideia aqui tem a ver com um grupo de cientístas que conseguiram capturar o fantasma de uma criança e o têm prisioneiro no quarto de um discreto apartamento assombrado por esta alma penada.
O apartamento está transformado num laboratório secreto e a ideia será não só tentar descobrir o que é afinal um fantasma, mas também quem é a alma da criança e porque razão ainda se econtra entre este mundo e o próximo sem ter partido quando morreu.

Acontece, que este ectoplasma emite um residuo que poderá revolucionar toda a ciência á volta do estudo da anti-gravidade e como tal, temos também um cientísta meio louco que não olha a meios para chegar á sua descoberta, mesmo que para isso se aproveite do sofrimento do fantasma infantil.
Adicionando a tudo isto, um polícia que se vê envolvido no mistério no seguimento de uma investigação de homícidio obtemos um estranho cruzamento entre vários géneros de histórias.

[“Silk“] começa como filme de terror, continua como thriller policial, passa ficção-científica high-tech com um toque de máfia e intriga política pelo meio, entra pelo filme sobrenatural, segue para o drama clínico (a mãe do polícia está a morrer no hospital), tem um cheirinho de cinema de acção e termina com um toque de cinema romântico oriental (o polícia tem uma namorada fofinha) misturado com uma resolução positiva do mistério da origem da criança fantasma num tom de feel-good-movie num final a condizer tudo isto.

E isto resulta ?
Bem…resulta. Agora podia ter resultado melhor.
Na verdade não há nada de errado com [“Silk“], a história é intrigante, o filme tem uma montagem porreira que consegue ir alternando os vários tipos de ideias num único novelo coerente e tem realmente qualquer coisa de originalmente apelativo.
O seu único problema é que no meio de tanta ideia e referência bem executada, acaba por não deslumbrar em nenhuma delas nem dar nada ao espectador que o entusiasme particularmente ao longo de todo o desenrolar do filme.

As cenas de terror são atmosféricas, chegam a causar um par de boas surpresas e arrepios na espinha quanto baste mas por causa de tanta fragmentação de estilos ao longo da história o ambiente nunca se mantém de forma a nos inquietar constantemente. Os conceitos de ficção-científica são muito interessantes mesmo, as ideias á volta da teoria da anti-gravidade são muito interessantes e os efeitos digitais á volta do conceito do cubo high-tech dão uma atmosfera curiosa á história que nos mantém o interesse também á volta desta parte mais sci-fi. O problema é que mais uma vez sente-se que havia aqui algo que poderia ter sido bem mais interessante e não foi.

No que toca á parte policial, ou ás sequências em estilo de thriller de acção a coisa também segue pelo mesmo estilo.
[“Silk“] contém um par de boas cenas de suspanse e acção mas depois acabamos por sentir falta de mais, porque o filme não tem tempo para se focar demasiado tempo em cada um dos seus estilos e como tal dispersa-se um bocadinho por todos os géneros.

O que prejudica naturalmente também o lado mais emotivo da história. A carga dramática em tom pesado hospitalar no que toca á história do policia e da sua mãe moribunda por vezes parece excessiva e desnecessária e a história de amor parece-nos um bocado á deriva sem muito para contribuir para o conceito principal de [“Silk“].
Embora, a parte romântica  mesmo sendo breve consiga interessar-nos e até dar alguma frescura á história, isto porque o personagem do polícia consegue cativar-nos ao longo da narrativa e por isso damos por nós a torcer para que a sua história tenha um final feliz.

Uma das coisas que quanto a mim estraga um bocado o conjunto e dá uma ideia mais fraca de [“Silk“] enquanto filme, é o personagem do cientísta vilão, pois a sua caracterização é algo absurda e desprovida de motivação coerente o que contrasta um bocado com todo o cuidado que foi colocado para que a história resulte bem como um todo.
Este personagem parece ter saído de um mau Anime televisivo. Além de ter um look todo estiloso e passar todo o filme em pose constante para a câmera, todas as suas motivações parecem mais saídas de um desenho animado infanto-juvenil do que propriamente de um personagem coerente com toda a tentativa de seriedade que percorre [“Silk“] e isto é talvez o pior contraste de todo o filme.

Se [“Silk“] tivesse tido um vilão menos estéreotipado e mais até dentro daquele tipo de história séria de sci-fi que pretende contar, se calhar teria resultado melhor em termos de suspanse. Isto porque qualquer ambiente credível da história é logo imediatamente quebrado quando muita da atenção do espectador vai para as poses estilosas do vilão quando este está em cena em vez de nos focarmos na narrativa como seria de esperar se este personagem estivesse melhor integrado no estilo sério do argumento.

De qualquer forma, [“Silk“] é um filme a ver sem reservas.

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CLASSIFICAÇÃO:

Quem procura uma mistura entre terror oriental e ficção-científica high-tech tem aqui uma proposta muito interessante.
É um bom filme de vários géneros e consegue manter tudo ligado sem parecer particularmente forçado, embora não nos deslumbre em nenhum deles e é pena.
De qualquer forma, trés tigelas de noodles porque é um bom thriller. Nem mais, nem menos. Espreitem porque vale a pena, quanto mais não seja porque tenta ser original e de certa forma até o consegue.
Podem apostar que um dia destes aparece por aí o remake americano pois [“Silk“] está mesmo a pedi-las…

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A favor: as partes sobrenaturais conseguem provocar um arrepio ou dois, mete um fantasma criancinha e portanto o factor creepy é garantido, a ideia do fantasma capturado é muito boa, o conceito de ficção-científica é interessante, as poucas sequências em tom de thriller policial de acção complementam bem toda a história, o mistério á volta da criança alma penada é previsível mas mesmo assim mantém-nos interessados no seu desenvolvimento, a mini-parte romântica não deslumbra mas resulta bem e dá personalidade ao resto da história porque contrasta bem com o tom dramático de tudo o resto, o filme tem ideias a mais que poderiam ter dado filmes individuais de vários géneros diferentes mas consegue equilibrar tudo sem parecer forçado e portanto é uma boa tentativa de se criar algo diferente.
Contra: por ter ideias a mais não consegue dedicar demasiado tempo a cada uma delas e por isso apesar de [“Silk“] resultar de forma competente e agradável de seguir nunca nos deslumbra nem ficará particularmente na memória, é um daqueles filmes que se vê uma ou duas vezes e depois metemos na prateleira até um dia, o vilão em estilo Anime piroso interfere demasiado no tom sério da história e além disso é um personagem completamente de cartão o que fragmenta ainda mais um produto que não precisava de mais distrações para competir com a atenção do espectador, o mistério á volta da morte da criança é por demais previsivel e já vimos isto antes mil vezes.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=wZZYeUrCbkY

Comprar
http://www.play-asia.com/paOS-13-71-7m-49-en-70-1t7t.html

Download aqui

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0486480/combined
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Xin jing cha gu shi (New Police Story) Benny Chan (2004) China


Eu não conheço as anteriores entregas desta muito popular série de acção made-in-hong-kong, mas pelo que tenho visto pela net, este quinto episódio divide opiniões.

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Normalmente entre aqueles puristas de Jackie Chan que preferem vê-lo permanentemente a fazer acrobacias e palhaçadas e o outro público que o admira por tentar fugir ao registo que o tornou popular e arriscar enveredar por apostas de conteúdo mais dramático como acontece em [“New Police Story“], técnicamente o quinto episódio da série de filmes conhecida como “Police Story” e dizem, o filme mais diferente de todos eles.

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Pela minha parte devo dizer que adorei este filme. Não sou de modo nenhum fã dos filmes de Jackie Chan (talvez pela imagem de palhaço das produções made-in-hollywood) e como tal tive este dvd na prateleira durante mais de um ano a acumular pó.
Comprei-o por menos de dois euros numa daquelas promoções do jornal Correio da Manhã muitos meses atrás mas na verdade nunca tinha tido muito interesse em vê-lo.

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Primeiro, porque era outro filme de Jackie-Chan e depois porque ainda por cima parecia-me outro policial e temia que fosse mais um filme a tentar imitar as produções americanas sem grande interesse ou imaginação.
Como é costume no meu historial a evitar produtos, enganei-me redondamente.
Este filme chinês é um espectáculo.

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Ok, é um daqueles produtos completamente “braindead” com acção a duzentos há hora, exageros físicos, lógica de argumento duvidosa e porrada de criar bicho com cenas de destruição absolutamente caóticas a fazer corar de vergonha qualquer filme americano chungoso, mas a verdade é que tudo resulta e por isso [“New Police Story“] quanto a mim é um daqueles produtos ultra-comerciais que consegue contornar a sua falta de originalidade com uma estrutura absolutamente fascinante que nos agarra do principio ao fim.

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E isto porque consegue estar sempre a surpreender o espectador, pois se não souberem nada sobre o filme, podem ter a certeza que nunca sabem bem o que vai acontecer a seguir. E isto não é coisa comum neste género de cinema, o que lhe confere logo alguns pontos extra.
[“New Police Story“] é bastante criticado por ter abandonado o registo de comédia dos titulos anteriores e ter entrado por um registo bem mais dramático e excessivamente violento na opinião de alguns.
Mas para mim está logo aí a sua mais valia.

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O filme parece uma mistura de géneros. Começa como filme de acção ultra violento, entra por um registo dramático invulgar em personagens de Jackie-Chan, passa por um estilo de filme Radical versão “X-Games”, toca ligeiramente a comédia com um par de momentos hilariantes e de humor inteligente e termina como filme de acção puro e duro num formato mais comercial em tom de aventura com algum suspense e um final criativo no que toca á resolução do destino dos vilões.

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Se vocês gostaram de “Point Break” com Patrick Swayze e Keanu Reeves então este filme é para vocês.
No que toca ao estilo de acção mais “radical”, [“New Police Story“] contém sequências de acção absolutamente fantásticas, imaginativas e entusiasmantes a fazer lembrar o excelente filme de Kathryn Bigelow do inicio dos anos 90.
Pelo meio ainda temos direito a uma cena com um autocarro que faz o filme “Speed” parecer um filme da Disney no que toca a destruição de propriedade alheia.

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Na verdade, [“New Police Story“] vai copiar elementos de todo o lado, tanto do cinema asiático como do cinema americano, mas tudo resulta plenamente.
As transições entre os vários estilos de filme estão perfeitamente integradas na narrativa, os vilões apesar de algo estereotipados têm alguma profundidade que os tornam cativantes e o argumento joga muito bem com a imprevisibilidade do que mostra ao espectador e consegue manter-nos agarrados á cadeira até ao último minuto.

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Como nota menos positiva, se calhar o filme tem minutos a mais. Ou então isto parece-me ser assim porque [“New Police Story“] contém tantos momentos de acção espectaculares e emocionantes que a partir de certa altura tanta acção corre o risco de parecer mais repetitiva do que se calhar na verdade é.
Por mim talvez tivesse cortado a segunda sequência de Kung-Fu na sala dos Legos, até porque é a única vez que o argumento repete um estilo de acção que já tinha mostrado e como tal senti que era desnecessária.

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Mas não deixem que isto os desencorage de verem este excelente filme de acção, pois além de grandes momentos de porrada pura, ainda nos brinda com um par de gags humoristicos inesperados genialmente hilariantes.
Além disso, também tem um ambiente fofinho quanto baste a fazer lembrar um Anime, isto no que toca á caracterização dos personagens femininos.

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CLASSIFICAÇÃO:

Divertiu-me tanto que estive tentado a atribuir-lhe a classificação máxima incluindo um Golden Award, mas se calhar só não o faço porque teria todos aqueles cinéfilos mais hardcore á perna a dizerem-me que seria impensável atribuir uma nota tão boa a um puro produto comercial que na verdade não tem nada de cinema com “C” grande e não passa de um banal filme de porrada no mais puro estilo Hong-Kong.
A verdade é que na minha opinião pode não ser grande cinema, mas aquilo que faz, fá-lo extraordináriamente bem e tomara muito filme chunga americano neste estilo ser tão intenso e divertido quanto [“New Police Story“] consegue ser. E isto ao ponto de me ter colocado a mim, que nem sou fã de Jackie Chan completamente hipnotizado e entusiasmado do principio ao fim.
Sendo assim…cinco tigelas de noodles porque surpreendentemente merece-as plenamente. E se gostarem muito de filmes de acção podem acrescentar-lhe um Golden Award vocês mesmo por vossa conta.
Ignorem a recepção morna ao filme pela net, [“New Police Story“] é realmente muito melhor do que parece e até quem não gosta de filmes- Jackie Chan poderá sair muito surpreendido.
A mim surpreendeu-me. E o mais importante, divertiu-me imenso.

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A favor: a violência “gratuita” com muito sangue logo nos primeiros trinta minutos de filme que não nos deixa respirar, Jackie Chan num registo muito dramático que nos surpreende pela positiva, as sequências de decadência do seu personagem, todas as cenas de acção são excelentes e cheias de momentos inesperados, mantêm sempre o espectador sem saber o que vai ver a seguir, os vilões têm carisma apesar de algo estereotipados, os momentos de humor são hilariantes pelo inesperado da situação onde foram colocados, óptimas cenas de destruição urbana em larga escala, tem patinhos de borracha, miudas fofinhas estilo Anime, a história tenta apresentar-nos algo mais complexo do que precisava de ter sido e no entanto apesar da mistura de referências a coisa resulta, quem gostou de “Point Break” tem aqui um produto semelhante que resulta na perfeição, a realização é segura embora não deslumbre mas gere bem as cenas de acção, o dvd tem um som 5.1 excelente.
Contra: talvez seja um bocadinho longo demais embora não seja por aí além e não o prejudique propriamente, apesar de tudo é um filme de Jackie-Chan e ainda contém um par de tiques inevitáveis que poderão irritar quem não tem muita paciência para aquele tipo de filmes, já vimos este tipo de história mil vezes.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=2PXLgC0g0ZM

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Bem eu comprei o meu numa promoção de jornal podem comprá-lo aqui se já não o virem em lado nenhum
http://www.play-asia.com/paOS-13-71-6w-49-en-15-new+police+story-70-cj6.html

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http://asianspace.blogspot.com/2009/05/new-police-story-aka-hora-do-acerto.html

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0386005/

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Filmes semelhantes de que poderá gostar:

soclose_capinha 2009 Lost Memories

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Chik yeung tin si (So Close) Corey Yuen (China) 2002


Antes de mais e porque já sei que me iria esquecer de referir mais tarde, podem encontrar este dvd á venda na amazon inglesa numa edição que contém uma excelente legendagem em português.
E o filme neste momento (Agosto 2010) encontra-se a pouco mais de 5€.
Bom, eu se calhar não devia, mas adorei este filme e por causa disso estranhamente vai ser mais um daqueles sobre o qual me vai ser muito dificil escrever porque normalmente o género de acção pura e simples não é algo que me costuma cativar.

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Ainda por cima, na verdade [“So Close“] é quase um enorme catálogo daquele tipo de cenas que normalmente me irritam por demais, mas desta vez estranhamente tudo parece funcionar perfeitamente.
Apesar de não ter nada em comum com outro fantástico filme de Hong-Kong chamado “Fly me to Polaris”, [“So Close“] acaba por ser parecido numa coisa. Tal como em “Fly me to Polaris” dentro do género romântico, também agora este filme de acção consegue ser uma obra que obtêm resultados excelentes usando apenas uma quantidade enorme de lugares comuns. Tivessem sido mal trabalhados e [“So Close“] poderia ter sido uma desgraça.
Na minha opinião surpreendentemente aconteceu precisamente o contrário e realmente eu não estava nada á espera de gostar tanto disto quanto gostei.

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Se estão a olhar para a primeira  fotografia deste post e a pensar que esta coisa deve ser uma espécie de “Anjos de Charlie” versão Hong-Kong, acertaram em cheio.
E se isso os faz irem imediatamente buscar um saco de vómito esperem um bocadinho pois tomara as versões modernas made-in-america conseguirem o resultado que na minha opinião [“So Close“] consegue.
Há que começar por dizer no entanto que este filme felizmente não é propriamente um remake chinês do “Charlie´s Angels”.  Ao menos isso.
É sim uma história de acção com trés protagonistas femininas e óbviamente toda a obra está filmada no mais tradicional estilo oriental de cinema de acção made-in-hong-kong, o mesmo que tanto influenciou também os modernos “Anjos de Charlie” americanos e os americanos continuam a tentar imitar sem nunca atingirem o brilho dos produtos originais.

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Tudo neste filme oriental avança em velocidade acelerada e a coisa resulta plenamente. A história embora seja o cliché do costume (dentro do cinema do género de Hong-Kong), nunca pára para deixar o espectador respirar. O que nem sequer impede de ainda conseguir ter um argumento com alguma complexidade o que só lhe fica bem.
As cenas de acção irão fazer as delícias daqueles que acharam que Matrix tinha pinta e portanto quem quiser ver um bom e genuíno produto saido da terra que realmente inventou o “estilo Matrix” tem aqui um excelente dvd para comprar, alugar ou ver.

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Sequências de acção que nos colocam os olhos em bico, estética de comercial de moda a todo o vapor, miudas giras quanto baste e porrada de meia noite com muita atmosfera técnológica á mistura; tudo com uma montagem totalmente “over the top” e onde nos passam pela frente os maiores exageros e proezas físicas desde que “Conan – O rapaz do futuro” andava equilibrado com o dedo do pé no cimo de um mastro de navio.  Só que desta vez , isto não é um desenho animado e sim um filme de acção “em imagem real”.

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No entanto tudo isto nos é apresentado dentro de um universo específico muito bem definido logo desde o início. Por isso apesar de todos os exageros que mostra, [“So Close“] nunca entra por um registo de comédia parva com cenas cool para adolescentes e piadinhas parvas para americano rir como acontece normalmente nos filmes em que Hollywood tenta imitar o estilo de hong kong. É que normalmente este estilo oriental nas mãos dos americanos acaba mais por servir como uma ferramenta para fazer comédia ou meter pura e simplesmente estilo do que para contar realmente uma boa história ou preocupar-se em construir bons personagens.
Mas não se preocupem, [“So Close“]  não sofre desse mal pois acima de tudo é puro cinema de Hong-Kong no seu melhor e mais exagerado estilo como só os chineses o sabem fazer.

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Acima de tudo, mesmo pelo meio de toda a pirotécnia mantém a boa tradição do cinema oriental de nos apresentar personagens humanizados e acreditem que nada me surpreendeu mais do que encontrar num filme de porrada como este personagens com o qual me importei pois na verdade pelo trailer não esperava mais do que ver um par de bonecas giras aos tiros.
Por isso [“So Close“] acabou por ser outro filme asiático que ainda contribuiu mais para o meu fascínio pela maneira como o cinema oriental consegue dotar os seus “bonecos” de humanidade.
Na minha opinião este é o filme perfeito para quem gosta de cinema de acção e já está farto dos enlatados vazios cheios de previsibilidade que chega ao nosso país fazendo-se passar por grandes obras só porque estão cheios de cabeças de cartaz americanas conhecidas.

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É que um dos pontos fortes desta obra é precisamente a maneira como apesar de tudo ainda consegue pregar no espectador uma surpresa ou duas que eu adoraria poder revelar aqui mas não posso, pois estaria a estragar-lhes logo um dos pontos altos do argumento.  Mesmo assim não há dúvida que o twist a meio da história é logo suficiente para demarcar [“So Close“] do habitual cinema formulático americano que estamos habituados a ver e como tal recomenda-se plenamente também por causa deste pequeno pormenor. O que acontece á volta das heroínas deste filme jamais aconteceria numa produção americana e portanto, isto, mais a humanização dos personagens através de um par de cenas simples mas eficazes é mais um motivo para o verem.

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Inesperadamente, apesar das toneladas de acção estilizada que este filme oriental tem, ainda há espaço para um par de histórias de amor. Uma mais tradicional e outra mais contida. Esta segunda deverá ser possivelmente a história de amor com menor tempo de ecrã da história do cinema mas nem por isso com menos emotividade. Claro que também aqui não lhes posso explicar mais nada, mas há uma sequência de breves segundos “românticos” em [“So Close“] que limpa o chão com todas as pseudo-love stories comerciais saidas de Hollywood nos últimos dez anos no mínimo. Ao longo do filme sente-se por ali uma aura indicativa, mas nunca paramos para pensar muito na coisa até que o pequeno, simples e bonito momento emotivo é usado para humanizar ainda mais dois dos personagens mesmo no final do filme. Por mais que tente nunca hei de entender como o cinema oriental consegue desencantar romance credível nos momentos mais inesperados e nos personagens mais diversos.

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Sendo assim, na minha opinião, outra nota alta para esta produção que na verdade na verdade não precisava mais do que ter bonecas aos tiros e no entanto os seus criadores optaram por incluir também muita alma e até mesmo alguma poesia a um filme que essencialmente é acima de tudo um filme de acção com miudas giras.
E miudas giras não faltam aqui. Se gostam de filmes com miúdas e pistolas não se poderão enganar com este filme.
Curiosamente, isto poderia indicar que [“So Close“] seria apenas um filme para homens, mas na verdade na minha opinião este filme poderá inclusivamente agradar muito ao público feminino que normalmente nem liga particularmente a filmes de acção com tiros e bombas e socos nas trombas. Isto porque apesar da óbvia exploração comercial da beleza das actrizes, a verdade é que este é um “chick movie” com muita identidade feminina, mulheres fortes e com personalidade e personagens que não se limitam a ser giras e a passear pelo cenário.

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Contráriamente a filmes como “Os Anjos de Charlie”, em [“So Close“]  as mulheres não se fazem sequer passar por burrinhas para conseguir os seus objectivos e muito menos recorrem ao sexo para atingir os seus propósitos. Neste filme, elas são pessoas inteligentes, traçam planos, arriscam a vida e até têm dúvidas humanas. Ou seja, por muito que o estilo visual aparente ser plástico e comercial [“So Close“]  tem personagens com identidade e não bonecos que parecem cool só porque são gajas boas e mandam tiros. Aqui, as miudas parecem cool porque acima de tudo além de serem bonitas também podiam ser pessoas reais.
Isto não quer dizer que o filme entre por intermináveis desenvolvimentos de personagens ao estilo dramático para agradar a intelectuais de café, mas o facto de nunca o fazer dessa forma e mesmo assim conseguir apresentar-nos muito mais do que apenas bonecos para cenas de porrada é uma das boas razões para que vocês espreitem este filme.
Poderão não concordar comigo a cem por cento, mas posso garantir-vos que é bem melhor do que aparenta no trailer.

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Nota alta para a banda sonora também. Boas melodias intimistas para as cenas mais calmas, bom acompanhamento para as cenas de acção e o melhor e mais inesperado uso para a velhinha canção dos “Carpenters” – So close – “Why do birds… suddenly appear, everytime you are near.”
A maneira como esta canção é usada no filme é absolutamente notável e eu pela minha parte já nunca mais vou conseguir uma melodia dos Carpenters sem me recordar das sequências de acção em [“So Close“] .

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CLASSIFICAÇÃO:

Estou a sentir-me um bocado culpado por atribuír mais meia tigela a [“So Close“] do que atribuí a “Natural City“, mas a verdade é que apesar do segundo ser um dos meus filmes orientais favoritos e [“So Close“] ser um filme arrepiantemente ultra comercial, a verdade é que é também um filme muito, mas muito divertido que merece na plenitude a classificação de cinco tigelas de noodles especialmente se apenas o compararmos com outros produtos semelhantes made-in-hong-kong.

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Dentro do estilo Hong-Kong filmes de acção é coisa que não falta, mas normalmente apesar de eficazes pouco mais são do que mais do mesmo, por isso gostei de encontrar pela frente um filme como este. É que na realidade também é mais do mesmo, mas tal como aconteceu em “Fly Me to Polaris” também aqui estamos na presença de um daqueles filmes que soube como ninguém misturar todos os clichés de um género e conseguiu obter um produto que se destaca da multidão com todo o mérito próprio.

A favor: deixem o cérebro á porta e vão adorar as cenas de acção, mesmo sendo um filme ultra comercial tem personalidade, acima de tudo é um filme muito divertido para quem entra na atmosfera e se deixa levar por ele, os personagens femininos não são loiras burras e toda a sua envolvência está muito bem humanizada, apesar de ser um filme de acção é uma obra muito feminina no melhor dos sentidos, tem um par de momentos bonitos e até quase que diria poéticos, a história é engraçada e até mais complexa do que precisava de ter sido, contém um twist que jamais apareceria num filme americano e troca as voltas ao espectador, contém uma “inesperada” referência romântica que mesmo breve consegue ser suficientemente emotiva para proporcionar um final clássico no que toca á relação entre personagens, apesar de ser um produto que óbviamente explora a beleza das actrizes quase ao ponto do “exploitation” da imagem a coisa resulta plenamente, a utilização de uma música dos “Carpenters” é fantástica, tem uma fotografia perfeita para a história que ilustra, as coreografias de luta são espectaculares e as cenas de acção são muito variadas ao longo de todo o filme, tem miúdas giras aos tiros.
Contra: quem não gosta do estilo exagerado do cinema de acção de Hong-Kong vai detestar este filme, a história de amor principal não tem muito espaço para se desenvolver e por isso até nos esquecemos dela quando a acção começa, é outro filme com mafiosos orientais, ao contrário das personagens femininas todos os homens neste filme não passam de bonecos de cartão que só entram no filme para levarem na cara ou para servirem de ligação amorosa e pouco mais…mas e não é que resulta ?…

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NOTAS ADICIONAIS

Trailers
Não se deixem desmotivar pelo trailers americanizados em estilo debiloide habitual. Eu também estava convencido que o filme ia ser uma desgraça e enganei-me.
E também não pensem que os trailers mostram o filme todo. Eu também pensava.
http://www.youtube.com/watch?v=kM2BbsP-7Og
http://www.youtube.com/watch?v=ai66j2DMhzQ

COMPRAR
Não sei se o encontrarão á venda em portugal pois nunca tinha visto este filme até o ter comprado em inglaterra.
Comprem a edição Uk. Apesar de simples, contém uma cópia excelente com o som 5.1 fantástico na pista de som original em Mandarim, também (muito bem) dobrado em “inglés” e ainda em Italiano e Espanhol.
e tem legendas em Português.

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IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0300620/

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Filmes “semelhantes” de que poderá gostar:

2009 Lost Memories Natural City

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