Siworae ( Il Mare ) Hyun-seung Lee ( 2000 ) Coreia do Sul


Mais de metade das pessoas que chegam a este blog, fazem-no pesquisando nos motores de busca pela expressão – “filme romântico japonês”, ou através de frases semelhantes.
Como o cinema oriental romântico não tem qualquer divulgação no nosso país será lógico assumir que este interesse das pessoas é essencialmente fruto de um “passa-a-palavra” por entre aqueles que o descobriram e agora procuram mais da mesma poesia e originalidade que já não existe no cinema romântico de Hollywood mas que os asiáticos parecem produzir cada vez melhor e do qual [“Il Mare“] é um exemplo perfeito.

Isto porque um bom filme romântico oriental é muito mais do que a banal telenovela, pirosa, formulática e cheia de nomes sonantes Holywoodescos que passa habitualmente por romance aos olhos do público ocidental que não conhece mais nada.
Sendo assim, porque bons filmes orientais não faltam e porque muita gente parece estar interessada em cinema romântico, vou continuar a recomendar aqueles que na minha opinião são filmes obrigatórios.
E nada melhor do que lhes apresentar o que para mim é não só um dos melhores filmes orientais que poderão encontrar mas acima de tudo uma das grandes obras primas do cinema romântico em qualquer parte do mundo.
Bem-vindos a [“Il Mare“].

[“Il Mare“] foi o filme que me fez ficar a gostar mesmo de cinema oriental e é definitivamente um dos meus filmes românticos favoritos.
Na verdade, para mim existem pelo menos oito filmes absolutamente imprescindíveis dentro do cinema asiático do género; “My Sassy Girl“, “The Classic“, “Be With You“, “In The Mood For Love“, “Fly me to Polaris”, “My Blueberry Nights“, “2046” e [“Il Mare“].
Quem quiser ter uma excelente introdução ao bom cinema romântico que se faz do outro lado do mundo, não pode de forma alguma perder qualquer um destes filmes. Nos seus estilos mais diversos resumem bem a versatilidade, criatividade e principalmente a alma e a poesia que pode haver neste género cinematográfico mas que há tantos anos anda muito longe dos produtos fabricados em Hollywood.

[“Il Mare“], tem logo á partida, outra característica curiosa. Na minha opinião é o perfeito exemplo de que o chamado Cinema de Autor, não tem necessáriamente que significar – filme secante para intelectuais – e pode ser um excelente filme comercial sem no entanto perder a sua identidade muito pessoal e intimista.
Neste caso, estamos perante uma história de amor de contornos não só extremamente poéticos, mas também com uma pitada de ficção-cientifica plenamente baseada na String Theory.
Mas não se preocupem, aqueles que já estão a torcer o nariz. [“Il Mare“], não é um filme de ficção-científica pois o facto da sua história contar de certa forma com universos paralelos e viagens através do tempo, essa vertente nunca é o ponto central da narrativa e nem sequer é explicada ao espectador. Apenas nos é pedido para entrarmos no conceito e deixar-mo-nos levar pelo seu resultado poético e emocional e pela forma como os personagens são afectados pelos acontecimentos inexplicáveis que lhes permite desenvolver a sua história de amor.

Como resumir então [“Il Mare“], sem estragar a magia da descoberta a quem ainda não o viu…
Basicamente conta a história de duas pessoas que vivem separadas por dois anos. O rapaz vive em 1998 e a rapariga em 2000 mas ambos trocam correspondência através de uma mágica (?) caixa do correio que se situa á entrada de uma casa de praia chamada precisamente “Il Mare”.
Não há qualquer exlicação para esse acontecimento (nem interessa) e apenas ficamos a saber que os dois protagonistas conseguem comunicar através daquilo que colocam na caixa de correio e que misteriosamente é transportado de um lado para o outro atravessando o tempo ao longo de dois anos até á respectiva data no calendário em que cada um deles vive.
Inicialmente ambos viveram na mesma casa mas em alturas diferentes. O rapaz viveu em “Il Mare” entre 1997 e 1999 e a rapariga entre 99 e o início do ano 2000 quando ele já lá não habitava, altura em que depois se mudou para a cidade para estar perto do seu emprego como actriz de vozes para Anime.
Ambos têm um passado marcado por mágoas na sua vida, a rapariga continua apaixonada pelo ex-namorado que a deixou por outra pessoa e o mesmo acontece com o rapaz que também perdeu a namorada por um motivo semelhante.

Através da caixa de correio, estabelecem então uma relação de amizade que aos poucos se transforma em amor, até que um dia combinam encontrar-se cara-a-cara numa praia deserta algures numa ilha da Coreia do Sul. Para a rapariga, o dia do encontro será na próxima semana a contar do seu calendário de 2000, mas para o rapaz esse dia no seu calendário de 1998 ainda está a dois anos de distância,  o que cria desde logo uma das situações mais interessantes do filme e que não pretendo agora aqui revelar como se desenvolve pois estaria a estragar a descoberta dos pormenores mais mágicos e emocionais desta original e muito poética história de amor.
Só posso dizer que vão adorar a maneira como  [“Il Mare“], usa os paradoxos temporais para criar situações românticas verdadeiramente bonitas e muito atmosféricas que os fará certamente apreciar tanto este filme quanto eu se embarcarem no seu conceito e se identificarem com os personagens.

Ao mesmo tempo que é ligeiro na sua abordagem narrativa, [“Il Mare“] é no entanto um filme extremamente intímista, carregado de paisagens interiores que são plenamente traduzidas visualmente na associação gráfica que o realizador constroi usando a imagem da mágnifica e original casa de praia denominada precisamente “Il Mare” e que serve de ligação não só entre o romance dos personagens mas principalmente entre as suas emoções.
[“Il Mare“], é por isso um filme de poucas palavras. Aqui os personagens não precisam passar o enredo todo a dizer que se amam muito como acontece nas banais pseudo-histórias de amor americanas.
Na verdade [“Il Mare“] é construído com base nos silêncios e no que não é dito, mas que compreendemos perfeitamente graças ao extraordinário trabalho do realizador que nos transmite visualmente tudo o que não precisa de ser descrito por palavras.
Esta é uma das grandes razões porque este filme funciona tão bem a um nível emocional, pois faz-nos sentir e compreender o que os personagens sentem sem ter que passar o tempo todo em truques melodramáticos de pacotilha telenovelística para conquistar o espectador.

Mas não esperem encontrar aqui o típico filme de autor secante para intelectuais de café.
[“Il Mare“], está cheio de metáforas visuais, mas tudo é colocado de uma forma directa ao sabor do argumento e para servir a história da forma menos chata possível, o que não deixa de ser um feito pois o filme tem realmente uma atmosfera calma e muito relaxante ao mesmo tempo que não nos larga até á sua conclusão.

É também, talvez um dos filmes que melhor aborda o tema do isolamento e da solidão nas grandes cidades sem entrar por caminhos deprimentes ou pretenciosos. Sempre de uma forma subliminarmente séria e muito poética que nos deixa a pensar embalados pelo seu ambiente hipnótico e contemplativo muito suportado também pela extraordinária música presente em todo o filme.
A combinação música/imagem ás vezes faz até lembrar os momentos mais poéticos de Blade Runner no que toca a uma criação de atmosfera de solidão ilustrada de uma forma que chega a ser bonita apesar de nos fazer pensar em muito mais do que esperaríamos quando julgavamos que iamos apenas ver um banal filme romântico, coisa que [“Il Mare“] não é.

Um dos grandes trunfos na criação deste ambiente está também na extraordinária banda sonora composta por originais de Jazz made-in-Coreia do Sul e que se adaptam perfeitamente a cada fotograma criando uma atmosfera única que complementa perfeitamente todo a poesia visual e também cada emoção que percorre o filme.
Conseguindo inclusivamente numa questão de segundos passar de um momento dramático a um tom mais ligeiro sem perder identidade, transmitir saudade, melancolia ou alegria como no caso da cena dos noodles que liga os dois personagens na mesma actividade embora separados por dois anos no calendário.

Como tal o que há a dizer mais sobre este pequeno grande filme ?…
Foi um fracasso de bilheteira monumental na Coreia do Sul quando estreou. Essencialmente devido á sua campanha de marketing atroz que já ficou como um exemplo da maneira de como um filme não deve ser publicitado. Teve um trailer oficial tão mau, mas tão mau que afastou o público todo do filme ainda este não tinha sequer estreado. Graças ao trailer oficial que não tem absolutamente nada a ver com a verdadeira atmosfera do filme, as salas de cinema ficaram ás moscas, porque as pessoas pensaram que [“Il Mare“] seria um melodrama estilo cinema-de-autor intelectualoide a atirar para o deprimente e não um filme tão romântico e simples como mais tarde toda a gente descobriu que afinal este era.
Entretanto tornou-se um enorme sucesso de vendas em dvd por aqueles lados do oriente e um verdadeiro filme de culto, pois tal como em Blade Runner as pessoas foram-no descobrindo e recomendando aos amigos que por sua vez o recomendaram a outros amigos e assim por diante, tornando este filme tão popular que até os americanos compraram os direitos para fazer um dos piores remakes de filmes orientais de que há memória, com o nome “The Lake House”; onde destruiram por completo a poesia da obra original e a deixaram sem o mínimo vestígio da magia que tem nesta primeira versão Sul-Coreana.
Está nos meus planos em breve colocar aqui uma review de comparação entre a versão original e a desgraça Americana, assim que preparar o cérebro e a paciência para conseguir rever o remake.

Entretanto, passemos á frente.

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CLASSIFICAÇÃO:

Poético, original e uma obra prima do cinema romântico que ninguém interessado no género pode ficar sem ver.
Completamente imprescindível para quem não tem medo de ver um filme calmo onde a atmosfera faz o filme. Recomendo o uso de um bom sistema surround para tirarem realmente partido do filme, pois a música em [“Il Mare“] é absolutamente essencial.
Bom filme também para quem se interessa por univeros paralelos e String Theory, apesar de não ser uma obra de ficção-científica.
Cinco tigelas de noodles e um Golden Award como selo de absoluta qualidade.
Mais um filme que rebenta a escala.

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A favor: tudo, poesia, personagens, ambiente, banda sonora, romantismo, fotografia, realização, inteligência de argumento, a maneira como a música é usada, a estética das imagens, o design de produção, o equilíbrio perfeito entre o cinema-de-autor e o cinema comercial, é um filme calmo sem ser chato.
Contra: contra ?!…Só se for o trailer original que é absolutamente enigmático e não tem absolutamente nada a ver com o filme. [“Il Mare“], também pode ser muito calmo para quem estiver demasiado habituado ao cinema americano ou procurar uma telenovela com tudo explicadinho, pois aqui neste filme não há vilões, perseguições, traições ou triangulos amorosos de pacotilha.

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NOTAS ADICIONAIS

Trailer:
Na falta de um trailer decente, felizmente existe um videoclip que reproduz fielmente a verdadeira atmosfera do filme e embora contenha uns *spoilers* menores recomendo mesmo que o vejam.
http://www.youtube.com/watch?v=2aLttFT27K4
Se gostarem da atmosfera do teledisco, comprem o dvd pois o filme é exactamente assim.

No entanto, o trailer japonês também capta bem o ambiente e é bem melhor que o trailer original.

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Comprar:
Devido ao sucesso que foi obtendo de forma muito gradual e talvez ao facto de ter sido um fracasso nas salas Sul-Coreanas quando estreou, [“Il Mare“] foi inicialmente lançado em dvd de uma forma não muito profissional, pois pelo visto ninguém dava nada pelo filme.
Por causa disto practicamente todas as cópias que existem no mercado asiático têm problemas, ou de imagem ou de legendagem.
Ao longo do tempo tenho colecionado edições do filme na esperança de que da próxima vez é que alguém resolva lançá-lo nas condições que merece por isso posso dar-vos uma ideia do que poderão encontrar á venda se o quiserem comprar.

Apesar da sua legendagem inacreditávelmente amadora, a minha edição favorita deste filme é a edição simples Chinesa
A imagem não é anamórfica, contém alguns artefactos, mas é no formato widescreen original o que mantém a beleza dos enquandramentos intactos, tal como foram pensados pelo realizador e se há uma coisa de que este filme não tem falta é de imagens bonitas por isso gosto muito deste dvd chinês apesar de todas as suas falhas.
O som 5.1 é muito bom e o DTS é na minha opinião fantástico pois aproveita plenamente a banda-sonora do filme criando uma experiência tridimensional sonora absolutamente perfeita.
A legendagem em inglés é uma anedota.
O inglés de quem traduziu o filme é no mínimo duvidoso (cómico) e grande parte das frases nas legendas não cabem no ecran o que dá origem a uma quantidade enorme de expressões que terminam subitamente sem deixar rasto. Se isto pode parecer problemático, não se preocupem. O que está escrito dá perfeitamente para compreendermos a intenção e o sentido dos diálogos e não é por isso que vão deixar de disfrutar deste filme.
Penso que já não a encontram com a capa inicial (e caixa de cartão), mas podem adquirir a nova edição do mesmo disco aqui em embalagem normal.
http://www.play-asia.com/paOS-13-71-7j-49-en-15-il+mare-70-ckk.html

Depois desta edição inicial, devido ao sucesso das vendas, surgiu no mercado mais outra edição chinesa. Neste caso adaptada da versão original Coreana e que de novo trouxe uma caixinha toda atmosférica em cartão grosso com um fecho magnético e um grafismo já mais bonito embora tão esquisito quanto os novos e estéticamente amadores menus que também trouxe de novo.
A imagem desta vez já não é em letterbox mas preenche agora todo o ecran. Embora não esteja cortada, pessoalmente eu não gosto de ver as imagens assim pois parece que os enquadramentos perderam a magia e a grandiosidade com que foram originalmente concebidos.
É uma edição de dois discos com bastantes extras (e que parecem mesmo interessantes), mas infelizmente apenas o filme está legendado em inglés e por isso não podemos disfrutar devidamente do conteúdo adicional, o que é pena pois o making of é excelente mesmo totalmente em Coreano.
Penso que esta já nem se encontra á venda por isso não coloco aqui qualquer link.

Por último há ainda outra edição especial em 3 discos, da imagem acima, que na práctica é a exactamente a mesma edição que referi atrás, mas agora com uma bonita e muito cuidada nova embalagem.
Esta edição (que já está quase esgotada em todo o lado), tem ainda um bonús imprescindível para quem gostou do filme, pois contém um CD com toda a banda sonora de [“Il Mare“].
O que nos coloca num dilema…pessoalmente recomendo a básica (e má) edição chinesa inicial porque apesar de tudo mantém o formato de ecran original em que o filme foi fotografado, mas por outro lado…vocês querem mesmo ter esta bonita caixinha com os 3 discos. Acreditem-me.

Aproveitem agora que o dollar está baixo e façam como eu, comprem as duas. E aconselho-vos a ser rápidos se ainda quiserem o CD da banda sonora.
Curiosamente o melhor local para se comprar esta edição actualmente é na Amazon americana. Seller de confiança e preço porreiro. Até porque apesar de na caixa dizer que os dvds são região 3, na verdade esta edição está livre de qualquer região, sendo portanto região ZERO e caso não possuam um leitor multi-regiões poderão na mesma ver este filme indispensável.

DOWNLOAD AQUI com legendas em PT/Br

OST original para download

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0282599/

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Filmes semelhantes de que certamente irão gostar:

Be With You My Sassy Girl Love Phobia The Classic Fly me to Polaris

ditto_capinha_73x

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34 thoughts on “Siworae ( Il Mare ) Hyun-seung Lee ( 2000 ) Coreia do Sul

  1. Gostaria de parabenisar o dono deste blog por presentiar os internaltas com tantas raridades outrora inacesiveis no Brasil.E oportunamente gostaria de implorar para que você poste o filme japonês mais lindo que eu ja vi “dolls” de takeshi kitano.Desde já agradeço.
    Fabiola Assis

    1. Oi, obrigado pelos elogios. Ainda não vi o “Dolls” do Kitano. Mas vou colocar na lista.
      Fiquei um bocado farto dos filmes de gangsters dele e por isso passei o “Dolls” mas já que recomendas, vou espreitar e depois logo digo qualquer coisa. 😉

  2. Vi este filme recentemente e gostei demais, sem dúvidas é uma obra prima do cinema coreano. Esse eu gostaria de ter original e emprestar (a cópia, é claro) para meus amigos assistirem, já que por estas bandas brasileiras não encontrei em locadora.

    1. Não conheço nenhuma edição no Brasil, mas posso estar errado.
      Recomendo mesmo a edição especial com o cd da banda sonora se ainda a conseguires encontrar na amazon. Região 0.

  3. Esse filme é um dos meus Melhores filmes de romance oriental. Nem precisa entrar no detalhe do porque a caixa do correio faz aquela mágica da “máquina do tempo”. Para se ter a idéia, esse filme fez maior sucesso lá na Ásia, os Hollywoodianos tentaram fazer a mesma coisa por aqui fazendo o casal Sandra Bulock e Keane Reaves no papel principal. Resultado: Não fez taaaanto sucesso assim. Muita gente até esqueceu que “A Casa da Ilha” existe. Esses coreanos são do Outro mundo. São genios demais em seus enredos. E Parabéns pelo Blog! Fiquei viciado nele, e estou descubrindo vários filmes que eu coloquei na minha lista para buscar e assisitir

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