Rent a Cat (Rentaneko) Naoko Ogigami (2012) Japão


Este [“Rent a Cat”] é mais um daqueles sérios candidatos a “-WTF Movie-” do ano, designação que por si só merece ser um sub-género único dentro do cinema oriental.

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Ou seja, estamos mais uma vez na presença de um daqueles filmes inclassificáveis. Daqueles que só apetece gritar WTF !!!
Na verdade um “-WTF Movie-“ não quer necessáriamente dizer que seja um mau filme.
Por um lado pode ser verdadeiramente atroz como por exemplo, “Visage(provavelmente o pior e mais pretencioso filme (oriental) que alguma vez vi e o único que levou -zero- tigelas de noodles neste blog) que recomendo vivamente que não tentem sequer ver.
Por outro, pode ser uma surpresa agradável como por exemplo “Kamome Diner“, que apesar de ser um verdadeiro título -indie- também com vários momentos -WTF, é no entanto um filme muito simpático, cheio de personalidade, que se vê agradavelmente e fica na memória como algo muito diferente mas com substância. A mesma coisa não se pode dizer de “Visage”...

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Se refiro agora “Kamome Diner“, é porque [“Rent a Cat”] é mais um pequeno filme independente da mesma realizadora, contando inclusivamente com a mesma actriz principal como protagonista, que segundo sei já se tornou uma espécie de musa do cinema independente, pois conta com uma beleza estranha e diferente da que estamos habituados a ver na tradicional história romântica e segundo esses moldes tem-se encaixado bastante bem no outro cinema mais indie, estando a ganhar excelente reputação.

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E sim, [“Rent a Cat”] é outro -WTF Movie- sim senhor, porque eu passei o filme todo a tentar perceber o que estava a ver e a murmurar para mim – wtf ?!
Não que a história seja particularmente dificil de se entender, mas o objectivo do que estava a ver…na verdade deixou-me baralhado por completo.

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Baralhado e aborrecido de morte. Eu não costumo ser daqueles tipos alérgicos a cinema de autor mas há titulos que me custa muito conseguir ver do princípio ao fim e este surpreendentemente foi mais um desses. Curiosamente “Kamome Diner” não foi tão dificil de ver quanto [“Rent a Cat”], pois este agora foi um daqueles raros filmes que eu tive que ver em duas vezes, pois da primeira não consegui passar do meio. Mais por estar irritado do que por aborrecimento. Chegou a uma altura que eu disse, chega desta “#$%& !!!

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Agora, aviso já que esta review vai parecer totalmente esquizofrénica e muito do que eu disser se calhar não irá fazer sentido, mas não se preocupem pois será o exemplo perfeito daquilo que [“Rent a Cat”] é enquanto um daqueles filmes que apanha as pessoas desprevenidas e lhes dá a volta ao cérebro.
O cinema oriental, parece desde há muito ter inventado um novo género, vulgarmente denominado nas reviews por –“dramady”. Ou seja, tanto o Japão como a Coreia do Sul parecem ser prolíferos em produzir um estranho tipo de filme que não se encaixa em género nenhum e anda ali entre a comédia (mas não tem graça) e o drama (mas também não é dramático).

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[“Rent a Cat”] é precisamente um “dramady” absolutamente exemplar. Aliás, enquanto “dramady” é capaz de ser possivelmente um dos melhores saídos do cinema indie japonês nos últimos anos.
Então porque o achei tão difícil de ver ? É simples, o filme irritou-me como o raio !
Aquela personagem principal é de arrancar os cabelos e atirar coisas ao televisor a todo o instante. Porta-se de forma absolutamente incompreensível o tempo todo e ainda por cima tem o hábito de andar a gritar “rentaneko” (alugue um gato) pela cidade com um megafone durante o filme todo de forma absolutamente enervante.

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[“Rent a Cat”] conta a história de uma rapariga de trinta e poucos anos que vive sózinha com dezenas de gatos em luto permanente pela sua avó que morreu há anos e que percorre as margens do rio da cidade com um carrinho cheio de bichanos que tenta alugar às pessoas que passam. Naturalmente é considerada por toda a gente como a louca da cidade mas ela parece nem notar, pois o seu objectivo é nobre.

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Ela pretende alugar um gato a cada pessoa que estiver solitária, pois segundo ela a companhia de um gato é o melhor remédio para a solidão e portanto percorre as ruas tentando mitigar o sofrimento das pessoas com que se cruza, alugando-lhes gatos de companhia.
Vive sózinha, è absolutamente incapaz de se relacionar com as pessoas em redor, mas tem o sonho de um dia se casar e ir passar a lua de mel no Havai e todo o filme gira à volta desta dinâmica sem no entanto se passar nada na história por aí além ou que leve a qualquer resolução final.
Isto é suposto ser a parte dramática.

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A parte “cómica” vem pelo personagem da sua vizinha bisbilhoteira (por qualquer razão um actor em dragg vestido de mulher) e que está sempre a atirar-lhe bocas em como a miuda é uma falhada, feia, banal, etc. Essa é suposto ser a parte para rir, o que me deixa um bocado estupefacto, pois não só a caracterização do personagem é também particularmente irritante como o seu papel se repete constantemente ao longo da história desaparecendo logo a seguir.

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Aliás a repetição é ao mesmo tempo aquilo que torna o filme dificil de se seguir e aquilo que em última análise lhe dá uma identidade muito particular.
Neste campo, destaque para a longa sequência de um sonho, onde a protagonista sonha que vai a uma agência de rent-a-cat para alugar um gato, onde ocorre um longo e pausado diálogo com a empregada que lá trabalha e que nunca viu entrar um cliente na loja antes. Essa sequência é depois repetida ao pormenor minutos depois quando já no mundo real a protagonista descobre que a loja existe mesmo mas em vez se ser uma rent-a-cat é na verdade uma rent-a-car; embora depois toda a sequência que se segue aconteça tal como no ocorreu no sonho, mas onde os diálogos que envolviam gatos, agora são sobre o aluguer de carros. Confusos ? Eu também.

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Na verdade é óbvio que [“Rent a Cat”] pretende ser uma história sobre a solidão nas grandes cidades. Todos os personagens que a rapariga encontra refletem precisamente isso. Desde a velhota que mora sózinha porque o filho já adulto saiu de casa há muito, até ao homem de negócios que vive num apartamento vazio porque o trabalho o obriga a ficar longe da familia passando pela rapariga que trabalha na rent-a-car e nunca viu entrar um cliente na loja, é óbvio que o filme pretende reflectir sobre a solidão de uma forma ligeira e divertida (?).

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A protagonista é a principal metáfora para tudo o que a rodeia, pois ela aluga gatos a pessoas sózinhas quando ela própria vive rodeada de gatos mas nunca consegue encontrar o conforto que ela julga poder dar a quem leva um dos seus gatos para casa.
O problema em [“Rent a Cat”] é que parece que se passa num universo onde só existem pessoas excêntricas e por demais irritantes. Se a intenção foi produzir uma qualquer metáfora visual sobre a alienação da sociedade em geral e coisa e tal, tudo bem, mas… será que não havia maneira de meterem um personagem neste filme que não fosse absolutamente enervante a níveis estratosféricos de ridiculo ?!

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É que a protagonista parece ter consciência de que a sua excentricidade é aquilo que lhe impede de encontrar companhia mas depois em nenhum momento faz qualquer coisa para tentar mudar de vida e ter mais chances de encontrar alguém que lhe mitigue a solidão.
Ainda por cima nem os gatos são particularmente fofinhos (ou têm qualquer destaque) , o que é a pior coisa que poderia acontecer num filme que supostamente é sobre a empatia que podemos criar com um gato.
E eu adoro gatos.

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Em termos de dinâmica, não acontece nada no filme durante duas horas. A história passa episódicamente por vários personagens solitários que alugam um gato, passa pela própria excentricidade da protagonista e quando finalmente até parece que vai conseguir criar alguma empatia com o espectador apresentando algo mais normal como uma possível perspectiva de um relacionamento amoroso entre a protagonista e um velho colega de escola, também esse personagem é tão enervante (e grunho) que percebemos logo que não irá servir para nada na história.

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O que não quer dizer que isto não traga originalidade ao filme. Tal como em “Kamome Diner” da mesma realizadora, também aqui é dificil classificar este filme. Por um lado é irritante como o raio, mesmo concordando que é um estudo sobre a solidão e tem o seu quê de original. Por outro lado, não é um daqueles filmes de autor pretenciosos. Muito pelo contrário, o que só lhe fica bem. Tem até um certo charme que não nos deixa esquecê-lo facilmente.

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Visualmente é muito bonito e incrivelmente detalhado; em particular no que toca aos cenários típicamente japoneses, como o do interior da casa da rapariga, as roupas que enverga e principalmente as cores. Em termos de paleta de cor [“Rent a Cat”] é um espectáculo  se calhar não se nota logo porque estamos a tentar perceber o que raio estamos a ver.
Excelente fotografia, bons actores sem sombra de dúvida e a realização é definitivamente um estilo adquirido que já é uma marca desta realizadora, goste-se ou não do trabalho dela. É um filme eficaz dentro do género e muito bem feito.

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Não é o tom lento que me chateia no filme, mas em última análise os personagens e a sua (falta de) motivação; os diálogos excêntricos e por vezes histéricos durante toda a história quanto a mim separa-nos daquele universo, pois é tão estranho e sem lógica quando comparado com a nossa realidade do dia a dia que quanto a mim é muito dificil criarmos uma verdadeira empatia com o que vemos. Por outro lado, reconheço qual a intenção por detrás desta abordagem, mas sinceramente isso não faz com que o filme seja menos irritante de se ver.
Ao mesmo tempo, é o facto de ser tão irritante, (e deprimente em alguns momentos) que lhe dá uma aura muito especial. Estou baralhado. Gostei e achei o filme insuportável ao mesmo tempo.

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Pode parecer estranho, mas até eu não tenho dúvidas que este vai ser um daqueles títulos que irei começar a gostar bastante dele gradualmente e se calhar daqui a um par de anos refaço a classificação que lhe vou dar agora e dou-lhe mais uns pontos.
É que o raio do filme custou-me mesmo a ver até ao fim, mas o facto é que este não me sai da cabeça há vários dias e deixou-me uma quantidade enorme de imagens (e ambientes) bem marcados no pensamento. Por isso se calhar até gostei mais dele do que admito, para além da profunda irritação que a personagem principal e todos os “malucos” desta história me causaram.

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[“Rent a Cat”] estranhamente, ou talvez não está a tornar-se aos poucos um filme de culto junto de muitas pessoas e curiosamente até está bem cotado no imdb o que não é muito comum com cinema de autor nestes moldes. No entanto a ideia principal de [“Rent a Cat”] parece ter tocado o coração de muita gente que se calhar se identificou com a imagem muito forte que este filme transmite sobre a solidão nas grandes cidades; ao ponto de estarem a começar a surgir pessoas que abriram de verdade um negócio de -alugar gatos- precisamente inspirados pela heroina deste filme. Podem ler sobre um destes exemplos da vida real inspirados por [“Rent a Cat”] se clicarem aqui. E não é único.

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Actualmente podem espreitar [“Rent a Cat”] facilmente no youtube na sua versão integral. Inclusivamente conta com um excelente cópia a 720p, legendada em inglés e portanto só por isto já vale a pena irem ver este filme para me dizerem o que acham e de que forma os atingiu também.

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CLASSIFICAÇÃO:

Tal como em “Kamome Diner” da mesma realizadora, se estiverem á procura de um drama, esqueçam. Se estiverem á procura de uma comédia esqueçam.

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É mais uma vez uma história original com o seu mérito próprio e que pelo que tenho visto pelas reviews espalhadas pela net irá atingir as pessoas de várias maneiras. Pessoalmente achei-o insuportávelmente irritante mas ao mesmo tempo extremamente cativante e um daqueles títulos que ficam no pensamento. Por isso se calhar é bom.
Três tigelas de noodles para já, mas se calhar no futuro irá ganhar mais.

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A favor: o conceito e a ideia geral da história, a atmosfera visual, a actriz principal, o design, a fotografia.
Contra: não vai a lado nenhum para além de ser um estudo sobre a solidão, as motivações dos personagens são por demais excêntricas, a protagonista é totalmente enervante, alguns diálogos são insuportáveis e irritantes como o raio, pode ser incrivelmente chato porque não nos identificamos com os personagens mesmo quando nos indentificamos com o seu vazio, os gatos não têm qualquer carísma o que é o pior que podia acontecer num filme supostamente sobre gatos também…

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt2246953

FILME COMPLETO
No Youtube – Legendado em Inglés.

 

Rent a cat (de verdade)
http://www.themoscowtimes.com/business/article/rent-a-cat-service-comes-to-kiev/487892.html

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Filmes de autor “semelhantes”

capinha_all-about-lily-chou-chou capinha_godbye_dragon_inn capinha_kamome_diner

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Cinema_oriental_no_facebook

 

Visage (Visage) Ming-liang Tsai (2009) China – Taiwan – França


A menor classificação que dei a um filme por aqui até hoje foi de 1 tigela de noodles, mas já há muito que eu  procurava por algo realmente abjecto que tivesse a honra de inaugurar a pior classificação de sempre neste blog.
Só que isto pedia alguns critérios; sim porque eu não poderia atribuir a pior classificação de sempre apenas porque um filme era mau. A coisa teria de ir para além do mau, até porque filmes maus é coisa que não falta por aí.

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Muitos inclusivamente já me passaram pela frente e eu nem sequer os mencionei por aqui, porque sempre achei que nem valia a pena perder tempo com eles. Eram simplesmente maus e pronto. Pode-se até dizer, foram insignificantemente maus e sendo assim também teria sido injusto para muitos se eu tivesse feito reviews sobre eles. Apenas porque se eu atribuísse a pior classificação de sempre neste blog a um deles, em breve muitos nas mesma condições também teriam de ser mencionados e classificados como tal, o que retiraria qualquer força posterior á pior classificação de sempre.

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Não. A pior classificação de sempre teria de ser realmente bem merecida e para isso não bastava um filme ser fraco, desinteressante, ou mau. Muito menos poderia ser baseado em qualquer obra potencialmente mal filmada, até porque como comprovei agora com o filme que irei referir de seguida, o – filmar bem – não é para aqui chamado, pois não garante de todo um bom filme. Na verdade, o que não falta por aí são filmes geniais precisamente por muitos deles estarem tão mal filmados, montados ou produzidos que depois se tornam divertidissimos.

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Sendo assim como atribuir a pior classificação de sempre neste blog a um filme ?
É simples. Trés conceitos.
– A capacidade para – estupfactar – (sim eu sei, inventei agora um verbo novo);
– A capacidade para aborrecer de morte até moscas que já faleceram no ano passado;
– A capacidade para ser irritante como o raio ! Mas irritante ao ponto de sentirmos vontade de esmurrar o realizador e obrigar os produtores a explicarem onde estavam com a cabeça quando investiram nisto !

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Mas acima de tudo, aliado a estes três factores, o filme ideal para receber a pior classificação de sempre por aqui teria de ser pretensioso como o “#$#%”$ ! Pretencioso ao nível de – tá aqui, tá a levar um estalo na cara !
Bem vindos a [“Visage”], outro filme do realizador de “Goodbye Dragon Inn”, que já tinha sido um produto estranho mas ao menos não tinha ainda atingido o nível de –“instalação artística” que supostamente esta obra prima agora almejou alcançar…e pelo visto para muito crítico iluminado por aí, alcançou mesmo.
Aliás, segundo certa crítica iluminada, parece que [“Visage”] é de uma genialidade insuperável. Um filme onde se filma os momentos mortos que ocorrem entre uma história em vez de se filmar a história própriamente dita, o que tem deixado muito intelectual de festival de cinema europeu extasiado.

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Não tenho nada contra o conceito. Por acaso é uma boa ideia e nas mãos de Hong Kar Way poderia ser absolutamente poético, só que o realizador Ming-Liang-Tsai não é de todo Hong-Kar-Way embora o trailer desta obra até aponte para algo dentro do género, o que devo confessar, me fez ficar bastante interessado no filme.
Curiosamente o realizador aqui nesta entrevista refere que ofereceu o papel principal feminino á actriz Maggie Cheung e não entende porque esta recusou entrar no filme !!! (?!) Jura… Porque será…
Ainda bem que este dvd me foi oferecido por uma amiga minha que sabendo do meu interesse por cinema oriental, decidiu procurar um dvd que eu ainda não tivesse visto. Acertou em cheio. Pelo menos, o trailer é altamente !
[“Visage”] foi possivelmente um dos filmes mais irritantes que alguma vez vi. Mais que cinema é essencialmente uma instalação artística de duas horas e meia e é dificil descrever por palavras o quão pretensiosa esta coisa é.

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Na primeira meia hora de filme, iniciamos a “história” com um plano de uma chávena de bica em cima de uma mesa de café onde durante mais ou menos cinco minutos ouvimos conversas casuais. Depois passamos para o interior de uma cozinha de um apartamento onde assistimos a um homem lavando a loiça quando rebenta um cano e em tempo real durante largos minutos de plano fixo, assistimos ás tentativas do senhor para impedir que a água se espalhe pela casa.
Seguidamente com a casa toda alagada, a cena muda para aquilo que supostamente será o quarto onde está a mãe do senhor acamada e quase catatónica. O senhor aproxima-se da mulher, destapa-lhe a barriga e começa a aplicar-lhe uma pomada durante mais um par de minutos, até á altura em que a mulher lhe agarra na mão, a coloca dentro das suas cuecas e começa a masturbar-se com a mão do filho.

Eu repito…
O senhor aproxima-se da mulher, destapa-lhe a barriga e começa a aplicar-lhe uma pomada durante mais um par de minutos, até á altura em que a mulher lhe agarra na mão, a coloca dentro das suas cuecas e começa a masturbar-se com a mão do filho.

Bem, o filme [“Visage”] está classificado como – comédia – por isso, acho que esta foi a parte para rir.

É arte.
É metáfora.
É poesia.
É subversão.
É um statement sobre a solidão na terceira idade.
É um filme porno para doentes de alzheimer.
É cinema !
É só rir !

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E o cinema continua…lembrem-se que o filme vai no inicio e faltam ainda duas horas de looooooooooooooooooooooooooooooooonga metragem para nos extasiarmos com:
Cenas na neve com gente a correr numa floresta á volta de espelhos; cenas na neve com gente numa floresta a dançar á volta de espelhos; cenas na neve com gente numa floresta a cantar canções espanholas (mexicanas, venezuelanas(?)) á volta de espelhos e finalmente cenas na cidade… não, estava a brincar; são mais cenas na neve com gente numa floresta a falar ao telémovel. Está bem, estou a exagerar…é só uma pessoa a falar ao telemóvel. Numa floresta…com neve…e espelhos.
Na secção cenas sem neve…ainda numa floresta, temos a excitante sequência onde a meio da noite sabe-se lá porquê o realizador tem um encontro tipo cruising com outro tipo atrás das moitas e … bom, vocês já estão a ver a ideia. Grande momento de tensão sexual aqui também. Deve ser a parte de suspanse do filme. Ou a parte romântica, tipo – amo-te muito, joga-me a boca fachavor que eu tenho de passar á próxima cena sem qualquer lógica depois deste interlúdio em que fazemos o amor nas moitas.
Só é pena não sabermos porque tudo isto acontece. Não é o pseudo-erotismo gay que irrita, mas sim a total ausência de contexto para a cena existir !
Por outro lado, veados não faltam neste filme também…nos sítios mais inesperados…deve ser surrealismo inteligente concerteza…

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Pelo meio, temos a Flabella do Astérix que entra neste filme para fazer de gaja boa a cantar, gaja boa a ser apalpada por outras gajas boas e gaja boa para tapar vidros e espelhos com fita cola preta em tempo real por várias vezes, cortando e colando fita a fita enquanto olhamos maravilhados para esta treta a acontecer; o que naturalmente será outra metáfora inteligente sobre a negação da beleza ou uma estupidez qualquer. Ou então não…isto sou eu a armar-me.
Duas horas depois percebemos que o filme tem algo a ver com o Louvre pois aparece uma cena em que alguém sai de uma das suas paredes por debaixo de um quadro. Algo me diz que essa cena foi inserida à pressão quando o realizador se lembrou que o museu do Louvre tinha financiado esta -obra de arte- e ele ainda nem sequer tinha colocado nenhuma cena passada no seu interior.
É que o financiamento do Louvre teve por base a produção de obras de arte que tivessem a ver com o próprio museu. Devem ter ficado extasiados de contentamento quando descobriram que a única referência ao local foi o realizador ter mostrado uma parede com um quadro. Bora lá filmar uma parede porque ninguém nota e assim o Louvre entra “na história”. Fascinante. Tanta Arte junta é verdadeiramente sublime.

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E quando percebemos que gastamos tempo precioso da nossa vida a contemplar esta obra de arte, ainda somos brindados com um final magnifico em duas partes. Na primeira o realizador do filme dentro do filme está dentro de um saco de plástico, numa banheira rodeado por porcos abatidos pendurados em ganchos de um talho e uma gaja boa em bikini despeja-lhe concentrado de tomate em cima. Teoricamente a simbolizar sangue, digo eu que também sou iluminado. Depois várias raparigas desnudas dançam e apalpam-se ao seu redor em estilo dança indiana eventualmente simbolizando a deusa Khali com vários braços ou algo assim…(daqui pouco também já posso ir aos festivais extasiar-me)…
A cena muda para mais uma câmera fixa onde se vê um lago de jardim com gente a passar durante alguns minutos, aparece outro veado e o filme rola os créditos finais.

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Isto ultrapassa em muito todo o lixo intelectualoide pretensamente surrealista que já foi inclusivamente produzido cá por Portugal, um país que durante anos foi especialista em produzir “obras” semelhantes a esta maravilha. Aliás , [“Visage”] é tão mau e ridículo que poderia ser perfeitamente mais uma produção portuguesa destinada a mais um daqueles festivais para clubes de amigos onde se perpétua este tipo de cinema para conhecedores gourmet e que habitualmente é também produzido aqui neste meu Portugal à beira mar naufragado.
Em Portugal já filmamos de tudo; desde relva a crescer em tempo real, velhos a contarem pintelhos e até filmes com telas pretas (sim meus amigos do Brasil, Portugal fez um filme onde a tela está preta durante mais de metade da narrativa e os “espectadores” (ou)viam o filme (no escuro) como se fosse um … audio-book. No cinema. Chama-se “Branca de Neve” (a sério); procurem, vão “adorar”…e não o vosso televisor não estará estragado. O écran é mesmo para estar negro o tempo todo)…Como não podia deixar de ser, foi mais um filme do produtor portuga Paulo Branco, especialista em sustentar génios do cinema nacional que gastam dinheiro a fazer “instalações” cá por estas bandas e [“Visage”] não destoaria de todo de uma dessas obras de arte.

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Repito, [“Visage”]  é tão mau que podia perfeitamente ser um filme português !
O problema aqui nem é a total inexistência de uma história, mas sim a subjectividade da narrativa. Atiram-nos com vinhetas aparentemente isoladas (que se esticam por demais no tempo) e nunca há um contexto para as coisas acontecerem. Qualquer cena em tom níilista poderia ser atirada para esta montagem que não se notaria diferença. Estou seriamente convencido que o argumentista e realizador disto terá um grave problema existêncial. Se calhar queria ser realizador em Portugal mas nasceu Chinês !
Supostamente isto é suposto ser sobre as filmagens de uma versão de “Salomé” que está a ser produzida por uma equipa de cinema em França tendo por realizador um tipo Tailandês e portanto a coisa estará cheia de metáforas a condizer que farão paralelo com a obra pretensamente em produção; mas meus amigos…isto simplesmente não resulta.
E não resulta apenas pela inexistência de um contexto para as coisas acontecerem, mas principalmente por causa da aura “Artsy” que emana de cada fotograma desta coisa, como se o importante fosse a criação artística no sentido mais hermético e pessoal e não o filme.
Onde claro, nem sequer faltam as inevitáveis referências literárias que são o próprio equivalente em prosa desta maravilha cinematográfica.
Alguém se esqueceu que o cinema supostamente deveria ser feito para os espectadores e não apenas para contemplar o umbigo do realizador…pensando bem, se calhar este Ming até terá uma costela Portuguesa e não sabe…
Essencialmente esta obra de arte, estaria bem melhor numa daquelas galerias podres de modernas do que numa sala de cinema.

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É que na verdade não é o facto de [“Visage”] ser cinema de autor que enerva. Enerva por ser precisamente por causa de instalações artísticas como esta que o cinema de autor tem o mau nome que tem junto de muito público por cá !
Se eu pela minha parte não suporto cinema americano estilo Michael Bay, X-Men e pastilhas elásticas que tais por serem o exemplo perfeito da comercialidade levada a extremos secantes e previsíveis onde desaparece toda a magia do cinema, também não suporto o seu extremo oposto no que toca a cinema fora do circuito comercial. Esta coisa do cinema de autor para certos génios, ter que parecer obrigatóriamente muito hermético, inteligente e cheio de simbolismo tem um efeito tão mau e desinteressante como Hollywood só produzir pastilhas elásticas previsíveis sem graça.

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Aquela ideia de que um lixo intelectualoide e pretensioso como [“Visage”] será automáticamente um produto superior à pior pastilha elástica Hollywoodiana é precisamente a razão porque coisas como esta ainda continuam a ser produzidas sabe-se lá com que apoios, porque na verdade tão mau é o pior blockbuster gringo quanto a pretensiosa instalação artística seja de que país fôr.
Depois vêm com a história do “surrealismo” como se essa treta fosse a desculpa para tudo e quem não gosta, é porque não atinge o conceito, etc, etc, etc.
O facto de [“Visage”] se colar a Fellini em certas alturas não nos faz abrir a boca maravilhados pela audácia da homenagem; faz ter vontade de partir o écran o tempo todo ! E olhem que eu gosto muito de Fellini. Mais uma vez, isto é mesmo dificil de explicar. Só vendo mesmo.
O facto é que isto não se torna mais inteligente porque mete a martelo referências a tudo o que supostamente será “Arte” conceituadíssima. Acho que até há por aqui um toque de cinema no estilo Ken Russel algures… a atmosfera gélida de muitas cenas pseudo-eróticas tem ali qualquer coisa de cinema -artístico- inglés também…

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Portanto…
Capacidade para “estupefactar” o espectador desprevenido…
CHECK !
Aborrecer de morte até quem já está a dormir…
CHECK !
Irritar como o raio quem ainda consegue estar acordado…
CHECK !
Ser insuportávelmente pretencioso…
CHECK, CHECK , CHECK !

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Vão me perguntar se esta coisa não tem coisas positivas…
Tem sim senhor. O problema disto não é a realização mas sim o próprio conceito. O filme contêm alguns bons momentos esporádicos em termos visuais e a maneira como usa a música está bastante interessante, o que em certas alturas parece que vai fazer o filme descolar para algo realmente surreal e despretensioso.
Infelizmente depois voltamos à realidade…
Se ainda estivermos acordados…ou o televisor estiver intacto.

De qualquer forma como eu não percebo nada disto, aproveito desde já para deixar aqui também um link para uma review de um senhor que parece saber do que fala, caso queiram espreitar outra opinião antes de confirmarem as minhas conclusões finais…

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CLASSIFICAÇÃO

Tão mau que não merece sequer qualquer comentário adicional apenas desprezo por irritar por demais. Definitivamente o pior filme oriental que já me passou pela frente.
Tão mau que parece cinema Português com tudo o que o cinema-de-autor portuga acarreta. [“Visage”] está a esse nível e por vezes ultrapassa-o.
Foi o segundo pior filme de autor que vi nesta onda pseudo-surrealista.
O primeiro prémio continua a ir para um filme português de que um destes dias ainda falarei noutro blog, quando o tentar rever…

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Relembro que este [Visage] está classificado como – COMÉDIA… o que deve ser a única piada ligada ao filme… a não ser que a cena de incesto seja cómica e eu não apanhei o humor da coisa.

ZERO TIGELAS DE NOODLES

A favor: O trailer faz lembrar o melhor de um cruzamento entre uma homenagem a Fellini e o estilo Hong Kar Way na forma como usa a música; banda sonora com canções hipnóticas que dão um certo charme ao filme mas dura pouco.

Contra: Não passa de uma enorme e insuportável instalação artística cinematográfica ao pior nível, a total abstracção e subjectividade das sequências evidencia em demasia o esforço para mostrar o quanto este argumento será inteligente durante o tempo todo, é longo como o raio e parece maior por causa das típicas cenas onde se pode ficar a ver a relva a crescer durante dez minutos sem qualquer razão para isso…metafóricamente falando que eu também me quero armar em iluminado. Tenta ser subversivo e chocar pelo sexo mas depois nunca tem coragem suficiente para ir mais longe e fica a meio caminho entre um erotismo sem nexo e um porno que nunca foi feito, a fragmentação episódica da narrativa é absolutamente enervante, está cheio de diálogos que não servem para nada… a não ser que sejam -arte- e eu não tenha notado…Total desperdício dos excelentes actores franceses que sabe-se lá porque carga de água aceitaram participar nesta estupidez, consta que é uma comédia.

AVISO: Este filme pode prejudicar gravemente a vossa intenção de dar uma oportunidade ao cinema de autor. Não deixem que esta -obra de arte- os impressione, pois há cinema de autor muito divertido e empolgante. Se quiserem dar uma oportunidade ao género recomendo que comecem pelo cinema de Wong Kar Way pois actualmente é uma boa entrada. Ou então espreitem um Fellini dos anos 70 que é sempre bem mais divertido do que esta imitação imbecil e descaracterizada.

Se tiverem mesmo que ver isto, então recomendo que antes para se prepararem psicológicamente espreitem o bastante mais interessante “Goodbye Dragon Inn” do mesmo realizador e que embora não deixe de ser uma seca descomunal, ao menos não tem a aura pretenciosa de [“Visage”].

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NOTAS ADICIONAIS:

Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=uQJRR7OxnC8

Visage03

Comprar na FNAC portuguesa
http://www.fnac.pt/Face-Visage-sem-especificar/a670634

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt1262420

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