Journey to the West: Conquering the demons (Xi you xiang mo pian) Stephen Chow/Chi-kin Kwok (2013) China


Ora nem de propósito; ainda no post anterior falei de “The Monkey King 2” e eis que agora vou voltar a falar de mais uma adaptação da saga literária chinesa -Journey to the West.
Desta vez : [“Journey to the West: Conquering the demons”].

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Podem saber mais sobre este texto clássico da literatura chinesa se lerem as minhas reviews de “A Chinese Tall Story“; “Monkey King” ou “The Monkey King 2” por isso não irei repetir agora o que já mencionei anteriormente. [“Journey to the West: Conquering the demons”] é mais uma versão de -Journey to the West- e quase outro reboot da origem da história mais famosa. Imaginem que Hollywood faz uns dez filmes com a origem do Homem Aranha; [“Journey to the West: Conquering the demons”] é quase o equivalente a mais outro “reboot”. Desta vez em tom de comédia.

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Na verdade “reboot” não será própriamente o termo aqui, até porque este texto clássico presta-se às mais variadas interpretações visuais e portanto desta vez [“Journey to the West: Conquering the demons”] é apenas mais uma variação da história que esteve na origem da parte mais famosa. Uma espécie de prequela, digamos. Mais ou menos.
Tudo o que envolve a saga -Journey to the West- para o público ocidental pode ser um bocado confuso, isto porque é um texto intensamente chinês e carregado de simbolísmos que nenhum de nós fora da China pode chegar um dia a compreender ou sequer a reconhecer.

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Talvez seja logo esse o problema desta comédia. Tenho lido que este filme parecerá bem mais cómico para o público chinês do que para o resto do mundo, pois enquanto nós só nos podemos divertir com os visuais malucos e as cenas de acção cartoon, quem está por dentro de todas a referências culturais associadas à cultura chinesa e em especial a -Journey to the West- irá, dizem, conseguir usufruir muito mais de [“Journey to the West: Conquering the demons”].

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Há um pequeno número de realizadores orientais de que eu não gosto absolutamente nada. Já vi vários filmes de alguns e nem sequer me dei ao trabalho de comentar por aqui no blog porque simplesmente não tenho mais pachorra para o cinema de certos autores. Outros, como Tsuy Hark já tenho comentado por aqui alguns títulos embora esteja no topo da minha lista negra de realizadores a evitar (mas de quem acabo sempre por voltar a ver (e até comprar) qualquer coisa, por masoquismo talvez).
Restam ainda alguns realizadores que eu simplesmente ainda nem sei o que acho do cinema deles. No topo dessa lista está Stephen Chow.

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Stephen Chow para quem não sabe é um dos mais conceituados realizadores chineses; daqueles que inclusivamente são denominados de génios (tanto pela crítica local, como por arrasto pela crítica ocidental).
Consta que Chow será um génio da comédia; o equivalente ao Mel Brooks aqui por estas bandas em termos de reverência da crítica e não há nada que ele não filme que não seja imediatamente apelidado de comédia de génio. Um pouco como sempre aconteceu com Brooks por cá, que sinceramente é outro que eu não entendo de todo pois curiosamente sempre achei que o seu humor cinematográfico sofre exactamente do mesmo tipo de problemas que eu encontro no cinema de Chow.
Pessoalmente sempre achei os filmes dele chatos como o raio. O que não deixa de ser estranho.
É que o cinema de Stephen Chow até parece bem divertido. Todos os filmes são ultra-comerciais, não são mínimamente pretenciosos sequer, estão cheios de cenas de acção muito imaginativas e cada título raramente se repete em termos de história.
Então qual é o meu problema com o cinema dele ?!

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[“Journey to the West: Conquering the demons”] exemplifica muito bem tudo o que há de errado com os filmes de Chow, porque mais uma vez repete exactamente os mesmos problemas. Embora este filme seja para mim o mais divertido pois, estranhamente foi o único que não me apeteceu desligar a meio.
[“Journey to the West: Conquering the demons”] consegue ter momentos absolutamente brilhantes com gags hilariantes muito divertidos e ao mesmo tempo arrastar-se por demais em cenas de diálogo “humorístico” que parecem nunca mais acabar.
Resumidamente é este sempre o mesmo problema no cinema de Stephen Chow.
Há um desiquilibrio enorme entre os bons momentos e os maus momentos.

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O que é bom é para lá de excelente. O que não é bom, não só é desinteressante como o raio, não tem graça como parece durar para sempre até que apareça a próxima cena realmente divertida. O problema é que entre o que é excelente e o que não resulta de todo não há nada pelo meio. O que quanto a mim encalha todo o ritmo dos filmes de Stephen Chow; isto porque estamos divertidamente a acompanhar o desenvolvimento de uma história ou a acompanhar uma sequência de acção para depois o filme logo a seguir parar por completo e lá temos que levar novamente com mais uns intermináveis minutos de “diálogos humorísticos” entre -personagens-tipo- que no estilo Stephen Chow são sempre o mesmo personagem em jeito slapstick-comedy.

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Aliás muita da nossa iluminada crítica ocidental gosta de comparar Stephen Chow a Chaplin ou a Buster Keaton pela sua comédia física e nesse aspecto não penso que a comparação seja por aí além exagerada, pois este realizador é realmente muito bom e inovador no que toca à parte fisíca dos seus filmes. O problema está na quebra de ritmo e no fraco desenvolvimento da maioria dos personagens das suas histórias,. Os personagens estão normalmente nos seus filmes ou para serem estúpidos ou para serem estúpidos e levar porrada. E esta fórmula é sempre a mesma. Viram [“Journey to the West: Conquering the demons”], já viram todos os filmes de Chow, porque são todos iguais.

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Há anos atrás quando comecei a ver cinema oriental, atraído pelas críticas brutais que consideravam “Kung-Fu Hussle (Kung-Fu-Zão em Portugal)” uma comédia de génio, lá comprei o dvd sem ver o filme primeiro e foi o meu primeiro choque com o cinema de Stephen Chow. Tal como agora em [“Journey to the West: Conquering the demons”] e também nos seus outros filmes, também “Kung-Fu-Hussle” sofre mesmo problema; cenas de acção em total modo histérico num estilo cartoon da Warner Bros mas envolvendo personagens com que não nos importamos de todo, o que logo torna todas as cenas de acção um vazio absoluto e as faz ficar cada vez mais chatas; especialmente se como é habitual no cinema de Chow estas se alongam por demasiado tempo sempre a mostrar o mesmo; ou pior, o mesmo tipo de “piada” (que chega a repetir-se em todos os filmes por exemplo).

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[“Journey to the West: Conquering the demons”] é o primeiro filme em que Chow apenas está atrás da cameras. Normalmente ele realiza e interpreta sempre o personagem principal. Desta vez apenas realiza.
Apesar de ser mais um Stephen Chow, desta vez achei bastante piada ao conjunto geral e não fosse apenas ter voltado aos mesmos encalhes de sempre, este seria um título que eu recomendaria vivamente, até como filme de fantasia.

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O ambiente visual como sempre é excelente, os cenários são muito elaborados e desta vez há uma boa variedade de locais nesta aventura de fantasia.
A história tem também algumas cenas de acção fantásticamente divertidas, com destaque para a cena do combate contra o monstro marinho ao início que para mim deveria ter sido colocada no final da história pois é definitivamente a melhor parte do filme todo em termos de suspense e aventura; com muita comédia física plenamente conseguida à mistura.

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O monstro marinho do ínicio deve ser também o melhor demónio aquático de todos os tempos e toda a sequência é totalmente cativante.
Pena é que depois o filme entre pelo modo do costume e lá temos que levar com algum humor “histérico” ou então as cenas de desenvolvimento de personagens não resultam porque parecem pertencer a um outro tipo de filme.

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Depois de uma cena de acção novamente algo longa e repetitiva com muito “humor” forçado à mistura, [“Journey to the West: Conquering the demons”] mais ou menos pelo meio parece que finalmente vai se tornar num filme fantástico; (até eu me preparava para lhe dar uma grande nota); isto porque a meio da história ficamos a conhecer um novo grupo de herois absolutamente perfeito. É nesta parte que o filme acerta em cheio nos gags e há um par de piadas com sangue absolutamente clássicas.

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Aparecem novos personagens e cada um é melhor que o outro, com destaque para o caçador de demónios ultra-convencido que tem dos melhores diálogos da aventura quando entra em choque com as suas empregadas que o transportam por todo o lado por exemplo.
Depois, toda a aventura entra por uma espécie de registo steampunk quando a acção envolve a carruagem do bando de herois e ficamos com a sensação de que [“Journey to the West: Conquering the demons”] depois daquilo não pode falhar.
Mas falha.

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Falha porque mais uma vez, depois de nos dar momentos verdadeiramente cativantes, hilariantes e emocionantes, depois ignora tudo o que construiu na última meia hora de filme. Alguns personagens que conhecemos anteriormente  são simplesmente abandonados não servindo para nada ,(o do gag do sangue poderia ter sido genial); outros são apenas usados como bonecos ao estilo Power Rangers para a cena de acção final no combate contra o Monkey King.

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A última meia hora não só não tem graça, como não tem qualquer interesse. A parte com o Monkey King na montanha é um vazio interminável com cenas de “diálogo humorístico” que nunca mais acabam (e um número de dança) tudo filmado num pequeno set sem qualquer piada durante demasiado tempo. Prevísivel, arrastado e chato.
Depois a batalha contra o Monkey King também não tem piada pois já vimos aquilo antes e não há qualquer tensão. Para agravar ainda mais as coisas, esta versão do Monkey King ainda conseguiu ser mais irritante que a versão do filme “The Monkey King” de 2014 , o que é obra !!

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Salva-se o final da história que entra pela parte clássica onde Buda ordena ao Rei Macaco que siga o monge na sua demanda em busca dos manuscritos sagrados do Budismo e que liga [“Journey to the West: Conquering the demons”] a todas as outras adaptações deste texto.
[“Journey to the West: Conquering the demons”] é claramente um filme de temática Budista como não podia deixar de ser. Se calhar não se nota á primeira vista, mas é quase um filme de propaganda para essa filosofia como são muitas das aventuras saidas do -Journey to the West- pois afinal estamos a falar de um texto clássico de cariz filosófico e muito religioso.

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Se isto fosse um filme ocidental seria algo muito assente na Bíblia, um pouco à semelhança do que os filmes de Narnia são no que toca a referências cristãs por demais ao longo de todas as histórias. Os filmes -Journey to the West- são o seu equivalente dentro da fantasia oriental.
Deste vez acompanhamos o desgraçado monge despenteado que aspira a encontrar a –Iluminação- para entrar em comunhão com Buda mas acha que o seu caminho é através da caça aos demónios. Apesar de não ter grande talento para caçador de demónios acaba por encontrar pelo caminho mais colegas do ramo a quem se junta e de demónio em demónio irá chegar até Buda conhecendo o amor pelo caminho quando encontra  a divertida caçadora de demónios que em estilo maria-rapaz também não tem muito jeito para ser feminina.

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E porque isto já vai longo, como filme de fantasia em tom humorístico vale a pena ser visto. Tem muitos problemas de estrutura narrativa como de costume no cinema deste realizador, mas também tem muita coisa boa. Portanto se procuram uma aventura de fantasia ligeira com alguns gags geniais pelo meio e o melhor monstro marinho de sempre este título é um filme a ver concerteza.

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CLASSIFICAÇÃO:

Na verdade [“Journey to the West: Conquering the demons”] não é um mau filme. Se não sofresse dos mesmos problemas que todos os filmes de Stephen Chow sofrem poderia ter sido tão bom quanto “Monkey King 2” e seria a alternativa humorística perfeita a uma versão série de -Journey to the West-; o problema é que continua a sofrer dos tiques do costume no cinema deste realizador.

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Se conseguirem passar para lá desses pormenores, este é um filme de fantasia que vale a pena ver. As partes divertidas são excelentes e só é pena o filme não manter sempre o mesmo tom.
Três tigelas e meia de noodles. Muito bom, mas é uma espécie de grande comédia falhada que fica a meio termo de todo o potencial que tinha.

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A favor: boas cenas de acção em estilo cartoon, o melhor monstro do lago de todos os tempos, o início é muito divertido, contém alguns gags hilariantes, tem um par de personagens muito bons, bom design e bons efeitos especiais de uma forma geral.
Contra: ou tem momentos muito divertidos ou tem monentos muito aborrecidos, desperdiça por completo quase todos os personagens, tem cenas demasiado longas, tem momentos “musicais” ridículos, a parte com o Monkey King na montanha é uma seca sem graça nenhuma, a última meia hora é um desperdício pois nem tem piada nem tem interesse ou qualquer suspanse.

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TRAILER

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt2017561

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A Chinese Tall Story capinha_Themonkeyking capinha_the monkey king 2

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Quan qiu re lian (Love in Space) Tony Chan – Wing Shya (2011) China


Vi [“Love in Space”] quando saiu há um par de anos e apesar de ter sido o filme que me fez ter vontade de voltar a escrever para este blog na altura, lembro-me que apesar de ter gostado do que vi não lhe ia atribuir a nota excelente que desde já posso dizer que lhe vou dar agora.
A procura por filmes românticos orientais continua em alta neste blog como habitualmente e como há pelo menos quase três anos não recomendo por aqui um titulo do género achei que deveria voltar a este tipo de histórias com algo realmente especial e portanto na minha opinião [“Love in Space”] é a história de amor perfeita para lhes recomendar agora nesta nova fase do blog.

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Curiosamente aconteceu com este titulo o mesmo que me aconteceu com “Natural City”. Ou seja, da primeira vez que o vi, gostei mas achava que lhe faltava qualquer coisa para ser especial. O problema é que o raio do filme insistia em não me sair da cabeça ao mesmo tempo que me esquecia facilmente do que tinha visto de cada vez que o revia. E de cada vez que o revia ficava a gostar mais do filme e na verdade não tenho qualquer explicação lógica para isso.

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Se calhar é porque [“Love in Space”] é uma verdadeira manta de retalhos de pormenores com histórias entrecruzadas e a própria estrutura faz com que nos esqueçamos facilmente do que vemos semanas depois. Por outro lado não é tão complicado assim mas há aqui qualquer coisa de mágico neste pequena grande produção Chinesa…que sabe-se lá porquê durante este tempo todo eu tinha na ideia que era Sul Coreana…
Talvez porque o estilo de filme que encontramos aqui normalmente tem mais a ver com o cinema romântico Sul Coreano do que com o cinema chinês.

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[“Love in Space”] é um daqueles filmes verdadeiramente felizes. Não só porque resulta, mas porque é realmente um filme com um tom feliz fantástico e que se recomenda como cura para qualquer dia mais sombrio que vocês possam ter, pois é uma daquelas histórias que pode combater momentos de depressão apenas pelo seu visual e colocar um sorriso nos lábios do espectador quando acaba.

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Como comédia, se calhar nem tem momentos particularmente hilariantes, mas tem inúmeras sequências totalmente divertidas e tem o condão de numa única história conseguir equilibrar quatro tipos de clichés românticos que se cruzam e descruzam em personagens e situações paralelas que o espectador acompanha com imenso prazer sem conseguir encontrar um segmento preferido.

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Desde a pura comédia alucinada ao melhor estilo Sul Coreano que raramente se encontra no cinema romântico Chinês que costuma ser bem mais sério e até melancólico e sombrio até á aventura de ficção-científica numa versão quase cartoon e em conceito divertidamente percursora do filme “Gravity”, nada falta em [“Love in Space”] para divertir o espectador.

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Na primeira história a mais velha de três irmãs (astronauta) encontra-se numa estação orbital e tem o azar de ter como único colega de missão o seu ex-namorado o que leva a discussões sucessivas e gags non-stop em gravidade zero que são dos momentos mais espectaculares do filme pois os efeitos especiais em [“Love in Space”] são absolutamente perfeitos e nada ficam a dever ao melhor que se faz em Hollywood.
As cenas em gravidade zero são fantásticas e totalmente realísticas aproveitando certamente muito bem a experiência dos chineses a trabalharem com arames de suspensão.
Podem também contar com sucessivas referências a 2001 Odisseia no Espaço claro está, tudo em modo muito divertido e cheio de ambiente.

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A segunda história tem como protagonistas a irmã do meio que é totalmente germofóbica passando a vida a limpar tudo até á exaustão por causa dos virús que pode apanhar e que um dia conhece um rapaz que trabalha na recolha de lixo. A partir daqui já estão a ver o que se sucede com estes dois personagens; que na minha opinião têm uma das melhores químicas românticas dos últimos tempos neste tipo de cinema e protagonizam alguns dos momentos mais divertidos do filme também. Com especial destaque para a sequência em que os dois se vestem de cupido para tentarem ganhar um passatempo num programa de rádio. Ele com asas feitas de cartão retirado do lixo e ela com asas feitas de luvas médicas á prova de germes.

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A terceira história tem a ver com a irmã mais nova que é uma espécie de mega-estrela do cinema chinês mas que nem mesmo assim se livrou de receber o prémio para a pior actriz do ano. Para combater isso, resolve preparar-se muito bem para o próximo filme onde iria fazer de criada e portanto procura arranjar um emprego num café para tentar experenciar uma vivência real. Claro que por lá encontra um rapaz por quem se apaixona e por isso vocês já estão a ver o resto, até porque a rapariga está proíbida pelo agente de se envolver românticamente com quem quer que seja. Etc, etc, etc…
Este segmento é o mais tradicional de todas as pequenas histórias de amor, é o mais “sério” (mas não esperem um drama) e é aquele que mais se assemelha ao tipo de cinema romântico que vemos sair da Coreia do Sul e até do Japão.

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A quarta história envolve a mãe das três raparigas, viuva e cujo o cunhado a ama em segredo desde que esta, décadas atrás casou com o irmão deste, tendo o tio ficado solteiro para sempre por não ter tido coragem de se declarar quando eram novos.
Esta ao início parece ser o ponto fraco das histórias, mas garanto-vos que chegarão ao final do filme cativados por estes personagens mais maduros e que no fundo acabam por centralizar todo o enredo.

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Portanto muitos de vocês já estarão a dizer aí desse lado que já vimos isto mil vezes e portanto qual é a piada deste filme ? Bem, [“Love in Space”] para além do ambiente feliz que transmite é um daqueles filmes que está cheio de pormenores e muitos vocês só irão notar a uma segunda ou terceira visão tal como aconteceu comigo. É uma verdadeira tapeçaria de pequenos momentos que encaixam perfeitamente uns nos outros, com um ritmo fantástico e um timing para a comédia perfeito. Nunca tenta ser um filme daqueles para nos fazer apenas rir e consegue equilibrar tudo com personagens excelentes de que ficamos a gostar e temos pena de abandonar na cena final.

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Visualmente é absolutamente perfeito. O design gráfico e conceptual deste filme deve ser do melhor que me lembro de ter visto num produto do género, talvez desde o fabuloso (mas intensamente dramático) “Koizora – Sky of Love”. As cores em [“Love in Space”] estão cuidadas ao pormenor e nada é deixado ao acaso para criar a atmosfera certa para cada segmento que se torna visualmente único dentro de um filme que poderia facilmente ter descambado numa confusão visual demasiado abstracta mas tal nunca acontece.

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As cenas no espaço são fabulosas, o design e a iluminação nas sequências dentro da estação espacial são realmente do melhor e quase do outro mundo mesmo, tudo complementado por um cenário tecnológico perfeito e onde depois a própria banda sonora se encarrega de criar o resto da magia.
Antes que me esqueça, o uso da música neste filme é quase um personagem á parte, por isso recomendo vivamente que o vejam com a melhor qualidade audio possível pois [“Love in Space”] depende muito da música para nos remeter para o seu universo único.

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As histórias são simultâneamente passadas no espaço, na China e na Australia e cada segmento tem o seu tratamento visual próprio. As cenas na Austrália com o par romântico mais alucinado criam uma versão da realidade urbana deliciosamente simpática e cheia de momentos mágicos, (onde nem falta uma referência a “Manhatan” Woody Allen com a inevitável ponte em plano de fundo e os amantes no banco de jardim. As cenas na China são as mais nocturnas e talvez as mais encantadas até porque têm por base a ilusão do cinema na história de amor dos personagens e mais uma vez o uso da banda sonora é fundamental para criar uma envolvência com o espectador.

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Mas o que este filme tem é COR ! Há muito tempo que não via algo com uma paleta de cores tão bem explorada e esse detalhe é também aquilo que mais contribui para o ambiente ligeiro e descontraído destas histórias. [“Love in Space”] é um filme absolutamente luminoso em muitos sentidos.
Não será propriamente original nas suas histórias de amor, mas que raio, clichés há em todo o lado. O que seria do cinema de terror sem os tiques habituais que já vimos mil vezes mas que resultam sempre se forem bem geridos ? Porque haveria de ser problemático no cinema romântico ?…

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Também aqui agora neste tipo de histórias de amor totalmente fofinhas, o cerne da questão não está na ideia, mas sim na sua execução e na minha opinião [“Love in Space”] faz tudo muito bem e destaca-se por ser um produto único acima de tudo pela sua identidade visual mas também porque como romance consegue colocar quatro no écran quatro histórias e em todas elas o espectador ganha empatia com os personagens.

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Ainda por cima mesmo com todos os clichés consegue até ter algum suspanse, sabe-se lá como. Portanto na minha opinião este é um dos produtos românticos mais bem cozinhados dos últimos anos e um filme obrigatório para quem procura cinema oriental do género.
Ainda por cima não tenta ser mais do que é. Não se leva mais a sério do que deveria, não entra em dramatismos de pacotiha excessivos e nem precisa de nos atirar com a habitual tragédia/desgraça com uma doença qualquer  sempre tão popular no cinema romântico oriental para nos conseguir emocionar.

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Está tudo na forma como [“Love in Space”] sabe criar empatia com o espectador e posso garantir-vos que usam todos os truques e mais alguns de uma forma fantásticamente bem orquestrada que resulta em pleno para quem quiser deixar o cérebro á porta e simplesmente se divertirem com o tipo de histórias que já vimos mil vezes mas que se calhar nunca viram apresentada de uma forma tão feliz e colorida como nesta produção chinesa onde toda a gente está de parabéns.

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Quanto a coisas “negativas”…se vocês não podem com aquele estilo ultra-fofinho oriental, se calhar é melhor passarem á frente pois este filme é cute ao máximo.
Também houve alguém na net que disse que o filme não presta porque os astronautas não se comportam como astronautas reais e as cenas no espaço não são científicamente credíveis…what ?!! Eu nunca pensei que [“Love in Space”] pretendesse ser o 2001 Odisseia no Espaço. Isto não é suposto sequer ser um filme de ficção-científica julgo eu e como tal, deixem o cérebro á porta e divirtam-se pois se gostam de cinema romântico oriental , este é um daqueles que não devem perder de todo.

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E sendo assim vamos lá então passar ao que interessa.

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CLASSIFICAÇÃO

Uma das melhores comédias românticas que vi em anos recentes e um daqueles filmes que ganha a cada nova visão.
Portanto se não se assustarem com a falta de originalidade nas histórias de amor e não se importarem com a overdose cute presente em cada frame, têm aqui em [“Love in Space”] um produto muito simpático e acima de tudo um filme feliz totalmente coerente e que nunca se torna estúpido, forçado ou ridículo pois sabe equilibrar de forma perfeita o que tem para oferecer e mesmo apesar de ter sido realizado por duas pessoas e ser uma manta de retalhos com várias histórias por todo o lado o espectador nunca sente que está a ver um filme fragmentado.
Portanto e para evitar que eu mais tarde volte aqui para repensar novamente a minha classificação [“Love in Space”] leva logo cinco tigelas de noodles e um Golden Award pois de cada vez que revejo isto mais gosto dele, porque deixa-me sempre muito bem disposto e com vontade de criar coisas.

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A favor: O ambiente feliz, o design e iluminação de todas as cenas, a coerência entre todas as histórias mesmo sendo tudo tão dividido e aparentemente isolado, está cheio de gags divertidos e variados por todo o lado, a realização, a forma como a música é usada para nos fazer criar empatia com os personagens, os efeitos especiais são fabulosos, consegue apesar de tudo ter suspanse em alguns momentos mesmo quando já vimos o filme (?) várias vezes, a realização é excelente, a química entre todos os casais é simplesmente perfeita.

Contra: O trailer é fraquinho pois não consegue transmitir a verdadeira atmosfera das histórias por detrás do ambiente caótico de cartoon, é o tipo de filme que aquele pessoal que odeia atmosferas cute e fofinhas ao estilo oriental vai odiar de morte. I love it !

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NOTAS ADICIONAIS:

Comprar
Outro daqueles filme muito difíceis de encontrar em Dvd e estranhamente ainda mais complicado de o encontrar em Blu-Ray e não se entende porquê pois o visual deste filme está mesmo a pedir um tratamento de 1080P no máximo dos máximos.
Encontra-se em dvd na minha loja chinesa favorita, mas não faço ideia da qualidade da edição.
http://www.play-asia.com/love-in-space-paOS-13-49-en-70-4hn5.html

capa

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=iJQCmZRjZTQ

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt1856038

Imagens da rodagem.

Behind the scenes

Behind the scenes2

Behind the scenes3

Não vou colocar nenhum link para download pois estes nunca tardam em desaparecer e não pretendo deixar que o blog se inunde de broken links como já tenho muitos por aqui. De qualquer forma é só procurarem o filme em Torrents que o encontram facilmente. ;)

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Filmes semelhantes de que poderá gostar:

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Bang-kwa-hoo ok-sang (See you after school) Seok-hoon Lee (2006) Coreia do Sul


Consta no Imdb que este [“See you after school“] será um plágio não assumido de uma obscura comédia adolescente americana de 1987 (que nem eu conhecia e pensava que tinha visto todas na altura).
Cópia descarada, ou simplesmente muito inspirada, a verdade é que o raio do filme resulta. E bem.

Não vi – o original (ainda) – mas tendo em conta que ambos os filmes parecem ter a mesma história, a verdade é que a ideia para este argumento é tão boa e original que nunca poderia falhar fosse em que versão fosse por isso bem-vindos a [“See you after school“], versão oriental.
Uma comédia adolescente bem mais original do que parece á primeira vista.

Pelo trailer pareceu-me logo que o filme seria divertido, mas também não esperava grande imaginação para além daquilo que se vê na típica comédia tresloucada em estilo cartoon humano tão popular no cinema Sul Coreano.
No entanto [“See you after school“] é um daqueles filmes que funciona num eterno equílibrio entre a comédia histérica sem graça nenhuma, o filme para adolescentes imbecis e a comédia inteligente sem pretenções mas com gags tão inesperados quanto hilariantes.

Ha filmes em que o realizador parece estar mais interessado em exibir-se em todos os frames do que em contar uma história, (“Daisy“); há outros onde o realizador nem se nota mas tudo é tão cativante que nem damos por isso (“Bedevilled“) até pensarmos no assunto. Mas depois existem filmes que equilibram muito bem ambos os estilos e principalmente dependem desse equilibrio não só para criar uma identidade para a história como principalmente para fazer com que os gags humoristicos resultem no caso da comédia.

Quero dizer com isto que [“See you after school“] grande parte das vezes tem piada não pelos gags em si, mas porque estes aparecem filmados das maneiras mais inesperadas. Ou seja , o filme pode estar a decorrer da forma mais clássica no que toca á própria maneira de ser filmado e de repente cai-nos com uma piada totalmente inesperada em cima. E esta resulta não por ter graça no papel, mas por causa da forma como é filmada e montada na própria estrutura do filme.
Isto é dificil de explicar o que eu quero dizer, mas quando virem este título vão perceber.
Uma das grandes mais valias de [“See you after school“] é estar cheio de piadas que no papel não teriam graça nenhuma, até pela sua previsibilidade mas que resultam plenamente pelo menos umas 80% das vezes pela forma como o realizador as filma e as insere na própria montagem do filme.

O resultado disto é uma comédia caótica, daquelas em que temos mesmo de continuar a ver, porque apesar de já sabermos o que vai acontecer a seguir na história, há sempre algo hilariante ao redor da esquina que nos atinje como um tijolo humoristico quando menos esperamos nos momentos mais inesperados da história.

Outra coisa boa, é que apesar de [“See you after school“] ser um filme para rir, consegue no entanto inserir alguns momentos dramáticos que resultam plenamente e não parecem deslocados de todo apesar de previsíveis. Isto porque outra das coisas muito boas nesta história é a capacidade para nos fazer gostar dos personagens. Até daqueles que supostamente são os vilões da história.

[“See you after school“] usa muito bem o humor para humanizar cada personagem e depois nas alturas certas do filme usa essa humanização para falar a sério do tema principal do filme; o – bullying– escolar, particularmente da vertente oriental desse problema ainda tão menosprezado por muita gente.
Fico sempre com a ideia de que este tipo de situações lá pelo oriente será bem pior do que por cá; pelo menos é essa a imagem que o cinema particularmente Coreia do Sul costuma passar quando usa o ambiente liceal nas suas histórias onde o próprio conceito de castigo físico parece ainda estar bem entranhado na cultura escolar do país.

De qualquer forma, [“See you after school“] é uma comédia que resulta a vários níveis. Os gags são divertidos na sua maioria, (tirando as habituais piadas orientais com adolescentes e caca…sabe-se lá porquê parecem ser do agrado popular por aquelas bandas), os pequenos momentos dramáticos estão bem inseridos e muito bem construidos com base nos personagens mas acima de tudo o conceito da história é tão genial quanto parece simples e banal a uma primeira leitura.
Senão vejamos…

O argumento narra a história de um desgraçado que passou toda a vida a ser espancado e vilipendiado pelos colegas em todas as escolas porque passou desde criança. Não tem amigos, nunca teve amigos e toda a sua vida serviu apenas para savo de pancada e objecto de humilhação por toda a gente á sua volta.
Isto num filme de porrada seria um bom começo para depois este gajo pegar numa caçadeira e limpar o sebo a metade do liceu, mas aqui em [“See you after school“] o nosso heroi decide começar por servir de cobaia num laboratório de experiências científicas para tentar perceber porque sempre atraiu tão má sorte o tempo todo.

Depois de um par de gags hilariantes onde tudo lhe corre mal,  o rapaz decide voltar ao liceu para o semestre seguinte desta vez munido com alguma auto-confiança que os cientístas lhe atribuiram.
Claro que o regresso á escola é tudo menos perfeito e numa sucessão de acontecimentos de ver para crer uns atrás dos outros, logo no primeiro dia ao tentar impressionar a miuda gira da turma o nosso heroi acaba sem querer  por se cruzar com o mauzão da escola , mais o seu temido gang de arruaceiros que aterrorizam tudo e todos o tempo todo.
Sem puder escapar um duelo é combinado para depois das aulas onde o jovem heroi já se vê todo partido e sem qualquer hipótese de escapar, pois desistir por desistir seria desiludir a miuda pela qual se apaixonou.

Só lhe resta uma hipótese. Arranjar uma boa desculpa para não comparecer para o duelo no telhado ao fim do dia. Mas o pior é que terá que ser uma boa desculpa mesmo e é aqui que o argumento do filme brilha, pois toda a estrutura de [“See you after school“] é construída com base nos planos falhados do jovem geek para se escapar da pancadaria por cima.
Graças a este conceito simples temos direito a acompanhar os planos mais inacreditáveis que falham pelos motivos mais inesperados e divertidos.

Principalmente porque entretanto a atitude do pobre coitado, acabou sendo admirada por todos os outros alunos espancados, nerds, cromos e geeks da escola e são eles que na sombra se esforçam ingenuamente por contribuir também para que todos os planos de fuga do nosso heroi falhem redondamente das maneiras mais hilariantes pois acreditam que ele é uma espécie de Messias dos cromos oprimidos que dará uma lição aos gajos que sempre os maltrataram.
E é neste simples conceito que está a grande mais valia do argumento.

Os mais velhinhos aqui dos leitores, deverão lembrar-se da série “Parker Lewis can´t loose“.
[“See you after school“] é bastante semelhante, tanto em estilo visual como no tipo de situações, só que em modo ainda mais exagerado com efeitos quase sempre muito divertidos ou cativantes até ao segundo final, (a propósito, não percam os créditos no fim).
De resto o filme conta com tudo aquilo que se costuma encontrar num filme para adolescentes, embora surpreendentemente ou talvez não não tenha muito humor sexual mais ousado; embora as sequências com os sonhos eróticos diurnos do heroi sejam bem divertidas.

Essencialmente gostei muito deste filme.
Não é uma obra prima da comédia mas enquanto dura é um filme que os irá divertir mesmo muito se entrarem no espírito da coisa. Até mesmo quem não costuma curtir estas comédias parvas histéricas sul coreanas é capaz de se deixar levar por esta história onde o inesperado acontece a todo o instante e onde podemos contar também com bons personagens e boas interpretações, com destaque para o actor principal que é absolutamente genial e a total alma do filme.

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CLASSIFICAÇÃO:

Boa comédia tresloucada ao melhor estilo sul coreano onde tudo funciona perfeitamente para nos divertir enquanto dura.
Bons personagens, situações geniais, boa realização e um protagonista fantástico que sofre as maiores desgraças ao longo da história para nosso divertimento.
Não será uma obra prima e se calhar poderia ter ido mais longe, pois sente-se que apesar de tudo é um filme que tenta não deixar de ser politicamente correcto e como tal senti que muitos gags poderiam ter funcionado ainda melhor não fosse uma certa auto-censura subliminar que se sente a todo o instante. Mas não deixa de ser uma excelente comédia comercial para toda a família com muitos gags hilariantes e uma estrutura baseada num argumento bem mais genial do que se calhar parece á primeira vista por o conceito parecer tão simples.
Se querem uma comédia imaginativa não hesitem.
Quatro tigelas de noodles porque é mesmo muito bom e mais nada.

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A favor: a originalidade da estrutura da história, o conceito simples mas cheio de potencial razoavelmente bem explorado, contém mais que um par de gags absolutamente hilariantes, os personagens são bem desenvolvidos e a interpretação do actor principal é genial, boa realização e excelente equilibrio narrativo entre um estilo histérico e um tom sóbrio e mais tradicional.
Contra: poderia ter sido mais politicamente incorrecto talvez, é outra comédia sul coreana contendo piadas á volta de merda o que me irrita por demais.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=jhb87QWGoIQ

Comprar – baratinho na Play Asia
http://www.play-asia.com/paOS-13-71-7h-49-en-70-2iw0.html

Download com legendas em inglés…ou ingrés

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0907840

Ps: Espreitem este trailer também. Na verdade parece mesmo que See You After School será no mínimo inspirado no “original” americano; o que não deixa de ser algo curioso pois normalmente acontece o contrário…

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My Sassy Girl

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“Engrish.com” – O Website


Se calhar muita gente não conhece mas existe um website hilariante cheio de exemplos geniais no que toca á utilização da lingua inglesa por orientais; que como devem saber cultivam a sua própria forma de falar inglés…mais conhecida por “engrish” e que inclusivamente foi usada por Takeshi Miike no seu (falhado) “Sukyiaki Western Django” com resultados geniais.
De qualquer forma recomendo vivamente o site “Engrish” original pois está cheio de exemplos absolutamente hilariantes como podem ver pelo cartaz abaixo encontrado numa propriedade na Tailândia.

Querem mais ? Visitem o site Engrish.com e não se irão arrepender.
Ps: eu também odeio-vos a todos.

 


Koroshiya 1 (Ichi the Killer) Takashi Miike (2001) Japão


Fartei-me de rir com este filme o que só demonstra o quanto eu devo ter um grave problema mental.
Por outro lado, não deve ser tão grave quanto o do realizador Takashi Miike pois quem cria uma coisa destas terá certamente um ou dois probleminhas por resolver…
Bem-vindos a [“Ichi the Killer“] provávelmente o filme mais inclassificável de todos que referi até agora neste blog.

É tão inclassificável que a minha própria classificação não tem lógica nenhuma.
Como podem ver atribuí-lhe “apenas” quatro tigelas de noodles apesar de eu continuar a achar que isto deverá ser uma verdadeira prima de…qualquer coisa e um dos melhores filmes de Takashi Miike. Isto para não dizer que será possivelmente um dos filmes mais violentamente doentios de todos os tempos mas também um dos mais nojentamente hilariantes que alguém já teve a lata de filmar.

[“Ichi the Killer“]  é daqueles que não conseguimos tirar os olhos do ecran porque além de estarmos horrorizados, não acreditamos no que estamos a ver e é tão extremo que se torna totalmente cartoonesco, pois o horror e o nojo chegam a tais extremos que a partir de certa altura só conseguimos desatar a rir.
Atinge uma fronteira de mau gosto tal que subitamente o filme ganha contornos de animação do Road-Runner-vs-BiBip.

Tinha comprado o dvd disto há anos em promoção na FNAC (edição Pt) e foi mais outro daqueles que estava na minha prateleira a ganhar pó á espera de oportunidade para ser visto; o que é o mesmo que dizer que estava á espera que eu estivesse com disposição para ver gente cortada aos bocados em ambiente extremo.
Apesar de eu nem sequer me impressionar particularmente com filmes gore, ser grande fã do “Evil Dead” e ter até achado bastante piada ao “Hostel” entre outros títulos do género, a fama de [“Ichi the Killer“] intimidava-me. Além disso, também é um filme sobre máfias e Yakuzas e portanto a temática também não me dizia grande coisa pois não acho grande piada a filmes de gangsters e portanto nunca me tinha apetecido ver o dvd até há um par de dias atrás.

Como tinha acabado de ver o fabuloso e ultra fofinho “Sky of Love”, achei que o contraste perfeito seria espreitar agora [“Ichi the Killer“] pois gosto de espreitar títulos diferentes, até para poder manter por aqui alguma variedade de recomendações, mas nada me preparava para isto.
Para começar, estava á espera de encontrar muito sangue…mas não desta maneira completamente indiscritível. Também estava á espera de me aborrecer de morte com outra história sobre Yakuzas, patrões do crime e guerras entre gangs e acabei por me fartar de rir com as suas aventuras.
Se bem que “aventuras” não será propriamente o termo correcto por aqui, mas de uma certa maneira designa perfeitamente o sentido de humor em que se movem todos estes personagens que têm tanto de repugnante como de fascinante e hilariante.

[“Ichi the Killer“] tem tanto sangue, tanta tripa, tanta viscera, tanta violência gratuita e acima de tudo tanta, mas tanta tortura inacreditável que rebenta a escala daquilo que seria o mau gosto e passa automáticamente para um universo cartoon. Ou melhor…[“Ichi the Killer“] é o melhor equivalente ao Happy Tree Friends que poderão alguma vez encontrar numa versão cinematográfica.

É doentio como o raio, tem cenas de tortura que fariam os censores americanos se agarrarem ás Biblias para excomungar Takashi Miike da face da terra se pudessem e este meus amigos, posso garantir-vos que não irá ter um remake americano, pois até qualquer “Saw” é um filme verdadeiramente ingénuo e infantil ao pé disto.
Embora “Hostel” tenha andado lá perto, (inclusivamente conta com o próprio Takashi Miike como actor na pele de um sádico), não deixou de ter aquele ambiente americano de Hollywood e como tal há sempre um distanciamento entre o espectador e o filme.
Desafio alguém a ver [“Ichi the Killer“] e a lembrar-se que apenas está a ver efeitos especiais ! Brrrr !

[“Ichi the Killer“] não só é sangrento e visceral como raio, mas acima de tudo é extraordináriamente politicamente incorrecto, especialmente no que toca a cenas relativas a maus tratos a mulheres. Tem duas cenas de espancamento e tortura de prostitutas que se calhar se vocês forem mulheres…é melhor não verem este filme, pois isto é mesmo muito doentio. Desde mamilos arrancados com ganchos a mamas cortadas com facas, violações, espancamentos sem sentido, tudo é usado neste filme para ainda chocar mais o espectador.
No entanto, se conseguirem aguentar, o final de tanta violência é sempre tão cartoon que de repente tudo parece deixar de ser tão horrorizante assim e como já disse, isto é mesmo o melhor equivalente ao Happy Tree Friendsque poderão encontrar pela frente.

[“Ichi the Killer“] consegue usar a violência e a tortura para definir os próprios personagens, mostrar o seu estado de espirito e delinear personalidades. Conta com inúmeros personagens mas todos eles muito bem definidos e com o seu momento para brilhar. Seja a torturar alguém ou a ser torturado, cortado aos bocados, violado, espancado, decapitado, sangrado até á morte ou até mesmo colocado dentro de um televisor e espetado com agulhas de crochet ?)…

Parece que isto é já a segunda adaptação de um Manga de culto para cinema e embora da primeira ninguém tenha ouvido falar particularmente, seria impossivel [“Ichi the Killer“] ter passado despercebido nesta nova aventura. Eu imagino os protestos que isto deve ter gerado e o horror e indignação que deve ter causado por esse mundo fora. Especialmente nos Estados Unidos deve ter sido lindo !
Este é o tipo de filme que o Borat devia ter levado para projectar no meio de uma assembleia evangélica americana algures lá no Montana ou algo assim. Eu pagava para ver.

[“Ichi the Killer“] conta a típica história de rivalidades entre gangs de Yakuzas, só que vocês nunca viram vinganças como as que estão neste filme, isso garanto-vos. Essencialmente o chefe de um dos bandos desapareceu com uma pipa de massa e então o tipo mais sádico do gang começa a torturar tudo e todos na busca dessa pessoa ou de quem lhe terá limpado o sebo.

Entretanto, ficamos também a conhecer o Ichi, um tipo simpático, muito boa onda com um grave problema emocional e um sentido erótico algo perigoso que tem a mania de se masturbar enquanto vê prostitutas a serem espancadas ou violadas e tem por hobby cortar pessoas aos bocados com umas lâminas que tem acopladas nos sapatos. Muitas vezes sem querer…mesmo nas cenas de sexo oral…
Como podem ver isto é mesmo para rir, embora não seja propriamente uma comédia familiar. Ou se calhar até é.
Pensando bem…não há ninguém minimamente normal nesta história…

Portanto vejamos…por ordem…mulheres torturadas, masturbação, espancamento de prostitutas, gajos nús pendurados por ganchos a sangrarem no meio de uma sala, auto-mutilação de lingua em grande plano, sado-masoquismo e erotismo quanto baste, decapitações, pessoas cortadas ao meio literalmente de uma ponta a outra, pessoas cortadas ao meio de lado, pessoas cortadas ao meio de outras formas, decapitações, um gajo colocado dentro de uma TV e espetado com agulhas, sexo oral seguido de decapitação, sangue a jorrar da cabeça, sangue a jorrar da barriga, sangue a jorrar do pescoço, pernas decepadas, gajos esmagados, tripas a voar, rostos esfacelados e a escorrerem por paredes a sorrir, criancinhas abusadas, momentos de bullying infantil, violações de adolescentes, atrasados mentais, hipnotismo e um anti-heroi com um grande sorriso á joker.
Não, a sério, [“Ichi the Killer“] tem mesmo partes para rir … a sério. Voltem !!

E já agora…este meu texto é sobre a edição Portuga em DVD que descobri agora para variar está cortada e censurada pois foi baseada na edição internacional com os cortes da BBFC inglesa.
O que quer dizer que se o que eu vi foi uma versão censurada…agora é que tenho mesmo que ver a ver integral pois nem consigo imaginar o que poderá conter de ainda mais chocante !!!

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CLASSIFICAÇÃO:

[“Ichi the Killer“] é uma obra prima de qualquer coisa. Se calhar não se nota pela minha classificação mas isto é mesmo um filme fantástico…apenas me faz alguma confusão atribuir-lhe outra nota qualquer porque ainda nem sei o que pensar sobre tudo isto. De momento só posso dizer que [“Ichi the Killer“] é mesmo muito bom, pois consegue através de cenas de violência extrema construir personagens crediveis dentro do próprio universo da história e isto é mais do que se pode dizer em alguns outros filmes mais ambiciosos.
Se o vosso sentido de humor for suficientemente dark para conseguirem perceber todo o nonsense por detrás disto, vão adorar pois é realmente brilhante e totalmente despropositado. Faz lembrar muitos dos momentos gore presentes nalguns sketches clássicos dos Monty Python mas executados técnicamente de uma forma realística.
Quatro tigelas de noodles por agora, mas certamente irei aumentar isto quando vir a versão completa. Em breve digo aqui mais qualquer coisa.

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A favor: tudo. Acho que este filme não tem qualquer falha naquilo a que se propõe fazer, choca como o raio não só psicológicamente como visualmente, esquecemo-nos que estamos a ver efeitos especiais, tem um sentido de humor genial, parece um desenho animado do Happy Tree Friends“, a realização é excelente e percorre um sem número de estilos visuais ao longo da narrativa, consegue construir uma história interessante recorrendo apenas a cenas ultrajantes e chocantes, o Ichi é um tipo simpático.
Contra: é tão politicamente incorrecto que irá ofender mesmo muita gente que o levar a sério mas se calhar isto é uma virtude, não será propriamente o filme ideal para verem com a namorada…a não ser que sejam sado-masoquistas porque se assim for isto é intensamente romântico pois até cenas de sexo com violência consentida isto tem.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=coiVr5Pl4-s

Comprar
Não sei o que recomende, pois este filme tem tantas versões cortadas em dvd que não faço ideia de qual será a melhor opção. A portuguesa está cortada, mas podem explorar estas edições na Amazon Uk.

Donwload da versão integral não censurada com legendas em Inglés.

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0296042/

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