Kamome shokudô (Kamome Diner) Naoko Ogigami (2006) Japão


Para comemorar as 100.000 visitas que este blog atingiu recentemente não poderia ter encontrado melhor titulo oriental do que [“Kamome Diner“] , um curioso e cativante filme japonês rodado na Finlândia e onde não se passa nada durante 90 minutos.

E quando digo que não se passa nada, não se passa mesmo nada.
[“Kamome Diner“]  faz com que “Where the Wind Dwels” e “Goodbye Dragon Inn” pareçam intrigas de espionagem e é um daqueles filmes que logo á partida parece ser o candidato ideal para todos aqueles clichés hilariantes sobre cinema-de-autor. Não será um daqueles filmes sobre relva a crescer porque na realidade, se houvesse relva a crescer nesta história, tanta tensão dramática poderia até provocar ataques de ansiedade no espectador desprevenido.

Há muito tempo que não encontrava pela frente um filme tão desprovido de qualquer drama ou tensão quanto [“Kamome Diner“]. É absolutamente incrivel mas não há nada neste filme daquilo que possa ser considerado parte de uma estrutura habitual tal é a ausência de pormenores na sua narrativa.
Então isto é sobre o quê ? Bem é sobre uma rapariga japonesa que tem restaurante na Finlandia onde ninguém vai e que ao longo do filme conhece umas pessoas que se tornam empregadas ou clientes e no final acabam por transformar o espaço num local acolhedor. Acabou.

Pronto, pelo meio há uns indicios de – desenvolvimentos – mas são tão desprovidos de qualquer carga dramática que deixam o espectador totalmente desorientado, tanto pelo que (não) acontece, como pelas razões porque os…ehm…acontecimentos… (não) acontecem .
Acreditem-me, este deve ser o texto mais dificil que escrevi até hoje aqui no blog, porque na verdade á primeira vista não há nada para dizer sobre [“Kamome Diner“] que seja minimamente informativo.
Spoilers não existem, porque para se poder estragar um filme ao espectador primeiro era preciso que houvesse alguma coisa para revelar sobre a história.

Por outro lado, há muita coisa que se  pode dizer sobre  este vazio…[“Kamome Diner“] é um filme totalmente cativante e não se sabe bem porquê. Cheguei a meio e continuava cheio de vontade de acompanhar … esta história
O filme acabou e continuei sem perceber o que raio é que foi que me passou pela frente; no entanto estranhamente gostei muito do que vi, embora lá para o final já estivesse a olhar para ele em total estado hipnótico e quase á beira de cair para o lado com sono. Poderiam ter assaltado a casa comigo a olhar para a televisão que eu não notaria.

A verdade é que [“Kamome Diner“] é um filme extraordináriamente simpático como há muito não via. A total ausência de dramatismo ou de história torna-se absolutamente cativante e apetece-nos continuar a seguir as vidas daqueles personagens, quanto mais não seja porque ficamos muito curiosos com a direcção que o filme poderá tomar.
Não se iludam, não toma qualquer direcção.
No entanto, não se preocupem porque se conseguirem deixar ideias pré-concebidas de lado e interiorizarem que o grande charme desta história é não ter história nenhuma, muito provavelmente irão gostar tanto deste pequeno filme quanto eu gostei.

Se calhar é cinema-de-autor, se calhar é pretencioso como o raio, mas a verdade é que não se nota. A atmosfera do filme é tão simpática que a certa altura damos connosco a ter vontade de apanhar um bilhete para a Finlândia e ir visitar aquele local onde nunca se passa nada, porque a sua ausência de dramatismo é quase como uma espécie de pausa para descansar da vida diária. Uma espécie de Eden onde se pode fazer uma pausa nas nossas preocupações. Provavelmente será este o tema da história; provavelmente [“Kamome Diner“] será um dos filmes mais filosóficamente simpáticos dos ultimos anos pois não espetando qualquer conceito na nossa cara é tão aberto que qualquer pessoa pode interpretá-lo como quiser e provavelmente será essa a sua magia.

Por outro lado, pode tornar-se surporifero como o raio, por isso também será ideal para aquelas noites de insónia. No entanto essa atmosfera de comprimido para dormir é ao mesmo tempo cativante e se calhar contraditóriamente a mesma irá contribuir para mantê-los acordados. Faz sentido ?…
Não se preocupem, [“Kamome Diner“] também não.
É que o filme é chato como o caraças…mas ao mesmo tempo…não é. Confusos ? Eu também.

O que o filme tem é muito boa onda graças a um grupo de personagens estranhamente vazios mas ao mesmo tempo muito humanos e cativantes (sabe-se lá porquê).
A certa altura parece que irá entrar por um registo parecido ao que encontramos nos livros do fabuloso escritor japonês Haruki Murakami, pois tem momentos surrealistas bem ao estilo do autor. Por outro lado, o seu aparente vazio, também parece decalcado do melhor que se viu noutro pequeno grande filme independente americano e com uma atmosfera semelhante, o fabuloso (e fabulosamente esquecido), “The Station Agent” (em Portugal “A Estação“).

Visualmente, [“Kamome Diner“] é totalmente cativante pelo seu brilho. É um filme muito luminoso, com uma fotografia fantástica e cheio de pequenas imagens muito bonitas que contribuem bastante para a atmosfera contemplativa da história.
A banda sonora quase não se nota, mas também contribui bastante para o ambiente discreto do filme.
O elenco é uma mistura de actores japoneses e finlandeses que aparentemente não têm nada em comum, muito menos parecem ter alguma coisa para fazer no filme, mas que no entanto contribuem totalmente para o carísma da história, pois os personagens são estranhamente apelativos a tal ponto que até os figurantes parecem perfeitamente integrados nos espaços.

Essencialmente é isto o que se pode dizer sobre [“Kamome Diner“].
É um filme muito simpático que vale a pena espreitarem se estiverem á procura de uma proposta diferente.

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CLASSIFICAÇÃO:

Se estiverem á procura de um drama, esqueçam. Se estiverem á procura de uma comédia esqueçam.
No entanto há algo aqui que resulta em termos emocionais e que nos consegue cativar sem sabermos bem porquê.
Será o filme perfeito para quem nunca viu algo mais dentro do cinema-de-autor e quer espreitar um titulo simpático e sem pretenções a filme inteligente. Será também o filme perfeito para uma noite de insónia; no entanto…não é um filme chato…apenas não se passa nada…por outro lado é essa ausência de acontecimentos que o torna cativante e sendo assim já perceberam que até eu estou baralhado.
Essencialmente recomenda-se a quem quiser ver um filme totalmente simpático e muito boa onda sabe-se lá porquê.
Quatro tigleas de noodles pois é estranhamente muito bom e se calhar muito menos vazio do que aparenta á primeira vista, pois no fim de contas é um pequeno grande filme sobre amizade. Sem rodeios, intrigas, ou dramatismos de pacotilha. Um filme sobre amigos apenas e se calhar chega perfeitamente para ser um pequeno grande filme que merece ser descoberto por quem procura algo diferente e não tem receio de um filme calminho. Gostei.

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A favor: a originalidade da estrutura da história, o conceito simples, personagens cativantes, atmosfera luminosa e muito simpática, se calhar será bem menos vazio do que aparenta pois a total ausência de carga dramática acaba por o tornar numa história bem mais humana do que aparenta á primeira vista, é um pequeno grande filme sobre amizade, a ser cinema-de-autor é um titulo muito despretencioso que não assustará quem tem medo do género.
Contra: na verdade não tem nada de negativo…as motivações dos personagens nunca são explicadas, não acontece grande coisa na história mas se calhar é isso que torna o filme tão curioso e especial.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer
http://www.youtube.com/watch?v=HHA6PEcM7Gw&feature=youtu.be

Comprar
Muito dificil de ser encontrado nas lojas a um preço decente mas podem comprá-lo no Ebay bem baratinho.

Download aqui com legendas PT/Br

IMDB
http://www.imdb.com/title/tt0483022

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Se gostou, poderá gostar de:
* Na verdade não tenho nada semelhante neste blog*
Talvez gostem de “The Station Agent” um simpático filme independente americano que também recomendo vivamente e que tem algumas semelhanças com este Kamome Diner.

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